Ciência

A teoria por trás da equação na lápide de Stephen Hawking

Fórmula registra a descoberta que transformou o estudo dos buracos negros e motivou buscas experimentais da Nasa e do Cern

Stephen Hawking: cientista da Universidade de Cambridge, que faleceu aos 76 anos em 14 de março, tornou-se uma personalidade de renome mundial (Toby Melville/Reuters)

Stephen Hawking: cientista da Universidade de Cambridge, que faleceu aos 76 anos em 14 de março, tornou-se uma personalidade de renome mundial (Toby Melville/Reuters)

Publicado em 24 de novembro de 2025 às 16h46.

A lápide de Stephen Hawking, instalada na Abadia de Westminster, em Londres, traz a frase — “Aqui jaz o que era mortal de Stephen Hawking (1942-2018)” — acompanhada de uma equação. Não se trata de um detalhe estético. O físico escolheu deixar registrado o trabalho científico que considerava sua contribuição mais relevante: a teoria da radiação Hawking.

Ao longo de sua carreira, Hawking publicou diversos estudos, escreveu livros de divulgação, participou de documentários e se tornou uma das figuras mais reconhecidas da ciência. Mesmo após o diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), aos 21 anos, continuou ativo em pesquisas que influenciaram a física moderna. Entre todas essas realizações, a radiação que leva seu nome foi aquela que ele desejou ver perpetuada.

Como a radiação Hawking surgiu

Na década de 1970, Hawking investigava o comportamento da matéria ao redor de buracos negros, regiões do espaço onde nem a luz consegue escapar. A física clássica afirmava que esses objetos não emitiam nada. No entanto, ao analisar fenômenos quânticos próximos ao horizonte de eventos — a fronteira que separa o interior do buraco negro do restante do Universo — ele encontrou algo inesperado.

O ponto de partida foi o chamado processo de produção de pares: um fóton pode se transformar momentaneamente em uma partícula e sua antipartícula, que logo se anulam e voltam a ser luz. Hawking se perguntou o que aconteceria se esse processo ocorresse exatamente no limite do buraco negro.

Segundo seu cálculo, um dos membros do par pode ser puxado para dentro, impedindo que o outro finalize o ciclo de aniquilação. A partícula que escapa aparece como uma forma de energia emitida pelo buraco negro. Essa emissão é a radiação Hawking — o conceito representado pela equação na lápide.

A busca por evidências e o impacto na física moderna

A radiação Hawking estabelece que buracos negros perdem energia ao longo do tempo. Isso significa que, após bilhões de anos, eles podem se evaporar completamente. A previsão muda a compreensão sobre o destino desses objetos e conecta a gravidade com a mecânica quântica, duas áreas fundamentais da física que ainda não estão unificadas.

Embora a radiação prevista por Hawking nunca tenha sido observada diretamente, ela orienta pesquisas em instituições como a Nasa e o Cern. O telescópio espacial Fermi monitora fontes de raios gama que poderiam indicar a evaporação de buracos negros primordiais. Já o Grande Colisor de Hádrons busca sinais de miniburacos negros formados em colisões, que se desintegrariam emitindo partículas associadas à radiação prevista.

Hawking reconhecia que a comprovação experimental poderia ter rendido a ele um Nobel. No entanto, mais de 50 anos após a publicação de sua teoria, a busca continua — e a equação na sepultura simboliza o desafio científico que marcou sua vida.

Acompanhe tudo sobre:Stephen HawkingFísica

Mais de Ciência

Estudo revela que pessoas musculosas apresentam envelhecimento cerebral mais lento

Pílula do Ozempic fracassa em testes contra Alzheimer

Origem do beijo: prática surgiu muito antes dos humanos, revelam cientistas

Anéis de Saturno podem ‘desaparecer’ neste fim de semana; entenda