Ciência

Antártica se blinda e consegue se manter livre do coronavírus

Todas as viagens de turismo foram canceladas, pessoal considerado dispensável deixou a região e proibiu-se o contato entre as bases internacionais

Antártica: antes da pandemia, a interação era permanente entre diferentes bases internacionais (Getty Images/Reprodução)

Antártica: antes da pandemia, a interação era permanente entre diferentes bases internacionais (Getty Images/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de maio de 2020 às 15h38.

Última atualização em 14 de maio de 2020 às 15h46.

Enquanto os casos de coronavírus se espalham pelo mundo há um único continente que respira aliviado: a Antártica. Graças às estritas medidas de controle e um pouco de sorte, neste local ainda não se foi registrado nenhum caso da COVID-19.

Desde que a pandemia foi declarada, no último 11 de março, o habitual isolamento desse lugar naturalmente remoto se tornou ainda mais extremo.

Todas as viagens de turismo foram canceladas, o pessoal considerado dispensável deixou a região, proibiu-se o contato entre as bases internacionais e foram estabelecidos estritos controles de saúde.

"Estamos isolados nesse local naturalmente isolado que já temos", disse à AFP por telefone Alejandro Valenzuela, capitão de fragata e governador marítimo na Antártica chilena.

A vida na Antártica requer muita coordenação e cooperação entre os membros das quase 40 bases permanentes e missões científicas localizadas nas ilhas vizinhas, na península antártica e no continente.

Atualmente, dez membros da Marinha chilena estão na base Escudero, na Baía de Fildes, das Ilhas Shetlands do Sul, considerada a porta de entrada para a Antártica.

Ali também estão as bases da Força Aérea Chilena (FACH) e a Direção Geral de Aeronáutica Civil. Nas proximidades, há uma das cinco bases da Rússia, uma do Uruguai, uma da Coreia e uma da China.

Ânimo em meio ao frio

Antes da pandemia, a interação era permanente entre diferentes bases internacionais.

Nessas terras de gelo, o pessoal destacado realizava tarefas em conjunto de carregamento de carga e descarga, e compartilhava áreas de lazer, participando de campeonatos esportivos e convites mútuos para comemorações e aniversários.

Mas o medo do coronavírus eliminou todo contato físico.

Felizmente, o início da pandemia coincidiu com o final da alta temporada turística, que a cada ano traz cerca de 50.000 visitantes.

O último navio turístico a chegar na Baía de Fildes foi em 3 de março, quando o primeiro caso de coronavírus foi registrado no Chile.

A partir de abril, as condições climáticas impedem drasticamente qualquer visitante de viajar para ou do continente antártico, isolando o pessoal de bases permanentes.

A declaração de uma pandemia pela OMS tornou os controles a partir dessa data ainda mais rígidos.

"A carga é higienizada antes de poder entrar e o contato com os navios é mínimo. As pessoas ficam a bordo e não temos contato direto", explica o capitão Valenzuela.

Protocolos rígidos de higiene também foram adotados na Base Aérea presidente Eduardo Frei Montalva. Por exemplo, o número máximo de pessoas na mesa de jantar da base agora é limitada a quatro, e as atividades esportivas na academia foram suspensas.

Apenas nove funcionários continuam na base uruguaia Artigas após a recente evacuação de 10 pessoas sob um forte protocolo sanitário.

"A próxima substituição será na primeira quinzena de dezembro, para que as pessoas que ficaram lá passem o inverno inteiro", disse à AFP o contra-almirante Manuel Burgos, presidente do Instituto Antártico Uruguaio.

Nas bases da Antártica, a animosidade é sentida, tanto que agora "somos nós que enviamos mensagens de encorajamento para nossas famílias" no resto do Chile, explica o capitão Valenzuela, que chegou à Antártica em novembro do último ano.

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