Ciência

Carta de Einstein negando existência de Deus pode alcançar US$ 1,5 milhão

"A palavra de Deus não é para mim nada além da expressão e produto da fraqueza humana", afirma o físico em documento

Albert Einstein: carta de uma página e meia escrita em 1954, um ano antes da morte do físico,será leiloada pela Christie's em Nova York em dezembro (Albert Einstein/Reprodução)

Albert Einstein: carta de uma página e meia escrita em 1954, um ano antes da morte do físico,será leiloada pela Christie's em Nova York em dezembro (Albert Einstein/Reprodução)

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AFP

Publicado em 3 de outubro de 2018 às 20h52.

Einstein disse certa vez que "Deus não joga dados", e, apesar de alguns acharem que ele era religioso, uma de suas cartas, na qual o cientista define Deus como o "produto da fraqueza humana", pode ser leiloada por 1,5 milhão de dólares.

De 1954, um ano antes da morte do físico aos 76 anos, a carta está em alemão e foi escrita por Albert Einstein em Princeton, Nova Jersey, para o filósofo judeu alemão Eric Gutkind, em resposta a seu livro "Escolha a vida: o apelo bíblico pela revolta".

"A palavra de Deus não é para mim nada além da expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia uma coleção de lendas veneráveis mas ainda bastante primitivas", escreve o físico que alcançou a fama com sua teoria da relatividade.

"Nenhuma interpretação, não importa quão sutil, pode mudar nada disso", acrescenta o vencedor do prêmio Nobel de Física de 1921.

A carta de uma página e meia será leiloada pela Christie's em Nova York em 4 de dezembro. Seu valor é estimado em entre 1 milhão e 1,5 milhão de dólares.

Antes foi oferecida em leilão em 2008, e comprada por um colecionador privado por 404 mil dólares, disse a Christie's.

"É uma das declarações definitivas no debate de ciência versus religião", disse Peter Klarnet, especialista em livros e manuscritos na casa de leilões.

Filho de judeus asquenazes, Einstein fugiu da Alemanha para os Estados Unidos aos 54 anos, quando Adolf Hitler chegou ao poder. Em sua carta, afirma que o judaísmo não é superior a outras religiões e que os judeus não são o povo escolhido.

"Para mim a religião judaica não adulterada é, como todas as outras religiões, uma encarnação da superstição primitiva", escreve Einstein a Gutkind.

"E o povo judeu, ao qual com muito prazer pertenço, e em cuja mentalidade me sinto profundamente ancorado, ainda para mim não tem nenhum tipo de dignidade diferente dos outros povos", diz o físico, que além de ser alemão, obteve as nacionalidades suíça, austríaca e americana.

"Na minha experiência, não são de fato melhores que outros grupos humanos, inclusive se estão protegidos dos piores excessos por uma falta de poder. De outra forma não posso perceber nada 'escolhido' sobre eles".

Em outubro passado, uma nota que Einstein deu a um mensageiro em Tóquio que descrevia brevemente sua teoria sobre uma vida feliz foi vendida em um leilão em Jerusalém por 1,56 milhão de dólares.

"Embora cartas e manuscritos de Einstein apareçam com certa frequência em leilões, aquelas de importância e significado são raras", disse Klarnet. "Em um sentido amplo, é similar à carta de 1939 ao (então presidente americano) Franklin Delano Roosevelt advertindo dos esforços da Alemanha para construir a bomba, que vendemos por dois milhões em 2002, e que pode ser vista como o arauto da era nuclear", acrescentou.

A carta sobre Deus já foi exibida em Xangai e o público poderá vê-la em Nova York de 30 de novembro a 3 de dezembro.

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