Nasa: "Em alguns anos saberemos muito mais sobre estes planetas e esperamos saber se há vida no prazo de uma década", previu Triaud (NASA/JPL-Caltech/Reuters)
EFE
Publicado em 22 de fevereiro de 2017 às 16h24.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2017 às 16h25.
Londres - A apenas 40 anos-luz da Terra há um sistema estelar com sete planetas de massa similar ao nosso, três dos quais se encontram na área habitável e poderiam abrigar oceanos de água na superfície, o que aumenta a possibilidade de que esse sistema possa abrigar vida.
O sistema, localizado por um grupo internacional de astrônomos e cujo estudo foi publicado nesta quarta-feira pela revista "Nature", tem tanto o maior número de planetas do tamanho da Terra como o maior número de mundos que poderiam ter água em estado líquido na superfície.
Os seis planetas mais próximos à estrela, provavelmente rochosos, podem ter uma temperatura na superfície de entre 0 e 100 graus, a faixa na qual pode haver água em estado líquido, e três deles estão na chamada "área habitável", razão pela qual são candidatos especialmente promissores para abrigar vida.
Os corpos recém-descobertos giram em órbitas planas e ordenadas ao redor de TRAPPIST-1, uma estrela anã ultrafria com um brilho cerca de mil vezes menor que o do nosso sol.
O autor principal do estudo, Michaël Gillon, do Instituto STAR na Universidade de Liège (Bélgica), se mostrou animado com os resultados.
"Trata-se de um sistema planetário surpreendente, não só por termos encontrado tantos planetas, mas porque são todos assombrosamente similares em tamanho à Terra!", afirmou Gillon, segundo um comunicado.
O novo sistema é relevante para os cientistas por sua proximidade à Terra em termos astronômicos e porque é o primeiro que conta com sete planetas de um tamanho similar ao nosso, assim como pelo reduzido tamanho de sua estrela, uma particularidade que simplificará o estudo do clima e da atmosfera desses mundos.
Os sete planetas são 80 vezes maiores em relação à TRAPPIST-1 que a Terra em relação ao sol, motivo pelo qual bloqueiam uma grande quantidade de luz quando transitam na frente da estrela.
Isso facilita para os pesquisadores a tarefa de identificar seus componentes químicos por meio de técnicas de fotometria.
"Buscamos uma estrela muito pequena, ao contrário de outros grupos de astrônomos. Isso faz com que os planetas apareçam magnificados", explicou em entrevista coletiva por telefone Amaury Triaud, pesquisador da Universidade de Cambridge (Reino Unido).
Após uma primeira fase de "reconhecimento", os cientistas planejam agora iniciar "observações detalhadas para estudar o clima e a composição química dos corpos, com o objetivo de determinar se há vida nele".
"Em alguns anos saberemos muito mais sobre estes planetas e esperamos saber se há vida no prazo de uma década", previu Triaud.
Em 2010, o grupo de pesquisadores liderado por Gillon começou a esquadrinhar a vizinhança do sistema solar com o TRAPPIST (Telescópio Pequeno para Planetas em Trânsito e Planetesimais), situado no Chile.
A promissora descoberta inicial da estrela TRAPPIST-1 permitiu aos pesquisadores focar o telescópio espacial Spitzer da Nasa (agência espacial americana) em direção a esse ponto durante 20 dias sem interrupção.
A partir dessas observações e das de outros telescópios terrestres recolhidas durante anos, foram recopiladas evidências de 34 trânsitos de corpos em frente à estrela, que os cientistas atribuem às órbitas de sete planetas.
O sistema estelar, no qual os seis corpos interiores têm períodos orbitais de entre 1,5 e 13 dias, fez os astrônomos se lembrarem do que formam Júpiter e suas luas, tanto por suas proporções relativas como pelas órbitas compactas e próximas.
Nos últimos anos, os cientistas acumularam provas que os planetas do tamanho da Terra são comuns na galáxia, mas o trabalho de Gillon e seus colegas indica que são ainda mais abundantes do que se pensava.
Calcula-se que, por cada planeta que se detecta quando transita em frente a sua estrela, há uma multidão de outros corpos similares (entre 20 e 100 vezes mais) que permanecem inobserváveis porque da perspectiva terrestre não cruzam na frente do astro.