Ciência

Brasil ajuda em "caça" europeia a exoplanetas

Financiamento do projeto é 100% europeu, mas terá pesquisadores brasileiros

Exoplanetas: missão europeia tem orçamento de US$600 milhões (AFP/AFP)

Exoplanetas: missão europeia tem orçamento de US$600 milhões (AFP/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 8 de julho de 2017 às 09h02.

São Paulo - Com participação direta de cientistas brasileiros, uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA) vasculhará o espaço em escala sem precedentes, com o objetivo de descobrir planetas habitáveis em outros sistemas solares. Oficializada no fim de junho, a missão Trânsitos Planetários e Oscilações das Estrelas (Plato, na sigla em inglês) agora tem financiamento garantido - o orçamento é de US$600 milhões (R$ 2,27 bilhões) - e será lançada em 2025.

Assim como outros telescópios caçadores de exoplanetas - como são chamados os planetas fora do Sistema Solar -, o Plato ficará em órbita em torno da Terra, enquanto observa o céu. Mas o conceito é inovador: o satélite terá 26 telescópios montados em uma só plataforma, o que eleva sua capacidade para rastrear estrelas e exoplanetas.

Segundo o astrofísico José Dias do Nascimento, envolvido no projeto, o Plato deve levar para outro patamar a descoberta de exoplanetas, em comparação às principais missões com essa meta: o satélite francês Corot, que atuou entre 2006 e 2012, e o telescópio espacial Kepler, da Nasa, lançado em 2009. "A diferença é que agora a inovação é grande. O Corot observou aproximadamente 250 mil estrelas em 6 anos e o Kepler chegou a observar 450 mil. Já o Plato, com vários telescópios voltados para o céu simultaneamente, observará quantidade de estrelas na ordem de milhões", disse Nascimento ao Estado.

Segundo ele, professor da Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pesquisador da Universidade Harvard (Estados Unidos), o que torna o Plato especial é a tecnologia das câmeras dos telescópios e os avanços científicos feitos a partir do legado do Corot e do Kepler. "O CCD é a parte do telescópio que faz a detecção e o do Plato é o mais potente construído, capaz de observar uma porção do céu muito maior em uma só exposição. Por outro lado, missões anteriores nos mostraram que as estrelas, por seu intenso magnetismo, têm ruídos intrínsecos que prejudicaram os resultados obtidos pelos telescópios. Agora, sabemos como filtrar isso."

O Plato terá 24 câmeras que serão acionadas a cada 25 segundos e duas rápidas acionadas a cada 2,5 segundos. Cada uma terá 4 CCDs com 4.510 x 4.510 pixels. Em comparação, o Kepler tem 21 CCDs com 2.200 x 1.024 pixels cada.

Para Nascimento, o Plato põe a Europa de novo na vanguarda da busca por exoplanetas. "Há uma competição internacional para ver quem vai observar os exoplanetas mais parecidos com a Terra, para que se possa chegar à detecção de vida. Por isso, a missão é procurar planetas que tenham idade próxima à da Terra e não só aqueles estejam na zona habitável - isto é, cujas características permitam a existência de água líquida na superfície, condição indispensável à vida."

Brasil no espaço

Além de Nascimento, diversos cientistas brasileiros estão formalmente ligados à missão Plato e coordenarão equipes no projeto, como Adriana Valio, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Eduardo Janot Pacheco e Jorge Meléndez, ambos da Universidade de São Paulo (USP). "O projeto é da ESA e o financiamento é 100% europeu, mas o Brasil entrou pela qualificação científica de seus pesquisadores, que foram convidados por sua liderança historicamente reconhecida em determinadas áreas da astronomia", disse Nascimento.

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