Ciência

Covid: anticorpo neutralizante pode ser indicador de proteção, diz Oxford

Pesquisadores da Universidade de Oxford analisaram o próprio imunizante contra o coronavírus e identificaram uma correlação entre anticorpos neutralizantes e proteção

Universidade de Oxford: o imunizante, feito em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, é baseado em adenovírus (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Universidade de Oxford: o imunizante, feito em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, é baseado em adenovírus (Tomaz Silva/Agência Brasil)

LP

Laura Pancini

Publicado em 5 de julho de 2021 às 11h44.

Última atualização em 5 de julho de 2021 às 11h44.

Em novo estudo, pesquisadores da Universidade de Oxford afirmam que o nível de anticorpos neutralizantes pode indicar o nível de proteção de sua vacina contra o coronavírus feita em parceria com a farmacêutica AstraZeneca.

Ao mesmo tempo, muitos pesquisadores acreditam que o anticorpo neutralizante não é o melhor (ou único) indicativo de proteção contra a covid-19.

Através de respostas imunológicas dos participantes de um ensaio clínico, a equipe identificou o ‘correlato de proteção’ na vacina Oxford/AstraZeneca.

Encontrar o correlato de proteção significa prever quão eficaz uma vacina será ainda em testes iniciais, o que pode acelerar a produção de imunizantes no futuro ao aliviar a necessidade de fazer ensaios de Fase III maiores.

“Gostaríamos de ter uma medida de anticorpos que seja um guia confiável para proteção, porque poderia acelerar o licenciamento de novas vacinas”, disse David Goldblatt, vacinologista da University College London, ao periódico científico Nature. Os resultados foram publicados em um estudo pré-impresso no site medRxiv.

Para determinar o correlato de proteção, os pesquisadores tendem a comparar casos raros (como, por exemplo, voluntários que se infectaram mesmo após receber a vacina) com as respostas imunológicas dos participantes do ensaio.

Porém, a alta eficácia das vacinas contra a covid-19 acabaram sendo um problema: com poucos casos inovadores relatados, encontrar o biomarcador se tornou um desafio.

Em maio, a Nature publicou um estudo que tenta determinar o correlato de proteção do coronavírus. Os autores examinaram dados de anticorpos neutralizantes em sete vacinas amplamente utilizadas e encontraram uma ligação entre níveis de anticorpos dos pacientes durante a fase inicial do estudo e os resultados da eficácia no estágio final.

A equipe chegou a conclusão que os anticorpos neutralizantes são um bom indicador do sucesso de uma vacina e que os imunizantes da Pfizer/BioNTech e da Moderna seriam mais eficazes que os da Oxford/AstraZeneca e Johnson & Johnson, por gerarem níveis relativamente baixos de anticorpos neutralizantes.

Já o novo estudo, que foca no imunizante de Oxford, confirma a relação entre anticorpos neutralizantes e proteção relatada na pesquisa anteriormente. A análise comparou 171 casos inovadores com mais de 1.404 pessoas que receberam a vacina e não desenvolveram qualquer infecção sintomática da doença.

A equipe determinou que participantes com níveis mais elevados de anticorpos neutralizantes e de ligação, que reconhecem a proteína de espícula do SARS-CoV-2, ganharam proteção mais forte, mas não total, contra infecções sintomáticas. Os níveis variavam entre 50% a 90% de proteção.

Os pesquisadores de Oxford acreditam que outras vacinas que desencadeiam respostas semelhantes de anticorpos podem gerar níveis semelhantes de proteção contra infecções sintomáticas. Para Goldblatt, porém, ainda não é certo se o que foi concluído no estudo será capaz de prever o sucesso de outras vacinas, especialmente as com tecnologias diferentes.

A vacina de Oxford é baseada em adenovírus, enquanto as da Moderna e da Pfizer/BioNTech usam mRNA. Outras, como a Coronavac, administram a própria proteína ou usam uma versão inativada do vírus SARS-CoV-2.

Por que alguns pesquisadores resistem o anticorpo neutralizante?

Apesar dos dois estudos indicarem o anticorpo neutralizante como um bom correlato de proteção, muitos pesquisadores acreditam que mais pesquisas devem ser realizadas antes de determinar o anticorpo como biomarcador.

Para Philip Dormitzer, vice-presidente e diretor científico de vacinas virais da Pfizer, não está claro se os altos níveis de anticorpos neutralizantes explicam a proteção que a vacina da empresa oferece.

Os níveis, de acordo com Dormitzer, são indetectáveis em muitas pessoas até elas receberem a segunda dose, enquanto ensaios clínicos e estudos internacionais sugerem que a vacina já oferece proteção forte após uma dose.

Os anticorpos neutralizantes também não conseguem prever a eficácia da vacina contra variantes e seus níveis diminuem com o tempo.

Dormitizer e outros pesquisadores acreditam que é necessário distinguir biomarcadores que conseguem prever o sucesso das vacinas, como seria o caso dos anticorpos neutralizantes, e aqueles que são responsáveis por trazer proteção. Existem outras propriedades na vacina que podem explicar a resposta imune.

  • Assine a EXAME e fique por dentro das últimas notícias da ciência e da tecnologia.
Acompanhe tudo sobre:AstraZenecaCoronavírusUniversidade de Oxfordvacina contra coronavírus

Mais de Ciência

Medicamento parecido com Ozempic reduz sintomas de abstinência de cocaína, revela estudo

Arqueólogos descobrem primeira tumba de faraó em mais 100 anos

Brasil avança no uso de germoplasma e fortalece melhoramento genético

Este é o cão com a mordida mais forte do mundo – e não é o pitbull