O ensaio da vacina de fase I acompanhará os voluntários por aproximadamente 12 meses (fotograzia/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 15 de dezembro de 2021 às 10h46.
Uma nova vacina contra a Covid-19 começou a ser testada em humanos na terça-feira, no Reino Unido. Trata-se de um imunizante inovador — tanto na forma de se administrado quanto no tipo de proteção que vai proporcionar. Sem fazer o uso de agulha, a vacina será dada através de um jato de ar que injeta o composto na pele. Além disso, a vacina usa como alvo várias estruturas comuns de coronavírus-beta, e não a proteína Spike — que vem sofrendo mutações. Assim, os cientistas acreditam que ela poderá proteger não só contra futuras variantes, como também de novas pandemias causadas por outros coronavírus.
Os primeiros ensaios do DIOS-CoVax estão sendo realizados pelo NIHR Southampton Clinical Research Facility. Podem participar voluntários saudáveis com idade entre 18 e 50 anos e que morem na área de Southampton. Os participantes devem ter recebido as duas doses da vacina contra a Covid-19, mas não o reforço.
O ensaio da vacina de fase I em Southampton acompanhará os voluntários por aproximadamente 12 meses para garantir que seja seguro.
— A resposta das comunidades científica e médica ao desenvolvimento e entrega das vacinas COVID-19 tem sido incrível, mas conforme surgem novas variantes e a imunidade começa a diminuir, precisamos de tecnologias mais novas. — disse Jonathan Heeney, professor da Universidade de Cambridge e responsável pelo desenvolvimento da vacina. — É o primeiro passo em direção a uma vacina universal de coronavírus que estamos desenvolvendo, protegendo-nos não apenas de variantes da Covid-19, mas de futuros coronavírus.
O Sars-CoV-2 usa as proteínas Spike em sua superfície para entrar nas células humanas. Essas proteínas se ligam ao ACE2, um receptor de proteína na superfície das células em nossas vias aéreas, permitindo que o vírus libere seu material genético. O vírus "sequestra" a maquinaria da célula hospedeira para se replicar e espalhar.
As vacinas informam nosso corpo sobre a aparência de infecções perigosas e como reagir a elas. Isso é muito mais seguro do que se infectar com o vírus vivo, porque evita os efeitos fatais que todo o vírus pode ter. A imunização arma nosso sistema imunológico para procurar e bloquear o vírus, ou destruir células que carregam a proteína Spike, nos protegendo da Covid-19.
Infelizmente, o coronavírus está em constante mutação e a própria proteína Spike do vírus está mudando. Isso levanta a perspectiva de "fuga da vacina", na qual mudanças na proteína do pico significam que o sistema imunológico não é mais capaz de reconhecê-la.
Para contornar esse problema, a equipe de Cambridge buscou novos tipos de antígenos — regiões-chave do vírus — que são os mesmos em coronavírus que ocorrem na natureza, incluindo em animais que os carregam, como morcegos.
Enquanto a maioria das vacinas Covid-19 usam a sequência do RNA para a proteína Spike das primeiras amostras isoladas do coronavírus sequenciado em janeiro de 2020, esta nova tecnologia DIOSvax usa métodos preditivos para codificar antígenos mais amplos, que aparecem em variados tipos de coronavírus, dando assim uma proteção mais ampla.
As células imunológicas do corpo captam o vetor, decodificam o antígeno da vacina DIOS e apresentam as informações ao sistema imunológico. Isso, por sua vez, produz anticorpos neutralizantes, que bloqueiam a infecção pelo vírus, e células T, que removem as células infectadas pelo vírus. Essa tecnologia está bem estabelecida e o DNA do plasmídeo da vacina não é incorporado ao material genético humano.
— As vacinas DIOS-CoVax têm como alvo elementos da estrutura do vírus que são comuns a todos os 'beta-coronavírus' conhecidos - aqueles coronavírus que são as maiores ameaças de doenças aos humanos. Essas são estruturas de vital importância para o ciclo de vida do vírus, o que significa que podemos ter certeza de que é improvável que mudem no futuro — explicou Heeney.
As vacinas DIOSvax de próxima geração devem nos proteger contra as variantes que vimos até agora — variantes alfa, beta, delta, por exemplo — visando proteger também contra variantes emergentes e potenciais pandemias de coronavírus, afirmam os desenvolvedores.