Ciência

Camponês vietnamita garante não dormir há mais de 40 anos

A vida de Hai Ngoc, 75 anos, quase não mudou desde que, em um dia de 1975 deixou de dormir para sempre.

O camponês mantém uma invejável saúde que lhe permite sair para lavrar quase diariamente. (./Reprodução)

O camponês mantém uma invejável saúde que lhe permite sair para lavrar quase diariamente. (./Reprodução)

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EFE

Publicado em 26 de novembro de 2017 às 15h35.

Que Trung (Vietnã) - Segundo a ciência, é impossível o corpo humano aguentar mais do que alguns dias sem dormir, mas o camponês vietnamita Hai Ngoc, de 75 anos, afirma que não dorme há 42 anos.

A vida de Ngoc, cuja história foi divulgada várias vezes na imprensa e na televisão vietnamita e aparece mencionada em um blog da revista National Geographic, quase não mudou desde que, em um dia de 1975 deixou de dormir para sempre.

"Não lembro a data porque não dei importância. Acreditava que era algo passageiro, mas foram se passando os dias, e eu continuava sem poder dormir", contou ele à Agência Efe em sua casa simples na remota aldeia de Que Trung, na região central do Vietnã.

O camponês recebeu a equipe de reportagem usando um traje preto tradicional e pediu alguns minutos para encerrar uma cerimônia com a qual afugenta os maus espíritos de seu campo de cultivo.

A agricultura e a venda de um licor de arroz que ele mesmo produz são seu principal sustento e, aos 75 anos, mantém uma invejável saúde que lhe permite sair para lavrar quase diariamente.

"Quando era mais jovem, aproveitava as noites para trabalhar no campo ou para melhorar o caminho que leva à minha casa. Agora que sou mais velho, já não faço isso tão frequentemente, fico em casa vendo televisão ou faço passeios e fumo", contou.

A incapacidade de dormir tem outras utilidades em sua pacata vida rural, como ser o único que aguenta vários dias seguidos nos velórios ou despertar os vizinhos quando eles precisam ir ao campo antes do amanhecer.

Em sua casa, Ngoc recebeu equipes de televisão do Reino Unido, da Tailândia e do Japão que, segundo ele, foram embora depois de vários dias, assombradas com sua incapacidade para dormir.

"Os tailandeses me levaram ao hospital de Danang (a cidade mais próxima, a cerca de 50 quilômetros) para que me examinassem, e me disseram que estava bem. O único problema são as mãos", disse, mostrando as deformações causadas por uma bomba da Guerra do Vietnã, na qual combateu de 1964 a 1966 pelo Vietnã do Norte contra o Vietnã do Sul, cujas forças eram apoiadas pelos Estados Unidos

O médico que o examinou, Nguyen Gia Thieu, afirmou ao portal de notícias "Vietnamnet" que essa insônia é estranha, mas não perigosa, e a atribuiu a um transtorno do sistema nervoso.

Embora o camponês diga que gostaria de dormir, porque lembra que é "uma sensação agradável", não se preocupa com sua rara condição.

"Tentei com remédios tradicionais, e uma vez me trouxeram de Saigon remédios para dormir, mas não tiveram efeito. Só quando bebo muito licor de arroz eu caio e deito um pouco a cabeça, mas não chego a adormecer", contou.

O licor e o tabaco que ele mesmo fabrica são os seus maiores vícios, mas quase não parecem repercutir na sua saúde. "Nunca fico doente, sequer pego um resfriado", ressaltou.

O relato poderia ser corroborado com um eletroencefalograma que registrasse o tipo de ondas emitidas pelo seu cérebro durante vários dias, mas os hospitais próximos não dispõem dessa tecnologia, e ele é reticente a deixar sua aldeia.

"Os ingleses que vieram aqui queriam me levar a Ho Chi Minh (antiga Saigon) para fazer mais exames, mas não quero ir, fica muito longe, e eu estou bem. Nunca vou ao médico", declarou.

Salvo por suas ocasionais entrevistas à imprensa, Ngoc vive como qualquer um entre os vizinhos e contou ter rejeitado ofertas para enriquecer com sua história.

"Uma rede de televisão da Austrália queria pagar 30 milhões de dongs (1.120 euros) em troca de não falar para nenhuma outra em 18 meses, mas não me pareceu bem negar a atender gente que vem me ver desde muito longe", disse.

Além do caso de Ngoc, não provado pela medicina, o recorde mais conhecido de falta de sono é o do americano Randy Garner, que sendo estudante em 1964 aguentou 264 horas (11 dias) sem dormir sob supervisão científica.

Na história existiram outros famosos insones como o americano Al Herpin, que morreu em 1947 aos 94 anos depois de passar mais de cinco décadas sem dormir, segundo ele mesmo relatou ao jornal "The New York Times".

Também ganhou notoriedade o soldado húngaro da I Guerra Mundial Paul Kern, que desde que foi ferido por um tiro na cabeça em 1915 não voltou a dormir até a sua morte, mais de 40 anos depois, para perplexidade dos médicos que o examinaram.

Uma possível explicação para o caso de Ngoc, descartando uma mentira deliberada, é que ele durma poucos minutos com os olhos abertos e sem estar consciente disso.

O camponês não parece dar importância alguma à sua excepcionalidade e nem a que o seu relato seja um absoluto disparate para a ciência.

"Não sei se existe alguém como eu, mas não me importa. Levo uma vida normal, e isso não me afeta", frisou. EFE

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