Ciência

Brasil se aproxima de 5 milhões de vacinados. Veja como está a vacinação

Mesmo com obstáculos, a campanha de vacinação continua e pode ser boa notícia para a economia

Teresinha Conceição recebe a vacina contra o coronavírus Sinovac (COVID-19) na estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, Brasil, 18 de janeiro de 2021.  (Ricardo Moraes/Reuters)

Teresinha Conceição recebe a vacina contra o coronavírus Sinovac (COVID-19) na estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, Brasil, 18 de janeiro de 2021. (Ricardo Moraes/Reuters)

LP

Laura Pancini

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 06h00.

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Com quase 10 milhões de casos confirmados e 234.850 mortes no Brasil, a campanha de vacinação proporciona uma luz no fim do túnel da pandemia do novo coronavírus. Desde seu início em 17 de janeiro, mais de 4,3 milhões de brasileiros já foram vacinados. Se continuarmos no mesmo ritmo, chegaremos aos 5 milhões em alguns dias notícia que é recebida com um respiro de alívio, mas traz lembranças dos imensuráveis desafios ainda a serem combatidos para vacinar toda a população.

Uma pesquisa inédita EXAME/IDEIA realizada em janeiro mostra que 67% dos brasileiros acreditam que a vacinação contra a covid-19 está atrasada no Brasil. Para Gulnar Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), há uma falta de planejamento por parte do Ministério da Saúde.

"Torcemos para que, com o IFA, seja possível acelerar a produção nacional para atender as necessidades, mas, no geral, tudo é muito preocupante", ela afirma, se referindo ao Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), substância principal de qualquer vacina ou medicamento.

Além disso, a escassez de doses preocupa não só o Brasil, como o mundo inteiro. A AstraZeneca e a Universidade de Oxford comunicou a União Europeia que suas entregas ficariam 60% abaixo do esperado (o contrato era de 300 milhões de doses, podendo chegar a 400 milhões). O bloco já respondeu com ameaças de ações legais, mas a empresa farmacêutica afirma que ela não é legalmente obrigada a fornecer a quantidade esperada.

São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os estados que mais vacinaram até o momento, concentrando mais de metade das doses já aplicadas, com 2,4 milhões. O Sudeste é a região mais avançada na campanha de vacinação, representando 44% (ou 1,9 milhão) das 4,3 milhões aplicadas pelo Brasil. Das 4,3 milhões de doses aplicadas, só 80.507 são equivalentes a segunda dose

O governo de São Paulo já entregou 9,8 milhões de vacinas ao Ministério da Saúde. O acordo atual prevê a entrega de 46 milhões de doses até o final de abril e outras 54 milhões sem prazo definido, parceria que a presidente da Abrasco vê como provável caso o IFA continue chegando ao Instituto Butantan e ao Fiocruz. “Eles [Butantan e Fiocruz] estão expandindo sua capacidade de produção e fazendo o possível para dar conta disso", diz.

Recentemente, a empresária Luiza Helena Trajano anunciou a criação do Unidos pela Vacina, iniciativa para vacinar todos os brasileiros até setembro de 2021. O movimento planeja facilitar a aquisição e produção de insumos, como seringas e agulhas, e ajudar na fabricação dos imunizantes, com o auxílio na logística e solução de problemas da Fiocruz e do Instituto Butantan.

Azevedo acredita que o foco do governo e da iniciativa de Trajano deve ser, principalmente, o fortalecimento do Sistema Único de Saúde. "A solidariedade é sempre muito bem-vinda, mas precisa ser revertida com investimentos concretos para o SUS", afirma.

Como anda a vacinação em São Paulo?

No estado do governador João Doria, a vacinação segue a todo vapor. Seu ritmo é quatro vezes mais rápido que o registro de novos casos de coronavírus no estado são 260 mil novos casos para mais de 1 milhão de pessoas vacinadas desde a primeira dose aplicada em 17 de janeiro.

Na manhã de quarta-feira (10), Doria anunciou mais uma antecipação na campanha de vacinação: idosos de 85 a 89 anos começariam a ser vacinados no dia seguinte (11), quatro dias antes do esperado. A imunização entre 80 e 84 anos foi confirmada para 1° de março.

Na mesma manhã, 5,6 mil litros de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), o equivalente a 8,7 milhões de doses do Coronavac, foram recebidos no Aeroporto de Guarulhos para produção no Instituto Butantan. Eles se juntam a outro carregamento de 5,4 mil litros (ou 8,6 milhões de doses), que também pousou em solo paulistano menos de sete dias antes, totalizando 17,3 milhões de doses para uso no SUS.

O Butantan já solicitou uma nova remessa de 8 mil litros de IFA para a Sinovac e negocia a liberação de 20 milhões de doses extras para a vacinação da população adulta do estado.

“Seiscentas mil vacinas estão sendo produzidas por dia e agora não paramos mais até completar as 46 milhões”, disse Dimas Covas em coletiva de imprensa. Já Doria afirmou que, a cada dez pessoas vacinadas, nove recebem a vacina do Butantan.

O que isso significa para a economia?

Um ritmo de vacinação mais acelerado pode ser uma boa notícia para a economia. O economista Arthur Mota, da Exame Research, braço de análise de investimentos da EXAME, acredita que uma extensão do auxílio emergencial e a aceleração na campanha para imunizar a população podem destravar uma demanda reprimida de consumo.

“O auxílio emergencial, além de ajudar as pessoas com o básico, também as ajudou a poupar um pouco, por precaução, temendo o que viria pela frente”, disse Mota, que prevê uma normalização da situação atual caso as pessoas ganhem mais confiança para sair de casa e gastar. Para isso, porém, é necessário que a vacinação continue.

Em um cenário otimista, Mota analisa que o real “acompanharia outras moedas emergentes e ganharia força em relação ao dólar”, reduzindo custos de importação e ajudando na inflação. “É quase simétrico em relação ao cenário anterior, bem binário: ou se faz as reformas e se destrava o valor que o Brasil tem, indo para um cenário saudável, ou podemos ir para a situação contrária, criando um efeito dominó bastante negativo”, finaliza.

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