Ciência

Calor extremo na Antártica: temperaturas sobem 10°C acima da média

Em meio ao inverno rigoroso, o continente antártico enfrenta uma onda de calor sem precedentes, com temperaturas atingindo 28°C acima do esperado em alguns dias de julho

Aumento da temperatura da Antártica preocupa os cientistas pelo mundo. (.)

Aumento da temperatura da Antártica preocupa os cientistas pelo mundo. (.)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 2 de agosto de 2024 às 09h26.

Nos últimos meses, a Antártica, conhecida por seu frio extremo, tem enfrentado uma situação atípica: uma onda de calor que elevou as temperaturas médias em 10°C acima do normal, com picos de até 28°C a mais do que o esperado em alguns dias de julho. Este fenômeno climático alarmante reforça as preocupações sobre os impactos das mudanças climáticas nas regiões polares, tradicionalmente consideradas como termômetros das transformações globais no clima. As informações são do The Guardian.

Enquanto o inverno no hemisfério sul normalmente cobre a Antártica em escuridão e temperaturas negativas extremas, as condições climáticas deste ano desafiaram as expectativas. Nos últimos 12 meses, o mundo tem experimentado recordes consecutivos de calor, com temperaturas consistentemente acima do limite de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. Esse limite é amplamente considerado pelos cientistas como crucial para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.

Michael Dukes, diretor de previsão do tempo da MetDesk, destacou que, embora os picos diários de temperatura sejam impressionantes, a elevação média ao longo do mês é ainda mais significativa. Segundo Dukes, os modelos climáticos há muito preveem que as regiões polares seriam as mais afetadas pelas mudanças climáticas antropogênicas, e a atual situação na Antártica é um exemplo claro disso.

Causas da onda de calor

Os cientistas apontam que o aquecimento contínuo durante o inverno antártico pode levar a um colapso dos mantos de gelo, o que teria implicações catastróficas para o nível do mar em todo o mundo. Embora julho de 2024 não tenha quebrado todos os recordes de temperatura anteriores, ele ainda ficou 0,3°C acima de qualquer outro mês de julho registrado anteriormente.

Zeke Hausfather, pesquisador da Berkeley Earth, afirmou que a onda de calor na Antártica foi um dos principais fatores por trás do aumento das temperaturas globais nas últimas semanas. Segundo ele, a Antártica tem aquecido junto com o resto do planeta nos últimos 150 anos, o que significa que qualquer onda de calor já parte de uma base mais elevada de temperatura.

A causa imediata dessa onda de calor foi atribuída a um enfraquecimento do vórtice polar, uma faixa de ar frio e baixa pressão que gira na estratosfera em torno dos polos. Esse fenômeno, combinado com um forte evento El Niño, contribuiu para o aquecimento em toda a região. Cientistas como Amy Butler, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), observaram que ondas atmosféricas interferiram no vórtice polar, elevando as temperaturas em altitudes elevadas.

Preocupações científicas

A onda de calor deste ano é a segunda a atingir a região em dois anos consecutivos, com a anterior ocorrendo em março de 2022, quando houve um aumento de 39°C nas temperaturas, causando o colapso de uma porção do manto de gelo do tamanho de Roma.

Além disso, o aumento das temperaturas na Antártica em julho segue um evento El Niño particularmente forte, que é conhecido por causar aquecimento global, além de um efeito retardado das temperaturas mais altas causadas pela crise climática. Jamin Greenbaum, geofísico do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia em San Diego, expressou preocupação com o futuro da região, observando um aumento no derretimento das geleiras durante suas expedições de campo ao longo dos anos.

Embora ainda não esteja claro o quanto a crise climática contribuiu especificamente para este evento, cientistas como Jonathan Wille, pesquisador de ciência climática da ETH Zürich, sugerem que as ondas de calor na Antártica estão se tornando mais frequentes. No entanto, ele ressalta que serão necessários estudos de atribuição para determinar com precisão o papel das mudanças climáticas na criação dessa onda de calor específica.

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