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Voguing e a libertação dos jovens chineses através dos anos 70

Depois de passar pelo Japão e pela Coreia do Sul, o fenômeno do "Voguing" atingiu recentemente a China por meio de Taiwan, Hong Kong e, finalmente, Xangai

Nos bastidores de uma festa de 'voguing' em um bar de Pequim. (Laurie Chen/AFP)

Nos bastidores de uma festa de 'voguing' em um bar de Pequim. (Laurie Chen/AFP)

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Julia Storch

Publicado em 4 de abril de 2021 às 06h27.

Couro, peruca, salto agulha e glitter. Na China, as minorias sexuais se liberam ao ritmo do "voguing", um estilo de dança inspirado nos desfiles de moda que as "drag queens" adaptaram ao seu gosto.

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Lésbicas, gays, transgêneros, bissexuais e "queers" (LGTBQ) sofrem pressão familiar, social e política e têm dificuldades de se assumir em um país que esperou até 2001 para parar de considerar a homossexualidade uma doença mental.

É por isso que, nesta noite de sábado, estão loucos de alegria com o maior baile de "voguing" organizado na austera capital chinesa. Desfilando na pista ao som de música house ensurdecedora, os dançarinos, muito maquiados, eletrizam o público com suas poses obscenas e movimentos característicos do "voguing".

Livres, centenas de jovens LGTBQ chineses, muitos deles vindos de longe, gritam com entusiasmo, enquanto os jurados selecionam os melhores dançarinos. "É a recriação dos marginalizados", estima o organizador da festa, Li Yifan, mais conhecido como "Bazi". Aos 27 anos, este pilar da vida noturna de Pequim dá aulas de "voguing", uma dança "com forte vitalidade" que reflete "o espírito de resistência das minorias sexuais".

De Nova York a Pequim

O "voguing" decolou entre a comunidade gay de Nova York na década de 1970, especialmente nas comunidades negra e latina. Madonna deu mais visibilidade em 1990 com seu hit "Vogue".

Depois de passar pelo Japão e pela Coreia do Sul, o fenômeno atingiu recentemente a China por meio de Taiwan, Hong Kong e, finalmente, Xangai. É "uma subcultura dentro de outra subcultura", mas está-se preparando para se tornar dominante, assegura Bazi.

"O voguing prospera aqui há dois anos", diz Huahua, de 23 anos, que se define como "queer não binário" (uma pessoa que não se sente homem, ou mulher). "Os fãs são muito jovens, mas também muito entusiasmados e apaixonados. Como mudas que criam raízes em todos os lugares".

Uma drag queen participa de uma competição de 'voguing' em Pequim. (Laurie Chen/AFP)

Huahua entrou na competição com longas tranças e uma capa preta. Começou no "voguing" em 2016 e logo foi fisgado pelos movimentos extravagantes que lembram os velhos filmes de Hollywood e desfiles de alta-costura.

'História trágica'

O "voguing" é como "uma libertação, uma forma de sentir felicidade pela primeira vez na minha vida", explica Huahua, que teve uma adolescência difícil, devido à sua diferença sexual. Dançar "já faz parte da minha vida. Não ando normalmente, mas como se andasse como uma modelo".

Na China, o "voguing" também é popular entre as jovens heterossexuais, diz Bazi porque, como as pessoas LGBTQ, "elas são oprimidas pelo patriarcado". Alguns temem, porém, que, quando entrar na moda, acabe se comercializando e perdendo o contato com suas raízes.

"O voguing tem uma história trágica", lembra Huahua. "É uma dança nascida do sofrimento de toda uma geração confrontada com o racismo, a intolerância e a depressão", insiste, acrescentando que muitos dos pioneiros desta forma artística morreram de aids. "Se quisermos popularizá-lo, as pessoas precisam entender a história por trás dele", frisou.

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