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A ciência por trás de Planeta dos Macacos - A Origem

Quais são os erros e acertos científicos do filme

O Planeta dos Macacos: A Origem (Divulgação)

O Planeta dos Macacos: A Origem (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2011 às 22h57.

São Paulo - A disparidade entre a ciência mostrada no cinema e a ciência real costuma ser enorme. Mas há filmes que, se não são inteiramente ‘cientificamente corretos’, usam pesquisas e conceitos reais com certa verossimilhança. É o caso de Planeta dos Macacos - A Origem, feitas, é claro, as várias e devidas ressalvas.

Não é segredo que os símios do filme ficam mais inteligentes. Uma pesquisa conduzida com o intuito de curar a doença de Alzheimer, usando um vírus, faz com que sejam criadas novas sinapses, conexões entre os neurônios. Este é o primeiro ponto do filme em que, apesar de partir de uma premissa interessante - o fato de não hevar hoje remédio capaz de curar o Alzheimer -, o resultado final é fantasioso.

"O foco dos remédios pesquisados atualmente é inibir ou degradar a proteína beta-amiloide", explica David Schlesinger, pesquisador no Instituto do Cérebro do Hospital Albert Einstein. A proteína beta-amiloide se acumula no cérebro e prejudica a transmissão de informações entre os neurônios, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.

Sem energia - O medicamento mostrado no filme aumentaria as sinapses dos pacientes, mas aqui há mais problemas. "A doença de Alzheimer não é causada por um problema de sinapses", diz Schlesinger. "Então, o remédio não adiantaria nada." Sem contar que aumentar o número de sinapses seria inviável, segundo a neurocientista Suzana Herculano-Houzel. "Existe um número máximo de sinapses por quantidade de tecido cerebral", diz Suzana.


O problema do aumento hipotético das sinapses seria o consequente aumento do consumo de energia pelo cérebro. Embora represente apenas 2% do peso corporal, o cérebro consome 25% da energia produzida pelo corpo. Um aumento do número de sinapses seria inviável energeticamente.

Quanto ao uso de um vírus, os roteiristas acertaram por tabela. Foi anunciada, na semana passada, uma pesquisa que pela primeira utiliza vírus modificados geneticamente para combater células cancerosas. A aplicação de remédios assim no cérebro seria, no entanto, extremamente complicada. “É muito difícil controlar onde e quando os vírus atuam”, afirma Schlesinger.

Planeta dos camundongos - Talvez o principal problema do filme seja que, embora os macacos sejam usados em várias pesquisas médicas, inclusive neurológicas, não são usados no teste de medicamentos contra o Alzheimer.

Para este fim, embora não constituam o que os cientistas chamam de "modelo ideal" (organismo usado para replicar as reações que os seres humanos teriam a uma determinada substância), são utilizados camundongos alterados geneticamente para desenvolver Alzheimer.

Os camundongos, aliás, foram os únicos animais modificados geneticamente para ganhar supercérebros. Uma pesquisa realizada pelos pesquisadores Anjen Chenn e Christopher Walsh em 2002 modificou a produção de uma proteína que fez com os camundongos desenvolvessem cérebros maiores que o normal. A pesquisa tinha como objetivo estudar os mecanismos da neurogênese, nascimento de novos neurônios, e foi bem sucedida neste aspecto. Mas nenhum dos camundongos com o cérebro gigante chegou a nascer e foi impossível fazer testes determinando se eles eram mais espertos que os outros.

Voz de macaco - Um dos símios mostrados no filme consegue, a certa altura, falar como um humano. Mesmo que fosse possível tornar os gorilas, chimpanzés, orangotangos e bonobos — espécies retratadas no filme —inteligentes a este ponto, o aparelho vocal deles não tem a anatomia necessária para fazer sons iguais aos dos humanos.

Mas o filme acerta quando mostra os símios usando a linguagem de sinais. Projetos realizados por cientistas pioneiros como o americano Herbert Terrace, professor do departamento de psicologia da Universidade de Columbia, ensinaram chimpanzés a usar a linguagem humana para se comunicar. O experimento, realizado nos anos 1970, ensinou Nim Chimpsky (uma brincadeira com o linguista Noam Chomsky) a combinar 125 sinais para se comunicar. E assim, como o personagem de James Franco faz com o filhote de chimpanzé Caesar, ele foi criado como um humano pelos pesquisadores.

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