Ciência

Brasileiro ajuda a rastrear nova variante da covid na África do Sul

"A África do Sul e a África precisarão de apoio para controlá-la para que não se espalhe pelo mundo", disse o cientista brasileiro Tulio de Oliveira

A cepa é identificada como B.1.1.529 e, se for considerada como uma variante de preocupação pelo OMS, deve ser chamada de Nu (Siphiwe Sibeko/Reuters)

A cepa é identificada como B.1.1.529 e, se for considerada como uma variante de preocupação pelo OMS, deve ser chamada de Nu (Siphiwe Sibeko/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de novembro de 2021 às 13h03.

Última atualização em 26 de novembro de 2021 às 13h16.

A descoberta de uma nova variante do novo coronavírus, com um alto número de mutações, coloca autoridades e cientistas em alerta. Ainda não há estudos conclusivos, mas as características da nova cepa apontam risco de maior transmissão ou de escape da proteção das vacinas.

O cientista brasileiro Tulio de Oliveira é diretor do Ceri, o Centro para Resposta à Epidemias e Inovação da África do Sul, país onde foi identificada a variante. Segundo ele, é preciso ajudar o país a conter a nova ameaça, e não isolar a região.

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Ao apoiar o continente africano, diz ele, será protegido o planeta. "Faço um apelo para bilionários e instituições financeiras. Temos sido muito transparentes com as informações científicas. Identificamos, tornamos os dados públicos e alertamos, pois as infecções estão aumentando. Fizemos isso para proteger nosso país e o mundo, apesar de sofrermos potencialmente uma discriminação massiva", afirma ele, que tem feito apelos por suporte nas redes sociais.

A cepa é identificada como B.1.1.529 e, se for considerada como uma variante de preocupação pelo Organização Mundial da Saúde (OMS), deve ser chamada de Nu, a próxima letra grega — esse alfabeto é usado para nomear essas mutações. Em uma tentativa de conter esse novo risco, Reino Unido e Israel já barraram visitantes da África do Sul e a expectativa é de que a União Europeia proponha restrições semelhantes. A OMS, porém, recomendou cautela na criação dessas novas barreiras. O continente se tornou outra vez o epicentro da pandemia, com a explosão de infecções, o que também fez países como a Áustria a apertar o cerco contra não vacinados.

"A África do Sul e a África precisarão de apoio [financeiro, de saúde pública, científico] para controlá-la para que não se espalhe pelo mundo. Nossa população pobre e carente não pode ficar presa sem apoio financeiro", disse Oliveira, cuja equipe foi responsável por identificar a variante beta, uma das cepas de preocupação rastreadas originalmente na África do Sul.

"Estimamos que 90% dos casos em Gauteng [mais rica província sul-africana, onde estão as cidades de Joanesburgo e Pretória], pelo menos 1.000 por dia, são desta variante", acrescentou o cientista, que estuda epidemias de vírus, como dengue e HIV, há mais de 20 anos.

Embora poucos casos tenham sido identificados, Oliveira diz que provavelmente há "milhares" de infectados pelo país. O pesquisador disse ao Estadão que, apenas na quarta-feira, 24, o Ceri recebeu mais de 1.000 amostras para a análise e que a equipe está "trabalhando contra o relógio" para entender os efeitos de transmissibilidade, vacinas, reinfecção, gravidade da doença e diagnósticos.

Segundo a Rede para Vigilância Genômica da África do Sul, a variante já foi identificada em amostras coletadas de 12 a 20 de novembro em Gauteng, Botswana e em Hong Kong, de um viajante sul-africano. "Podemos fazer algumas previsões sobre o impacto das mutações nesta variante, mas ainda é incerto, e as vacinas continuam a ser a ferramenta crítica para nos proteger", disse a instituição.

Nesta sexta-feira, 26, o governo sul-africano fará uma sessão de urgência com a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a evolução do vírus.

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