Cientistas de Cambridge compararam ressonâncias de 3.802 pessoas para identificar as mudanças
Publicado em 26 de novembro de 2025 às 11h45.
A Universidade de Cambridge divulgou nesta terça-feira, 25, um estudo que aponta que o desenvolvimento do cérebro é dividido em cinco eras.
Os pontos de virada acontecem em quatro fases da vida, aos 9, 32, 66 e 83 anos. A coautora do estudo e neurocientista, Alexa Mousley, afirma que este é o primeiro estudo que identifica as grandes fases da organização cerebral ao longo da vida humana.
“Essas eras fornecem um contexto importante para entendermos no que nosso cérebro pode ser melhor, ou mais vulnerável, em diferentes estágios da vida. Isso pode nos ajudar a compreender por que alguns cérebros se desenvolvem de forma diferente em momentos-chave, seja em dificuldades de aprendizagem na infância ou demência na velhice”, explica Mousley em comunicado.
Para realizar a análise, os cientistas estudaram ressonâncias magnéticas de 3.802 pessoas, desde bebês até idosos de 90 anos. O exame mapeia conexões neurais acompanhando como moléculas de água se movem pelos tecidos do cérebro. Desta forma, ele mostra as cinco grandes fases da estrutura cerebral da vida humana divididas em quatro pontos decisivos entre o nascimento e a morte.
Cada ponto de mudança marca uma nova estrutura cerebral:
“Quando olhamos para trás, muitos de nós sentimos que nossas vidas foram marcadas por diferentes fases. Acontece que os cérebros também passam por essas eras”, acrescentou o coautor do estudo e neurocientista Duncan Astle.
Segundo o material publicado, os pontos de virada separam as cinco "épocas" do cérebro.
O estudo define essa fase como a consolidação das redes neurais. É aqui que as sinapses em excesso que foram produzidas pelo bebê são eliminadas e somente as ativas sobrevivem para moldar a arquitetura inicial do cérebro.
As conexões cerebrais se reorganizam em um mesmo padrão até os 9 anos. Também é nesse período que o volume da massa cinzenta, que recebe e processa informações, pensamentos, memórias e emoções, e da branca, que transmite e acelera a comunicação entre diferentes áreas da massa cinzenta, aumenta.
Nesta etapa, é onde há maior risco de desenvolvimento de transtornos de saúde mental, onde o cérebro passa por uma mudança na capacidade cognitiva.
Aqui temos a maior fase, com 33 anos de duração antes da próxima virada.
A massa branca continua crescendo e as ressonâncias avaliadas apontam que nesta época as redes de comunicação do cérebro se tornam mais refinadas.
O pico do desempenho cognitivo acontece por volta dos 30 anos e representa o “maior ponto de virada topológico”, segundo a equipe que elaborou o estudo.
“Por volta dos 32 anos, vemos as mudanças mais direcionais na organização das conexões e a maior alteração geral na trajetória, comparado a todos os outros pontos de virada”, detalha Mousley. Nesta etapa, a arquitetura cerebral se estabiliza e atinge um platô de inteligência e personalidade.
Na metade da sexta década de vida, a terceira virada marca o início do envelhecimento da arquitetura cerebral.
Sem grandes mudanças marcantes, esse período é mais leve que os anteriores. No entanto, aos 66 anos começam mudanças significativas no padrão as redes cerebrais.
“Isso provavelmente está relacionado ao envelhecimento, com redução adicional da conectividade à medida que a massa branca começa a degenerar. Essa é uma idade em que as pessoas enfrentam maior risco de diversas condições de saúde que podem afetar o cérebro, como hipertensão”, explica Mousley.
Segundo o estudo, os dados desta fase são mais limitados, mas o principal ponto observado é que a conectividade geral do cérebro reduz ainda mais e ele passa a depender de algumas regiões enquanto outras perdem a função.
“Diferenças na organização cerebral, de fato, predizem dificuldades com atenção, linguagem, memória e uma série de comportamentos”, finaliza Astle.