Ciência

Buraco negro supermassivo pode formar estrelas, mostra pesquisa

A equipe de astrônomos da Universidade de Cambridge fez esta descoberta enquanto estudava uma colisão que está acontecendo entre duas galáxias

Galáxia em formação: cientistas encontraram a primeira evidência clara de que há estrelas nascendo próximo de um buraco negro supermassivo (ESO/M. Kornmesser/Divulgação)

Galáxia em formação: cientistas encontraram a primeira evidência clara de que há estrelas nascendo próximo de um buraco negro supermassivo (ESO/M. Kornmesser/Divulgação)

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EFE

Publicado em 27 de março de 2017 às 17h21.

Uma equipe europeia de cientistas comprovou que os buracos negros supermassivos são capazes de formar estrelas em seu interior, um fenômeno astrofísico do qual havia evidências, mas que até agora não tinha sido observado.

A descoberta, publicada nesta segunda-feira na revista científica "Nature", fornece informações importantes sobre como se formam e evoluem as galáxias - também a nossa - e ajudará a compreender melhor suas propriedades.

A equipe de astrônomos da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, dirigida por Roberto Maiolino, fez esta descoberta enquanto estudava uma colisão que está acontecendo entre duas galáxias situadas a 600 milhões de anos luz da Terra.

Com a ajuda do telescópio VLT ('Very Large Telescope' em inglês) do Observatório Europeu do Sul (ESO, sigla em inglês), situado no Deserto do Atacama, no Chile, a equipe observou os colossais jatos de material ('outflows' em inglês) que se originam próximos do buraco negro supermassivo situado no centro da galáxia que está mais ao sul, e encontraram a primeira evidência clara de que há estrelas nascendo dentro deste ambiente extremo.

Os jatos galácticos ou 'outflows' surgem da enorme emissão de energia proveniente dos ativos e turbulentos núcleos galácticos.

Apesar de nossa galáxia ser uma espiral tranquila, o resto do universo contém galáxias ativas, capazes de emitir - e de forma violenta - enormes quantidades de energia.

Algumas destas galáxias - como as estudadas - escondem buracos negros supermassivos que quando engolem matéria, também aquecem o gás circundante e o expulsam para fora de sua anfitriã em forma de ventos densos e potentes.

"Durante um tempo, os astrônomos pensaram que as condições no interior destes jatos poderiam ser adequadas para a formação de estrelas, mas ninguém tinha conseguido ver este fenômeno em ação porque é algo muito difícil de observar", explicou Roberto Maiolino.

Por isso, "nossos resultados são emocionantes, porque mostram, inequivocamente, que há estrelas dentro desses jatos", acrescentou o especialista.

Além disso, dado que os jatos galácticos eram muito mais potentes e frequentes nas primeiras fases do universo, os cientistas destacaram a utilidade da descoberta para entender melhor esta época.

Após a descoberta, a equipe de astrônomos estudou as estrelas diretamente no jato, para analisar as propriedades da luz que elas emitem e determinar assim sua origem.

Desta maneira, os astrônomos calcularam que as estrelas têm menos de poucas dezenas de milhões de anos e, segundo as primeiras análises, são mais quentes e brilhantes que as estrelas formadas em entornos menos extremos.

Os especialistas também determinaram o movimento e a velocidade destas estrelas que, segundo indica sua luz, viajam em enormes velocidades, afastando-se do centro da galáxia.

"As estrelas que se formam no vento que está perto do centro da galáxia poderiam desacelerar e inclusive voltar para o interior, mas as estrelas que se formam na região mais externa do fluxo experimentam menos desaceleração e podem inclusive voar em grupo para fora da galáxia", destacou a investigadora do Instituto de Astronomia de Cambridge e coautora do estudo, Helen Russell.

A descoberta proporciona uma nova e emocionante informação que poderia melhorar nossa compreensão de alguns enigmas da astrofísica como a origem da forma de certas galáxias e como o espaço intergaláctico se enriquece com elementos pesados.

O estudo, portanto, lança "uma informação importante sobre a maneira em que se formam e evoluem as galáxias", ressaltou o astrofísico do Centro de Astrobiologia da Espanha e coautor do estudo, Luis Colina.

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