Ciência

A misteriosa relação entre esquilos e astronautas da Nasa

Pesquisador brasileiro Rafael Dai Prá é doutorando em Yale e estuda a hibernação induzida em esquilos listrados — o que pode, em um futuro distante, nos mostrar como fazer o mesmo em humanos para longas viagens espaciais

O esquilo listrado, que não existe no Brasil, é o animal estudado pelo pesquisador brasileiro Rafael Dai Prá (GRACHEVA LAB/Divulgação)

O esquilo listrado, que não existe no Brasil, é o animal estudado pelo pesquisador brasileiro Rafael Dai Prá (GRACHEVA LAB/Divulgação)

LP

Laura Pancini

Publicado em 28 de outubro de 2021 às 11h25.

Última atualização em 28 de outubro de 2021 às 14h20.

Qual a relação entre esquilos listrados e astronautas da Nasa? Pode soar como uma ideia de outro planeta, mas pesquisadores como o brasileiro Rafael Dai Prá acreditam que seus estudos na área de fisiologia animal podem um dia ser a chave para entender como poderíamos fazer hibernação induzida em humanos.

Do interior do Rio Grande do Sul, Rafael Dai Prá é estudante de doutorado em Fisiologia na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. A pesquisa de Dai Prá sobre a hibernação de esquilos listrados foi uma das vencedoras do Publica na Summit, um evento realizado pela BRASA, associação de estudantes brasileiros no exterior, que tem como intuito democratizar e divulgar pesquisas científicas feitas por estudantes brasileiros em universidades ao redor do mundo.

A pesquisa busca entender a fisiologia dos esquilos listrados e seus processos de hibernação e maturação sexual. Em um futuro muito distante, o estudo do brasileiro pode ser a chave para entender como poderíamos fazer hibernação induzida em humanos ou outras espécies.

No caso de viagens para Marte ou a Lua, por exemplo, como sonham os bilionários Elon Musk e Jeff Bezos, a hibernação induzida pode ser a chave para transportar humanos. Pensando na realidade da Terra, ela também pode ser útil para a medicina emergencial

“Os esquilos diminuem temperatura, batimento cardíaco e padrão respiratório, mas continuam vivos. Em outras espécies, isso não é possível. Será que conseguimos induzir isso?”, explica Dai Prá. “Em emergências, poderíamos tentar diminuir a temperatura corporal para que o coração faça menos batimentos. Assim, daria tempo o suficiente para médicos resolverem o problema.”

Apesar do imenso campo de possibilidades, a pesquisa do brasileiro é o primeiro de muitos passos para chegar até o estudo em humanos. Antes de mais nada, o foco é em entender a fisiologia do esquilo listrado que, por não ser um animal modelo como o rato ou o camundongo, não tem tantas pesquisas sobre. “Estamos tentando entender como esses animais conseguem hibernar, é a pergunta de 1 milhão de reais. Várias perguntas na área de hibernação ainda estão abertas”, disse.

Os esquilos listrados pertencem a ambientes muito frios e, portanto, não existem no Brasil. A hibernação nesses animais, envolve dois estágios fisiológicos maiores. O primeiro é o torpor, quando os animais reduzem a temperatura corporal, batimento cardíaco e padrão respiratório. Sem comida e sem água, são capazes de hibernar de 5 a 7 meses utilizando reserva de gordura.

Depois, os esquilos passam por uma fase na qual eles acordam por 24 a 48 horas. Eles permanecem nas tocas embaixo da terra, mas voltam a um estado mais ativo. A hipótese, explica Dai Prá, é que isso está relacionado ao cérebro, que não pode passar tanto tempo frio. 

Durante o estudo, Dai Prá faz um acompanhamento contínuo dos animais utilizando leituras de temperaturas corporais e coletas de sangue (durante as fases acordadas) para identificar como eles estão passando pelo processo de maturação, e como os hormônios sexuais estão relacionados à hibernação.

Os dados obtidos pelo pesquisador até o momento demonstraram que existe uma relação entre hormônios sexuais e a hibernação, mas mais pesquisas precisam ser feitas nesta área da fisiologia que, de acordo com Dai Prá, só deve crescer no futuro.

“Acreditamos que no futuro os nossos achados podem levar a um maior entendimento e possível indução nas outras espécies”, disse. “Se a gente conseguir encontrar, não vai ser um grupo de neurônios. Vai ser uma orquestra. Se encontrarmos todos os instrumentistas envolvidos, talvez seja possível induzir, sim, hibernação em outras espécies.”

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