A estação foi destruída por um incêndio: hoje toda a operação logística do Criosfera é feita por uma empresa privada, contratada pelo consórcio universitário que opera o módulo de pesquisa (Divulgação/Maria Rosa Pedreiro/Universidade Federal do Paraná)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
Rio de Janeiro – Ao mesmo tempo em que o governo brasileiro concentra esforços na reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz, na Ilha Rei George, destruída por um incêndio em fevereiro de 2012, cientistas buscam consolidar a presença de pesquisadores do país mais ao Sul, dentro do Continente Antártico.
Cientistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) pretendem montar uma base com capacidade para oito pesquisadores, no local onde já funciona o módulo autônomo Criosfera 1, que opera sem a presença de cientistas, na latitude 85 sul, a 500 quilômetros do Polo Sul.
A informação foi divulgada pelo pesquisador Heitor Evangelista, da Uerj, coordenador do Criosfera. Segundo ele, um módulo dormitório, com quatro beliches e uma cozinha, deverá ser instalado ao lado do Criosfera a partir do final do ano que vem. Há ainda a possibilidade de ter e um minimódulo, que funcionará como banheiro.
A estação garantirá a presença brasileira no continente, já que a Comandante Ferraz e os refúgios mantidos pelo Brasil na Antártica ficam todos em ilhas, fora da massa continental. O módulo Criosfera 1 foi instalado em janeiro de 2012, para fazer pesquisas sobre mudanças da atmosfera, do clima e da camada de gelo.
O módulo funciona sem a necessidade de pesquisadores, com o auxílio de geradores solares e eólicos e de baterias, além de equipamentos posicionados dentro e fora do contêiner. Os dados coletados são enviados por satélite para o Brasil. Uma missão com pesquisadores brasileiros foi enviada no final do ano passado para avaliar o funcionamento do módulo e fazer coletas de mais materiais.
No entanto, o grupo precisou dormir, comer e improvisar banheiros em barracas, que foram posicionadas no entorno do Criosfera 1. Sob essas condições, explica Evangelista, não é possível ficar mais do que um mês no local. “Hoje é muito difícil ficar mais do que 30 dias. Em uma missão dessa de 30 dias, nas condições que você encontra lá, você praticamente chega ao seu limite físico. Isso é muito comprometedor.”
A instalação do módulo dormitório permitirá que os pesquisadores permaneçam até três meses no local, durante o verão antártico. “Será muito bom, porque vai permitir uma ampliação das pesquisas”, disse o cientista.
Hoje toda a operação logística do Criosfera é feita por uma empresa privada, contratada pelo consórcio universitário que opera o módulo de pesquisa. Os pesquisadores devem conversar com a Força Aérea Brasileira (FAB) para pedir que pilotos brasileiros sejam capacitados e aprendam a pousar seus aviões Hércules (que transportam os equipamentos) no Continente Antártico, em uma pista de pouso existente na latitude 80, próximo à Criosfera 1.
Isso, segundo o cientista, baratearia os custos de operação do Criosfera. “Queremos que a FAB faça algo que os chilenos já fazem, que é pousar um Hércules na latitude 80. O pouso é feito no gelo. É um tipo de gelo, formado na base das montanhas, que tem uma densidade bem alta, o gelo azul. Nesse gelo azul, uma aeronave pode pousar com rodas”, disse Evangelista.