Burnout (Jolygon/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 17 de fevereiro de 2022 às 07h56.
Última atualização em 17 de fevereiro de 2022 às 07h56.
Jessi Gold, psiquiatra da Universidade de Washington, sabe que está próxima do esgotamento provocado pelo burnout quando acorda, sente raiva instantaneamente da caixa de entrada de e-mail e não quer sair da cama. Talvez não seja surpreendente que uma profissional de saúde mental, que está tentando conter a maré crescente de exaustão, também possa se esgotar às vezes. Afinal, o fenômeno praticamente se tornou onipresente na nossa cultura.
Em uma pesquisa de 2021 com 1.500 profissionais dos Estados Unidos, mais da metade disse que estava se sentindo esgotado com as demandas de trabalho. Além disso, 4,3 milhões de americanos deixaram seus empregos em dezembro, no que vem sendo chamado de a “grande demissão”. Quando as pessoas pensam em esgotamento, o que geralmente vem à cabeça são sintomas mentais e emocionais, como os sentimentos de desamparo e cinismo. Mas o burnout também pode levar a sintomas físicos, e os especialistas dizem que é importante ficar atento aos sinais e tomar medidas quando eles forem notados.
O burnout, em sua definição, não é uma condição médica, mas “uma manifestação de estresse crônico absoluto”, explica Lotte Dyrbye, médica que estuda o burnout na Clínica Mayo.
A Organização Mundial de Saúde descreve a síndrome como um fenômeno no local de trabalho caracterizado por sentimentos de exaustão, desânimo e eficácia reduzida.
—Você começa a não funcionar tão bem, perde prazos, fica frustrado, irritado com seus colegas— disse Jeanette Bennett, pesquisadora que estuda os efeitos do estresse na Universidade da Carolina do Norte.
Segundo Bennet, o estresse pode ter efeitos desgastantes no corpo, especialmente quando não diminui depois de um tempo. Quando as pessoas estão sob pressão, seus corpos sofrem mudanças que incluem níveis mais altos do que o normal de hormônios do estresse, como cortisol, adrenalina, epinefrina e norepinefrina. Essas mudanças são úteis a curto prazo — elas nos dão energia para superar situações difíceis — mas, com o tempo, começam a prejudicar o corpo.
Veja como reconhecer o esgotamento em seu corpo e o que fazer a respeito:
Segundo Dyrbye, um sintoma comum de esgotamento é a insônia. Quando pesquisadores na Itália entrevistaram os profissionais de saúde na linha de frente durante o primeiro pico da pandemia, descobriram que 55% deles relataram ter dificuldade em adormecer, enquanto quase 40% tiveram pesadelos.
Pesquisas sugerem que o estresse crônico interfere no complicado sistema neurológico e hormonal que regula o sono. É um ciclo vicioso, porque não dormir deixa esse sistema ainda mais fora de controle.
A exaustão física é outro sinal comum, assim como mudanças nos hábitos alimentares — comer mais ou menos do que o habitual. Em um estudo com profissionais de saúde italianos, 56% relataram esse tipo de mudança. As pessoas podem comer menos porque estão muito ocupadas ou distraídas, ou podem desejar aquelas comidas reconfortantes que todos gostam quando precisam de algo para se sentir melhor. Pesquisas também sugerem que os hormônios do estresse podem afetar o apetite, fazendo com que as pessoas sintam menos fome do que o normal quando estão sob muito estresse e mais fome do que o normal quando o estresse alivia.
Gold ainda destaca que dores de cabeça e de estômago também podem ser provocadas pelo esgotamento: estudo com pessoas na Suécia que sofrem de transtorno de exaustão — uma condição médica semelhante ao burnout — descobriu que 67% relataram sentir náusea, gases ou indigestão e que 65% tinham dores de cabeça.
Outra informação importante é que o esgotamento pode se desenvolver juntamente com a depressão ou a ansiedade, que também provocam sintomas físicos. A depressão pode causar dores musculares, de estômago, problemas de sono e alterações de apetite. Já a ansiedade está ligada a dores de cabeça, náuseas e falta de ar.
— Se você está experimentando sintomas físicos que podem ser indicativos de esgotamento, considere consultar seu médico ou um profissional de saúde mental para determinar se eles são motivados pelo estresse ou enraizados em outras condições físicas — disse Dyrbye.
Ainda de acordo com os pesquisadores, é importante que as pessoas não ignorem os sintomas imaginando que eles não importam.
Se for burnout, a melhor solução é abordar a raiz do problema. A síndrome é normalmente reconhecida quando é motivada pelo trabalho, mas o estresse crônico pode ter uma variedade de causas — problemas financeiros, de relacionamento e sobrecarga de trabalho doméstico, entre outras coisas.
— Pense nas pedrinhas no sapato com as quais você tem que lidar o tempo todo e procure maneiras de remover algumas delas, pelo menos algumas vezes. Talvez possa pedir ao parceiro para ajudar mais na hora de colocar as crianças na cama ou pedir comida quando estiver especialmente ocupado — disse Christina Maslach, psicóloga da Universidade da Califórnia.
No entanto, algumas escolhas de estilo de vida podem tornar o burnout menos provável. O apoio social, desde a conversa com um terapeuta à reunião de amigos, pode ajudar. Tente também dormir mais e melhor (nem que precise de tratamento contra insônia).
Quando o esgotamento decorre de problemas relacionados ao trabalho, pode ser útil solicitar melhores condições. Uma sugestão é fazer uma dinâmica em grupo com os colegas e apresentar ao empregador ideias que ajudariam — como ter áreas silenciosas para intervalos e telefonemas pessoais, criar dias “sem reuniões” ou garantir que haja sempre café na sala de descanso. Mesmo pequenas mudanças como essas podem reduzir o risco de esgotamento.
Apesar de não ser totalmente eficaz contra o esgotamento, os especialistas aconselham que é importante tirar folga regularmente.
— Por fim, mesmo que você não queira adicionar mais responsabilidade ao seu cotidiano, tente reservar um pouco de tempo todos os dias para algo que você ama — disse Dyrbye.
A pesquisadora descobriu em um estudo que os cirurgiões que reservam tempo para hobbies e recreação — mesmo que apenas 15 a 20 minutos por dia — são menos propensos a sofrer de burnout do que os cirurgiões que não o fazem.