O laboratório será capaz de produzir por semana quatro milhões de machos transgênicos do Aedes Aegypti (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 9 de julho de 2012 às 20h36.
São Paulo - No último sábado (7), o Ministério da Saúde inaugurou em Juazeiro, na Bahia, uma fábrica que vai produzir mosquitos geneticamente alterados para combater a dengue. O laboratório será capaz de produzir por semana quatro milhões de machos transgênicos do Aedes Aegypti. Desse modo, os técnicos esperam diminuir a reprodução do mosquito e a incidência da doença, que atingiu 431.194 pessoas no país desde o começo do ano.
Os machos trangênicos (os cientistas inserem nos ovos do Aedes Aegypti um gene que o tornará estéril – seus filhos serão incapazes de se desenvolver) se desenvolvem até a fase adulta e são levados até um local com alta incidência da dengue, onde são liberados. Ali, procuram pelas fêmeas da região e cruzam com elas. No entanto, seus filhos nunca chegarão a ultrapassar a fase de larva e causar dano à população. Desse modo, a próxima geração de mosquitos fica comprometida.
Reprodução - Os cientistas adotam uma série de técnicas para garantir que as fêmeas locais cruzem com os insetos transgênicos. Sabendo que os machos criados em laboratório não costumam ser tão competitivos na hora de conquistar as fêmeas da espécie, eles fizeram questão de que sua linhagem fosse extremamente bem nutrida e forte. "Além disso, nós costumamos espalhar pelo local até 10 vezes mais insetos machos do que o número existente na natureza. Aí o acasalamento vira questão de estatística", diz Aldo Malavasi, professor aposentado de genética na USP e diretor presidente da Moscamed, empresa pública responsável pela produção dos insetos.
A ideia do Ministério é liberar os primeiros lotes do mosquito produzido na fábrica no município baiano de Jacobina, que tem 79.000 habitantes e apresentou 1.647 casos de dengue em 2012.
Testes – O Aedes Aegypti transgênico já foi testado em dois bairros de Juazeiro, Mandacaru e Itaberaba, entre 2011 e 2012. Os locais tinham um alto índice do mosquito. Sua população foi reduzida em 90% com a adoção da técnica.
Essa linhagem de mosquitos transgênicos foi originalmente desenvolvida pela empresa britânica Oxitec. Em 2010, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP adaptaram a linhagem para as condições brasileiras. Um ano depois, a Universidade fechou uma parceria com a Moscamed, para produção em larga escala do mosquito.
O plano do governo é analisar os resultados da etapa atual do projeto e, dentro de alguns anos, incorporar a técnica ao Sistema Único de Saúde (SUS) como um dos mecanismos de combate à dengue, junto com a educação da população e o uso de venenos químicos. "Em algumas situações, os mosquitos transgênicos podem ser o melhor modo de controle. Os inseticidas, por exemplo, não têm mobilidade. Já os machos do inseto procuram ativamente as fêmeas. Uma hora depois de termos liberado os mosquistos nas ruas, já estão dentro de todas as casas procurando as fêmeas", diz Aldo Malavasi.