Ciência

Aquecimento dos oceanos pode "colapsar" rede alimentar marinha

A elevação dos níveis de CO2 nos oceanos pode desencadear importantes consequências negativas para a vida marinha e, por extensão, para a sociedade

 (Comstock/Thinkstock)

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Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 2 de maio de 2017 às 12h31.

Última atualização em 2 de maio de 2017 às 13h21.

São Paulo - Os seres humanos dependem fortemente de serviços fornecidos pelos oceanos, especialmente quanto aos alimentos e às indústrias que surgem a partir disso. Atentos a essa relação, pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, simularam uma rede alimentar marinha para analisar como as mudanças climáticas poderiam afetar o futuro suprimento de peixes para alimentação humana e a biodiversidade naquele ecossistema. E o resultado não foi nada bom.

A pesquisa, publicada no periódico científico Global Change Biology, revela que, embora o aumento esperado dos níveis de dióxido de carbono (CO2) até o final do século afete positivamente a produção de alimentos em vários pontos da cadeia, o aquecimento das águas dos oceanos cancelará esse benefício, causando estresse aos animais marinhos e evitando que
eles usem de forma eficiente esses recursos abundantes para seu próprio crescimento e desenvolvimento.

O resultado é uma rede alimentar em colapso.

Diferentemente de pesquisas anteriores, que usavam apenas um sistema laboratorial simplificado centrado em um único nível da rede alimentar, os pesquisadores australianos criaram uma série de três níveis de redes alimentares para garantir um retrato mais apurado das relações de alimentação no ecossistema.

Eles construíram cadeias alimentares baseadas em algas e ervas marinhas que usam luz solar e nutrientes para crescer, pequenos invertebrados que se alimentam das algas (como camarões) e, por fim, peixes que se alimentam de pequenos invertebrados.

Para a comparação, foram usados 12 grandes aquários com diferentes espécies para imitar as condições dos mares havaianos, incluindo habitats de recifes rochosos que simulam os movimentos de maré com correntes circulares.

As redes alimentares dispostas nos aquários foram expostas aos níveis de acidificação e aquecimento previstos para o final deste século. Ao longo de vários meses, os pesquisadores avaliaram os processos básicos que operam em redes alimentares, como predação e crescimento de organismos.

Em um primeiro momento, os pesquisadores observaram que as concentrações elevadas de dióxido de carbono aumentaram o crescimento das plantas, garantindo mais alimento vegetal para os pequenos invertebrados, e, por tabela, para os seus predadores.

Porém, o subsequente aquecimento das águas cancelou este benefício inicial, causando stress aos animais. Os pequenos invertebrados tiveram dificuldade em  aproveitar com eficiência a "energia extra" das algas. Ao mesmo tempo, os peixes estavam ficando com mais fome a temperaturas mais altas e começaram a dizimar os pequenos invertebrados.

Na prática, os pesquisadores descobriram que o aquecimento do oceano seria um estressor que tornaria as redes alimentares menos eficientes, neutralizando o efeito "fertilizante" do dióxido de carbono elevado e desequilibrando a relação entre predadores e presas.

Dessa forma, a elevação da concentração do gás nos oceanos pode desencadear importantes consequências negativas para a vida marinha e, por extensão, para a sociedade.  "As consequências para os ecossistemas marinhos provavelmente serão severas," diz o professor Ivan Nagelkerken, que lidera as pesquisas.

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