Ciência

Ameaça invisível: fungos mortais vão invadir novas regiões com o aquecimento global, diz estudo

Estudo prevê aumento da propagação de fungos causadores de aspergilose e alerta para desafios na saúde pública global

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 24 de maio de 2025 às 11h28.

Pesquisadores da Universidade de Manchester indicam que fungos do gênero Aspergillus, responsáveis por doenças graves em humanos e plantas, poderão ampliar sua distribuição geográfica devido ao aquecimento global.

Estes fungos causam a aspergilose, infecção pulmonar com alta taxa de mortalidade, e seu avanço para novas regiões preocupa especialistas.

Distribuição atual e futura das espécies de Aspergillus

O estudo utilizou modelagem por Máxima Entropia (MaxEnt) combinada com dados globais de sequenciamento ambiental para mapear a atual e futura adequação climática para três espécies patogênicas: A. fumigatus, A. flavus e A. niger.

Foi constatado que A. fumigatus predomina em climas temperados do hemisfério norte, enquanto A. flavus e A. niger preferem regiões mais quentes, típicas dos trópicos.

Com o avanço dos cenários climáticos mais severos previstos para o fim do século, todas as três espécies tendem a expandir sua área de ocorrência em direção aos polos, principalmente no hemisfério norte, abrangendo partes da América do Norte, Europa, Rússia e China. Já algumas regiões do hemisfério sul, como partes da África e da América do Sul, podem se tornar menos favoráveis para esses fungos devido ao aumento extremo das temperaturas.

Impactos para a saúde humana e segurança alimentar

Essa expansão tem impactos diretos para a saúde humana, pois a aspergilose apresenta mortalidade entre 20% e 40% e afeta principalmente pessoas com o sistema imunológico comprometido, além de ser difícil de diagnosticar por apresentar sintomas comuns a outras doenças respiratórias.

Além dos riscos à saúde, A. flavus representa uma ameaça significativa à segurança alimentar, já que essa espécie pode contaminar culturas agrícolas importantes com aflatoxinas, toxinas que prejudicam a saúde humana e animal. O fungo é resistente a diversos antifúngicos, o que dificulta seu controle.

Influência das mudanças climáticas na adaptabilidade dos fungos

As mudanças climáticas também podem aumentar a tolerância térmica dos fungos, facilitando sua sobrevivência no corpo humano.

Eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, têm potencial para disseminar os esporos a longas distâncias, ampliando a exposição da população.

Por outro lado, a importância ecológica dos fungos como recicladores de nutrientes em solos saudáveis ressalta que a redução do habitat desses organismos em certas regiões pode trazer desequilíbrios ambientais.

Vigilância e desafios futuros

O estudo destaca ainda que há uma correlação entre a distribuição ambiental dos fungos e a prevalência clínica das infecções, o que pode ajudar a orientar futuras estratégias de vigilância e manejo clínico.

Especialistas reforçam a necessidade urgente de ampliar o conhecimento e o monitoramento sobre fungos patogênicos, que até hoje são pouco estudados em comparação com vírus e bactérias, mas que já são responsáveis por milhões de mortes anuais e devem se tornar uma ameaça crescente em um mundo mais quente.

O estudo reforça ainda a urgência de ações globais para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas no campo da saúde pública e segurança alimentar.

Acompanhe tudo sobre:Pesquisas científicasMudanças climáticas

Mais de Ciência

Animal gigante das profundezas é encontrado em quase todos os oceanos — e ninguém sabia até agora

Após Katy Perry, Blue Origin anuncia nova tripulação para 32º voo espacial

Lobo-terrível: cientista revela ser impossível recriar espécie extinta; entenda

Cientistas descobrem novas técnicas de rejuvenescimento humano — e anfíbios são os grandes 'heróis'