Com ações parecidas, Brasil passa Suécia em mortes por milhão por covid-19 (Bruna Prado/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 10 de junho de 2020 às 15h58.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 16h37.
O Brasil, segundo país com mais infectados pelo novo coronavírus ao redor do mundo, de acordo com monitoramento em tempo real da universidade americana Johns Hopkins, acaba de ultrapassar a Suécia no número de mortes por milhão de habitantes.
Nos últimos sete dias, os brasileiros tiveram 4,84 mortes diárias por milhão, com uma população de 209,5 milhões de pessoas, enquanto os suecos tiveram 3,52 mortes, com uma população expressivamente menor, de mais de 10 milhões. Os dados são do site Our World In Data.
O país escandinavo tem 4.795 mortes e 46.814 infectados, enquanto o Brasil tem 739.503 doentes e 38.406 óbitos.
Os Estados Unidos, atual epicentro da covid-19 no mundo e com uma população maior que a brasileira, de 328,2 milhões de habitantes, registraram na última semana 2,51 mortes por milhão de pessoas. Por lá, quase 2 milhões estão doentes e 112.402 morreram.
Entre os seis países mais afetados pela doença, o Brasil, cujos dados sobre testagem pararam de ser contabilizados no site em 29 de maio, é o que menos realiza testes no mundo todo. Na época, a Rússia, local onde mais testes são peformados, realizava 1,83 por milhão de habitantes. Por aqui, 0,04 teste por milhão era realizado. Nos Estados Unidos, o número de 1,37.
A Suécia foi um dos países a não adotar nenhuma medida para lutar contra o SARS-CoV-2 e apostar suas fichas totalmente na imunidade de rebanho. A taxa de letalidade per capita no país já foi líder por muitas semanas e, agora, foi ultrapassada pelo Brasil.
O que pode ter acontecido, para o doutor Celso Granato, infectologista e diretor Clínico do Grupo Fleury, pelo fato de a população ter o DNA mais parecido e também pela falta de medidas rígidas de isolamento. “Outras populações que são relativamente parecidas com eles, como os dinamarqueses, tomaram a atitude de isolar e têm uma mortalidade muito menor”, explica.
O mundo ainda parece estar muito longe de gerar uma imunidade conjunta ao coronavírus. “Não estamos perto de atingir a imunidade de rebanho em nenhum lugar. Ainda estamos no começo da pandemia”, diz o professor e infectologista da Johns Hopkins, David Dowdy.
Uma afirmativa que parece ser verdade para o Brasil, que já ensaia, em muitos estados, uma possível reabertura apesar dos altos números de infectados e óbitos. Por aqui, o governo federal não decretou quarentena pela doença e a maioria das decisões partiu dos governos estaduais — o que causou um embate político entre as partes.
“Se pegar uma vez, não pega mais.” Esta frase é usada para muitas doenças infecciosas, como a catapora, mas a afirmação é verdadeira para quem pegar covid-19? Ao que tudo indica, sim — mas não para sempre. “Sabemos pela nossa experiência com outros coronavírus que a imunidade dura um tempo. Até quatro anos no caso da Sars e três anos no caso da Mers. No caso da SARS-CoV-2, até hoje não se demonstrou reinfecção”, diz Granato.
Isso se dá pela baixa mutação do vírus, segundo os especialistas. “O vírus do HIV, que causa a aids, é um que sofre mutação muito rapidamente e pode mudar e reinfectar as pessoas, mas o coronavírus é diferente. Ele muda muito, muito devagar, então não há chances do SARS-CoV-2 mutar o suficiente para nos infectar novamente”, explica Timothy Springer, professor na universidade Harvard.
Existem cerca de 300 variações do coronavírus, mas, para a cura de todas elas, apenas uma vacina seria necessária.