Asteroide: no fim de 2017, cientistas identificaram pela primeira vez na órbita do Sol um asteroide extrassolar (NASA/Reprodução/Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de maio de 2018 às 21h03.
Em 2014, cientistas descobriram um asteroide que viaja pelo Sistema Solar "na contramão", isto é, em sentido contrário ao da maioria dos outros asteroides e de todos os planetas que giram em torno do Sol.
Agora, um novo estudo publicado por cientistas do Brasil e da França sugere que o asteroide "do contra" é também um "imigrante" de outro sistema planetário, que veio parar no Sistema Solar depois de ser capturado pelo campo gravitacional de Júpiter.
Com base em uma simulação computacional, o estudo foi publicado nesta segunda-feira, 21, na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters. A pesquisa foi realizada por Helena Morais, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro e por Fathi Namouni, do Observatório de Côte d'Azur, em Nice (França).
"Nós já havíamos construído uma teoria que explica o movimento desse asteroide. E, em 2017, publicamos um artigo a respeito na revista Nature. Para tentar compreender a origem do objeto, fizemos depois simulações em larga escala, que resultaram no novo artigo", disse Helena.
De acordo com a pesquisadora, o asteroide com trajetória retrógrada teria sido atraído para o campo gravitacional de Júpiter no final da época de formação dos planetas. Batizado de 2015 BZ509, mas também conhecido pelos astrônomos como Bee-Zed, o asteroide tem cerca de 3 quilômetros de diâmetro e dá uma volta completa em torno do Sol a cada 12 anos - o mesmo período da órbita de Júpiter, mas em sentido oposto.
Segundo os cientistas, foi preciso fazer uma simulação computacional em larga escala porque a interação gravitacional com os planetas traz um componente caótico aos movimentos orbitais. Com isso, uma diferença muito pequena nas iniciais pode resultar em discrepâncias enormes depois de bilhões de anos.
"Para superar esses problemas, tivemos que fazer um estudo estatístico muito pesado, simulando um milhão de órbitas. Estudos nessa escala nunca haviam sido feito antes. Geralmente, as simulações consideram, no máximo, mil possibilidades", explicou Helena.
Com as simulações - que levaram em conta não apenas a influência da gravidade dos planetas do Sistema Solar, mas também o efeito gravitacional de toda a galáxia -, os pesquisadores conseguiram reconstruir a trajetória do asteroide há 4,5 bilhões de anos, quando os planetas estavam terminando de se formar. O estudo mostrou que a órbita se manteve estável desde então.
Turistas e imigrantes
No fim de 2017, cientistas identificaram pela primeira vez na órbita do Sol um asteroide extrassolar, isto é, um "visitante" que teve origem em outro sistema planetário. Batizado de Oumuamua, esse asteroide cruza o Sistema Solar periodicamente. Mas o 2015 BZ509, ao que tudo indica, é um "imigrante" permanente.
Segundo Helena, o Oumuamua não se instalou permanentemente na órbita solar porque sua velocidade é tão alta que a atração do Sol foi suficiente apenas para curvar sua trajetória, tornando sua órbita um pouco mais hiperbólica. "Precisaria ter vindo com menos velocidade para que a trajetória se tornasse elíptica e fosse assim capturado pelo Sistema Solar", afirmou a cientista.
Estima-se que dos mais de 726 mil asteroides conhecidos até hoje, apenas 82 sejam retrógrados, isto é, circulem na "contramão" do Sistema Solar. O Bee-Zed, porém, é considerado incomum por causa da estabilidade de sua órbita, que permanece a mesma há bilhões de anos.