Sobremesas: pesquisadores sugerem que apetite para doces após refeições está ligado aos neurônios POMC. (VeselovaElena/Getty Images)
Repórter
Publicado em 25 de agosto de 2025 às 13h37.
Depois de uma refeição completa, a sensação deveria ser de saciedade, certo? Ainda assim, basta alguém citar uma sobremesa para o apetite despertar novamente. Agora, ciência explica o motivo.
Em um artigo da revista Science, pesquisadores do Instituto Max Planck disseram que certos circuitos neurais conseguem se sobrepor aos sinais de saciedade quando o açúcar entra em jogo.
A equipe observou, durante um experimento com camundongos, que os animais continuaram a consumir grandes quantidades de açúcar mesmo após terem tido acesso prévio à substância. O comportamento chamou atenção porque surgiu apesar do “alerta” natural de que já havia comida suficiente.
O ponto de partida, segundo a pesquisa, está no hipotálamo, uma região que, em condições normais, ajuda a indicar quando parar de comer. Diante do açúcar, porém, este freio pode ser diminuído por um mecanismo que favorece a continuidade deste consumo.
O açúcar ativa o sistema de recompensa e estimula a liberação de endorfinas, substâncias associadas à sensação imediata de prazer. Diferentemente de gorduras e proteínas, ele “sequestra” este circuito e sustenta a vontade de seguir comendo, mesmo com o estômago já cheio.
Entre os protagonistas, estão os neurônios POMC. De acordo com os pesquisadores, eles costumam participar da supressão do apetite, mas, ao mesmo tempo, também podem estimular a busca por açúcar. Esta dupla atuação ajuda a explicar por que a sobremesa “cabe” mesmo após um bom prato de comida.
“Descobrimos que os neurônios POMC não apenas promovem a saciedade em condições de alimentação, mas também, simultaneamente, ativam o apetite por açúcar, o que leva ao consumo excessivo”, disseram os estudiosos no artigo.
Os autores sugerem que essa atividade tem raízes evolutivas. Em cenários de escassez, o açúcar oferecia energia rápida e confiável, o que poderia dar um certo tipo de vantagem de sobrevivência, mesmo quando a fome já havia passado.