Lava do vulcão Kilauea, no Havaí 19/05/2018 USGS/Divulgação via REUTERS (USGS/Divulgação/Reuters)
Vanessa Barbosa
Publicado em 25 de maio de 2018 às 08h35.
São Paulo – A mais recente onda de temor e prejuízos provocados pela erupção do vulcão Kilauea, no Havaí, mostra o quão urgente é a necessidade de prever com antecedência e eficácia uma explosão violenta, a tempo de salvar vidas e reduzir danos materiais.
Estudar o passado das explosões vulcânicas pode dar pistas de como interpretar os sinais de uma atividade vulcânica intensa no futuro. É o que sugere uma pesquisa realizada por vulcanologistas da Universidade de Leeds, na Islândia, e do British Geological Survey (Instituto Geológico Britânico), que resolveu analisar os cristais vulcânicos da erupção do Eyjafjallajökull em 2010, para reconhecer os sinais pré-eruptivos.
Para isso, eles estudaram os padrões químicos dos cristais lançados na atmosfera durante os primeiros estágios da erupção do vulcão, ao longo de março e abril de 2010. Antes de uma erupção, ocorrem alterações na estrutura química do magma, que é a rocha líquida que será expelida, com uma maior formação de cristais na região onde se acumula a rocha líquida no interior do vulcão, chamada de câmara magmática.
O interessante é que esses cristais contêm variações químicas que registram as mudanças de condições do ambiente, e também registram o tempo decorrido. Ao "ler" esse registro do tempo, os cientistas conseguem saber onde e como o magma se movia e se cristalizava antes e durante a erupção.
No caso do vulcão islandês Eyjafjallajökull, como a erupção foi bem monitorada, os geólogos souberam precisamente quando suas amostras foram expelidas dentro de uma janela de erupção de seis horas. Analisando os registros nos cristais e trabalhando desde o momento da erupção, eles puderam ler a história do magma no tempo e espaço, o que lhes permitiu interpretar como o vulcão se comportou e o magma se acumulou nos seis meses anteriores.
A reconstrução levou em conta análises do que estava acontecendo abaixo do solo e observações feitas na superfície. O estudo foi publicado no periódico científico Earth and Planetary Science Letters.
Segundo os cientistas, as mesmas técnicas poderiam ser aplicadas a outros vulcões, criando uma "biblioteca" de histórias de vulcões, o que poderia melhorar em muito a compreensão da fase crítica e pré-eruptiva da atividade vulcânica, que é fundamental para fazer previsões precisas de erupções.
"'As maiores questões relativas ao impacto do vulcanismo são sempre "quando vai entrar em erupção?', "Como podemos saber?" e "vamos ter tempo suficiente para responder?" Uma biblioteca abrangente da atividade de um vulcão no passado poderia percorrer um longo caminho para responder a essas questões no futuro"', disse Matt Pankhurst, cientista que conduziu a pesquisa na Universidade de Leeds, em material de divulgação da universidade.