Miro Latansio Tsai: A curiosidade da criança pela astronomia começou aos dois anos de idade (Neila Rocha / ASCOM/SEAPC/MCTI/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 08h24.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2022 às 08h35.
A expressão popular “o céu é o limite” já nem cabe mais no vocabulário do pequeno Miro Latansio Tsai, que aos cinco anos de idade foi reconhecido como a pessoa mais jovem do mundo a identificar asteroides. Com uma paixão nata por planetas e estrelas, o brasileirinho descobriu 15 corpos celestes que foram aprovados em preliminares pelo International Astronomical Search Collaboration (IASC) e, posteriormente, serão confirmados pela Agência Espacial Americana (NASA).
A curiosidade da criança pela astronomia começou aos dois anos de idade, quando Miro passou a questionar os pais sobre a temperatura do sol e o motivo pelo qual a noite vinha acompanhada da lua. E durante um passeio ao Museu Catavento, em São Paulo, que a advogada Carla Latansio, mãe do astrônomo-mirim, percebeu que o filho tinha aptidão para a ciência: ao ver a sequência de planetas exposta na parede, ele começou a falar o nome de todos, um a um.
— Eu e meu marido não trabalhamos com nada relacionado à ciência. Esse episódio do museu foi surpreendente porque não tínhamos a menor ideia de que ele sabia o nome dos planetas. Ele provavelmente deve ter visto em desenhos e aprendido. Já com três anos, o Miro pedia para ver documentários sobre o espaço sideral e começava a contar para nós a existência de buracos negros. Essa foi a hora que a gente descobriu que não era um saber pontual, mas um gosto muito particular e amado por ele — afirma a mãe.
Foi no período de pandemia que Miro teve a oportunidade de realizar o sonho de observar o céu mais de perto, momento em que os pais conheceram o projeto Caça Asteroides, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), e inscreveu o filho. Com aptidão para manusear o programa usado para identificar corpos celestes, o menino localizou entre outubro e novembro do ano passado 15 corpos celestes nunca antes vistos.
A conquista inédita de Miro, que ainda vai para o primeiro ano do ensino fundamental em agosto deste ano, fez com que ele fosse convidado para a 18º Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, onde recebeu um certificado de mérito do MCTI, da Iasc e da NASA por suas descobertas.
— Fiquei muito orgulhoso quando ganhei as medalhas. Eu adoro caçar asteroides para proteger o planeta. Vai que algum meteoro bate na terra e explode tudo? Igual aconteceu com os dinossauros, pode acabar a era dos humanos (sic) — argumenta Miro, que também já ganhou um certificado da NASA por ter solucionado um problema galático no projeto Space Apps Challenge (Desafio de Aplicativos Espaciais, na tradução).
O projeto brasileiro que introduziu Miro na astronomia é o mesmo frequentado pela alagoana Nicole Oliveira, de oito anos, que antes do companheiro de descobertas ocupava a primeira posição entre as pessoas mais jovens do mundo a descobrir asteroides. Nicolinha, como é carinhosamente conhecida, recebeu o título de astrônoma amadora e foi premiada por encontrar 23 corpos celestes.
A paixão da menina pela astronomia foi o fator que mobilizou o MCTI a alterar suas políticas de participação e faixa etária, abrindo espaço para mais crianças que desejam seguir o mesmo caminho participarem do Caça Asteroides.
Em entrevista ao GLOBO em outubro do ano passado, Nicole disse que sonha em trabalhar na Nasa e despertar o amor pela ciência em outras crianças.
— Meu sonho é descobrir vários asteroides, trabalhar na Nasa, estudar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Mas eu quero muito mesmo que todas as crianças também possam sonhar com tudo isso.
Com o desejo de que mais pessoas se interessem pela astronomia, Miro e Nicolinha criaram clubes virtuais para ensinar crianças, adultos e até mesmo idosos a buscarem asteroides. O menino possui um perfil no Instagram com mais de 340 seguidores e um grupo no Whatsapp chamado "Clubinho do Miro”, onde são compartilhados os conhecimentos sobre a área.
— Eu gravo vídeo e ensino pessoalmente na escola. Eu gosto muito de ajudar meus amigos — diz o pequeno.
Já Nicolinha, como não conseguia estar junto aos amigos presencialmente no IASC durante o período de pandemia da Covid-19, criou o seu próprio Clube de Astronomia infantil online. Em pouco mais de um ano, a iniciativa conta com a participação de mais de 70 crianças de diferentes regiões do país, que aprendem junto a ela e especialistas do programa da NASA curiosidades do espaço sideral. Outros projetos criados pela futura engenheira aeroespacial foram canais no YouTube e Instagram, também usados para difundir a ciência. Juntas, as redes somam mais de 23 mil seguidores.
— Eu falei para a minha mãe que não queria parar de estar junto com as crianças. Eu amo explicar sobre as estrelas, Saturno e é muito legal ficar, às vezes, até de noite falando sobre astronomia — contou Nicole, em entrevista ao GLOBO no ano passado.