Ciência

Canabidiol pode reduzir problemas nos pulmões de infectados por covid-19

Testes feitos em animais por uma universidade americana mostram que o canabidiol pode ajudar a melhorar casos do novo coronavírus

CBD: componente não psicoativo da cannabis é estudado em diversas frentes na saúde (Jens Kalaene/Getty Images)

CBD: componente não psicoativo da cannabis é estudado em diversas frentes na saúde (Jens Kalaene/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 19 de outubro de 2020 às 08h51.

Última atualização em 29 de outubro de 2020 às 16h36.

Uma pesquisa feita pela universidade pública de Augusta, nos Estados Unidos, apontou que o canabidiol (ou CBD, componente não psicoativo da cannabis) pode ajudar a reduzir os riscos e prejuízos causados pela tempestade de citocina em casos do novo coronavírus. A tempestade de citocina em casos de covid-19 faz com que o sistema imunológico entre em colapso logo no começo dos sintomas e causa essa hiper-reação, capaz de prejudicar severamente os pulmões e levar a problemas respiratórios sérios e até à morte.

A reação exagerada pode acontecer em qualquer idade, mas é menos comum em crianças e adolescentes, e acontece quando o corpo humano continua a batalhar contra o vírus mesmo quando ele deixa de ser uma ameaça, liberando essas citocinas até que o indivíduo chega a um nível exaustivo e seu sistema colapsa. No fim, é ela que causa a morte em vez do vírus, atacando diversos órgãos, como os pulmões e os rins.

Segundo os pesquisadores, a CBD atua contra a tempestade e permite que os níveis naturais da apelina, peptídeo responsável pela diminuição de inflamações, sejam restaurados. Além disso, a CBD também conseguiu melhorar os níveis de oxigênio, reduzir a inflamação e também os danos físicos em modelos de pulmões de laboratório e em camundongos.

Os animais foram divididos em três grupos experimentais, com dez camundongos por grupos, sendo que o primeiro grupo recebeu uma dose intranasal e salina da CBD por três dias, o segundo recebeu uma versão intranasal de Poly I:C, também por três dias, e o grupo três recebeu a Poly I:C por três dias de forma intranasal, mas também teve uma dose de CBD administrada de forma intraperitoneal.

"A apelina é um peptídeo feito de células do coração, do pulmão, do cérebro, de tecidos de gordura e do sangue, e é um regulador importante para reduzir a pressão sanguínea e a inflamação", explica Babak Baban, um dos autores da pesquisa.

O estudo mostra que os níveis sanguíneos do peptídeo foi reduzido a quase zero no modelo laboratorial sem o tratamento com o canabidiol, enquanto o tratamento com o componente aumentou os níveis de sangue em até 20 vezes, fazendo com que ele "quase voltasse ao normal", como explicam os cientistas.

A questão, para os pesquisadores, é que o vírus entra nas células humanas por meio da enzima conversora da angiotensina (ECA2), que têm características em comum com a apelina, como o fato de estarem presentes em diversos tecidos e células, como as pulmonares, e normalmente trabalham juntas para controlar a pressão sanguínea. "É fato que a apelina e o ECA2 trabalham juntos para regular um sistema cardiovascular saudável e que eles são fatores importantes em muitas condições, como obesidade e hipertensão", diz Baban.

Apesar da descoberta, os cientistas não necessariamente atribuem os benefícios da CBD diretamente à apelina, embora o componente tenha um "papel importante" no cenário analisado por eles. Os pesquisadores também ressaltam que não sabem se "o coronavírus, ou a CBD, tem um efeito direto na apelina, ou se são apenas consequências" e novos estudos devem ser realizados para responder a essas perguntas.

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