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Buraco negro misterioso encontrado na 'galáxia do infinito' desafia teorias astronômicas

Local pode fornecer pistas cruciais sobre o nascimento e a evolução dos buracos negros supermassivos

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 21 de julho de 2025 às 17h34.

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Astrônomos que analisaram dados do Telescópio Espacial James Webb identificaram um objeto cósmico que estão chamando de "Galáxia do Infinito". O local de uma colisão frontal entre duas galáxias pode fornecer pistas cruciais sobre o nascimento e a evolução dos buracos negros supermassivos — aqueles encontrados no centro das galáxias.

Estes buracos negros, de massas impressionantes, são capazes de organizar trilhões de estrelas ao seu redor. "Tudo sobre esta galáxia é peculiar. Além de seu aspecto estranho, ela possui um buraco negro supermassivo que está atraindo uma grande quantidade de material", afirmou Pieter van Dokkum, principal autor de um estudo publicado no Astrophysical Journal Letters, em comunicado sobre a pesquisa.

E acrescentou: "Como um bônus inesperado, descobrimos que ambos os núcleos das galáxias também abrigam buracos negros supermassivos ativos. Portanto, este sistema contém três buracos negros ativos confirmados: dois muito massivos nos núcleos das galáxias e um no meio, que pode ter se formado ali."

O objeto foi detectado durante uma busca nos dados públicos da pesquisa COSMOS-Web, que visa documentar a evolução das galáxias, com informações extraídas de 800.000 regiões do espaço — número que segue em crescimento.

Uma imagem capturada pelo Webb mostra dois pontos brilhantes, representando os núcleos das duas galáxias em colisão, cada um rodeado por seus próprios anéis estelares. Essa configuração dá à galáxia a forma de um símbolo do infinito, justificando seu nome.

O mais impressionante, no entanto, é o que se encontra entre eles: um buraco negro supermassivo imerso em um mar de gás ionizado. Estima-se que ele possua uma massa equivalente a um milhão de vezes a do Sol, e ainda está em processo de crescimento.

"É possível que o buraco negro não tenha chegado a essa massa, mas tenha se formado ali, e recentemente", afirmou van Dokkum. "Acreditamos estar observando o nascimento de um buraco negro supermassivo — algo inédito."

Este pode ser um dos exemplos mais convincentes de que buracos negros surgem por meio do colapso direto de uma densa nuvem de gás, resultando em uma singularidade.

Mistérios ainda não desvendados

As origens dos buracos negros supermassivos continuam sendo um dos maiores enigmas da cosmologia. Embora sejam inquestionáveis, formando o centro das maiores galáxias, como a Via Láctea. A forma como ganham tamanhos tão impressionantes segue sendo um debate entre os cientistas. Alguns desses buracos negros podem pesar centenas de bilhões de vezes a massa do Sol.

A maneira mais conhecida de formação de buracos negros é por meio do colapso de uma estrela massiva que explode em uma supernova, o que pode originar um buraco negro com várias centenas de vezes a massa do Sol. Com o tempo, ele pode crescer ao devorar material ou se fundir com outros buracos negros, atingindo uma estatura supermassiva.

Entretanto, astrônomos observaram buracos negros com massas de milhões de vezes a do Sol apenas 400 milhões de anos após o Big Bang, tempo insuficiente para que esses buracos negros crescessem por meio da acreção gradual de matéria.

Isso sugere a possibilidade de uma teoria chamada "semente pesada", explicada por van Dokkum, que postula que um buraco negro muito maior, talvez com até um milhão de vezes a massa do Sol, se formaria diretamente do colapso de uma grande nuvem de gás. O calor do universo primitivo teria permitido que uma nuvem de gás se colapsasse em um único objeto massivo, em vez de formar várias estrelas menores.

"Não está claro se esse processo de colapso direto poderia ser viável", disse van Dokkum.

No entanto, há indícios fortes de que o buraco negro no centro da Galáxia do Infinito tenha se formado justamente por esse processo. A principal pista é a velocidade do buraco negro, que é compatível com a do gás ao redor, sugerindo que ele se formou exatamente ali. Se tivesse se formado em outro local do cosmos e sido capturado pela colisão, sua velocidade seria muito maior.

Segundo os astrônomos, quando as duas galáxias se colidiram, o gás presente nelas se comprimiu em um "nó denso", que posteriormente colapsou em um buraco negro, explicou van Dokkum.

"Embora não possamos afirmar com certeza que encontramos um buraco negro formado por colapso direto. Podemos concluir que esses novos dados reforçam a hipótese de que estamos testemunhando o nascimento de um buraco negro, ao mesmo tempo que descartam outras explicações possíveis."

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