Ciência

AstraZeneca defende vacina de Oxford da covid-19 para União Europeia

Em meio a problemas para a distribuição da doses e dúvidas sobre a eficácia da vacina em idosos, AstraZeneca e Oxford precisam convencer a UE de que vacina vale a pena

Vacina: AstraZeneca trava batalha inimaginável para aprovar imunizante na UE (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Vacina: AstraZeneca trava batalha inimaginável para aprovar imunizante na UE (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 29 de janeiro de 2021 às 06h00.

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Nesta sexta-feira, 29, a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca se prepara para enfrentar uma batalha que não parecia possível no começo do desenvolvimento de sua vacina contra o novo coronavírus em parceria com a universidade britânica de Oxford: a da aprovação do imunizante nos países da União Europeia.

A vacina de Oxford e da AstraZeneca, tida como uma das mais promissoras pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem passado por poucas e boas nas últimas semanas.

Um dos principais problemas tem a ver com a importação das duas doses necessárias para atingir um nível robusto de imunização. A UE havia feito um acordo com a farmacêutica para o recebimento de 400 milhões de doses que, segundo a companhia, devem demorar mais do que o previsto para chegar aos países do bloco econômico mesmo quando a vacina for aprovada.

A União Europeia, que esperava receber 80 milhões de doses até o final do março, poderá acabar recebendo somente 31 milhões – isso porque, de acordo com a AstraZeneca, aconteceram problemas em uma das plantas fabris europeias da companhia.

Problemas que geraram irritação para a UE, que já havia gastado alguns milhões de euros para assegurar a vacina. A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que "a Europa investiu bilhões para desenvolver as primeiras vacinas da covid-19 e criar uma demanda global." Segundo ela, em troca, as companhias deveriam "entregar e honrar as suas obrigações".

É provável que a AstraZeneca esteja violando o contrato com a UE ao afirmar que entregará menos doses do que o previsto – ou seja, apenas 40% até o final do primeiro trimestre do ano.

Em entrevista ao jornal alemão Die Welt, Pascal Soriot, CEO da farmacêutica, afirmou que "não fez nenhum compromisso com a União Europeia" em relação a quantidade de doses. "Nós dissemos que tentaríamos nosso melhor", disse ele, completando com a informação de que o Reino Unido (onde a vacinação já começou) havia fechado um acordo três meses antes.

Se ambas as partes não entrarem em um acordo nesta sexta, a vacina não for aprovada e a quantidade de doses ser uma das cláusulas previstas no contrato, que não é público, a Comissão Europeia pode entrar com uma ação legal contra a AstraZeneca.

Outro ponto preocupante diz respeito à eficácia da vacina. Na última segunda-feira, 25, um jornal alemão afirmou que ela era apenas 8% eficaz em idosos – grupo de risco da covid-19. O que, segundo a AstraZeneca e o governo alemão, não passou de um mal-entendido.

Para o ministro de saúde da Alemanha, “é provável que o jornal que noticiou o fato tenha misturado os dados” e que de “cerca de 8% dos voluntários testados no estudo tinham entre 56 e 69 anos de idade”. "Não se pode deduzir de que a eficácia da vacina é de apenas 8% em pessoas mais velhas por conta disso", disse ele em um comunicado.

Um artigo publicado na revista científica The Lancet afirmou que o número de idosos na fase de testes clínicos da vacina é muito pequeno para que uma eficácia específica seja consolidada na faixa etária. No Reino Unido, a vacina foi aprovada em pessoas acima de 18 anos, sem restrições.

Apesar disso, a Alemanha recomendou que a vacina seja tomada apenas por pessoas com idades abaixo dos 65 anos. De acordo com a agência de notícias AFP, a Comissão de Vacinação (STIKO) do país emitiu um documento no qual recomendava a vacinação para pessoas entre "18 e 64 anos".

O futuro da vacina é um mistério – pelo menos na União Europeia – que deve ser resolvido em breve. Resta esperar.

Sobre a vacina Oxford/AstraZeneca

Chamada de ChAdOx1 (AZD1222), a proteção é baseada no adenovírus (grupo de vírus que causam problemas respiratórios, como resfriados) enfraquecido de um chimpanzé.

A opção também contém a sequência genética das espículas do SARS-CoV-2. “Quando a vacina entra nas células dentro do corpo, ela usa o código genético para produzir as espículas de proteínas do vírus. Isso induz a uma resposta imune, o que prepara o sistema imunológico para atacar a doença se ela infectar o corpo”, explica a universidade britânica em um comunicado publicado em seu site oficial.

De acordo com a própria universidade, a vacina foi escolhida para a fase de testes por ter “a tecnologia mais adequada contra a covid-19 e se mostrou capaz de gerar uma forte resposta imune em apenas uma dose”.

A Oxford também garante que a vacina é segura para crianças, idosos e também pessoas com doenças prévias e consideradas de risco nos casos do coronavírus, como diabetes.

No Brasil, a vacina de Oxford será aplicada a partir de uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz. A vacina já foi aprovada para ser usada no país, e a Anvisa confirmou a eficácia global do imunizante em 70,42%, validando um estudo publicado no início de dezembro pela revista científica The Lancet.

As fases para a aprovação de uma vacina

Para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas fases de testes clínicos prévios e em humanos. Primeiro, ela passa por fases pré-clínicos, que incluem testes em animais como ratos ou macacos para identificar se a proteção produz resposta imunológica.

A fase 1 é a inicial, quando os laboratórios tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a fase 2 tenta estabelecer de a vacina ou o remédio produz imunidade contra um vírus.

Já a fase 3 é a última do estudo e procura demonstrar a eficácia da imunização.

Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando a fase 3 é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário.

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