Ocean Fathoms: a empresa é especializada em envelhecer vinhos em alto mar. (Ocean Fathoms/Instagram)
Bloomberg
Publicado em 22 de julho de 2021 às 14h30.
Última atualização em 22 de julho de 2021 às 15h03.
Este é um artigo sobre um naufrágio, um oceano, garrafas de champanhe centenárias, uma patente registrada dos Estados Unidos, Tommy Lee, da banda Mötley Crüe, e a história do vinho na Califórnia.
Começa com um mergulhador, um surfista, um enólogo e um francês que afundaram gaiolas especiais com vinho na costa de Santa Bárbara, Califórnia, na tentativa de criar a primeira adega e clube subaquático do mundo somente para membros. Só que eles fizeram isso sem autorização do estado, perto do local de um enorme vazamento de petróleo no mar há cinco décadas. Isso despertou a ira da Comissão Costeira da Califórnia, que acusou o empreendimento de violar deliberadamente a lei e ordenou que as gaiolas fossem removidas.
Então, depois de ganhar tempo para cumprir a ordem citando a pandemia, uma festa cara de retirada das garrafas foi organizada e gravada para as redes sociais.
“Acho que é preciso uma certa arrogância apenas para fazer o que você quer, como quiser, onde quiser”, disse Jennifer Savage, gestora de políticas da Surfrider Foundation, na Califórnia. “Há razões pelas quais as pessoas não podem simplesmente jogar tudo o que quiserem no fundo do oceano.”
A comissão deve votar no próximo mês um pedido para aprovar as gaiolas e permitir que mais engenhocas sejam afundadas. Uma equipe da comissão recomendou que o pedido fosse negado, dizendo que não atende aos principais critérios de uso para ser aprovado sob o Coastal Act, uma lei estadual histórica aprovada em 1976 para proteger os recursos costeiros, promover o acesso público e equilibrar a conservação com o desenvolvimento.
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O cofundador da Ocean Fathoms, Emanuele Azzaretto — o mergulhador —, disse que seu plano promove o vinho, a economia azul, não prejudica o meio ambiente e amadurece o vinho mais rápido do que o armazenamento normal.
“Santa Bárbara é oceano e vinho”, disse Azzaretto, que passou anos na África Oriental desenvolvendo parques marinhos e de caça. “Bem, acabamos de casar as duas coisas e estamos fazendo isso de uma maneira realmente limpa.”
Em 2010, exploradores encontraram um barco que afundou no Mar Báltico. Os mergulhadores conseguiram resgatar 168 garrafas de champanhe que datavam de 1840-1841. O espumante tinha bom sabor, dando início a uma indústria incipiente.
Espanha e Itália agora têm instalações de armazenamento subaquático. Uma vinícola subaquática na Croácia ostenta vinho armazenado em jarros de barro, embora as tentativas de replicar esses esforços na Baía de Chesapeake e na costa da Carolina do Norte tenham sido infrutíferas. O Underwater Wine Congress foi organizado em 2019, e outro congresso está agendado em Bilbao, Espanha, em 2022. O congresso não respondeu a pedidos de comentários.
Em 2015, segundo Azzaretto, ele criou uma gaiola especial com metais reciclados que funciona como uma bateria, carregando a estrutura usando as ondas e mexendo o vinho enquanto as garrafas são mantidas no escuro, em condições frescas necessárias para o armazenamento e preservação. Azzaretto começou a fazer experiências em 2016, primeiro com 12 garrafas, depois com 50. Uma gaiola foi lançada em 2019 e duas em 2020, segundo o estado da Califórnia. Ele aprovou a patente em 2020.
Para Azzaretto, seu projeto é como pescar caranguejo: “Você desce uma gaiola, depois a puxa de volta”, diz. “Tenho vinho jovem. Eu transformo em vinho mais velho.”
As tentativas de obter licenças para o projeto se perderam em um labirinto de jurisdições e atrasos devido à covid-19, disse Azzaretto. “Eu não sabia que estava fazendo algo errado. Fui a todos os escritórios do porto. Disse a todos o que estava fazendo.”
A Ocean Fathoms diz em seu site que o empreendimento é uma “adega permitida”, mas, segundo a comissão, isso que não é verdade. Na semana passada, Azzaretto disse que a linguagem do site é um pouco ambígua. “Acho que devemos corrigir isso”, disse.
A Ocean Fathoms solicitou licenças somente depois de lançar as gaiolas no mar, e a comissão tomou conhecimento das caixas por meio do Corpo de Engenheiros do Exército, disse Kate Huckelbridge, vice-diretora da comissão costeira.
“O armazenamento de vinho não se encaixa em nenhum desses sete usos definidos” no Coastal Act, disse Huckelbridge.
“Ocupa habitat e espaço quando existem criaturas lá”, disse. “Esmaga tudo o que está por baixo.”
O estado da Califórnia enviou um alerta de violação para a Ocean Fathoms em 2 de fevereiro e ordenou que as gaiolas fossem removidas até 14 de fevereiro.
A Ocean Fathoms pediu uma extensão, citando a covid-19 e questões de planejamento. O estado concordou e estendeu o prazo de remoção até 15 de março. Enquanto a comissão investigava a violação, a Ocean Fathoms apresentou um pedido formal de autorização para as gaiolas antigas e futuras.
Com a extensão do estado em mãos, a empresa e uma loja de vinhos em Beverly Hills ofereceram uma viagem de barco de luxo ao local no dia 13 de março. Comeram e beberam, viram as gaiolas serem retiradas e escolheram uma garrafa levantada do oceano (avaliada em 300 dólares) por conta própria. As entradas online custavam 1.000 dólares.
A Ocean Fathoms tem fãs. Em cartas, o supervisor do condado de Santa Bárbara, Das Williams, instou a comissão a aprovar a licença.
A Ocean Fathoms lista sete vinícolas ou vinhedos como “parceiros de colaboração”. Um deles, a Francis Ford Coppola Winery, conta uma versão diferente. “Fizemos perguntas e provamos algumas amostras, mas não avançamos com o envio de nenhum de nossos vinhos”, disse por e-mail Rick Toyota, vice-presidente da The Family Coppola, que não quis fazer outros comentários.
Tommy Lee, baterista da banda Mötley Crüe, provou uma garrafa, mas não é um parceiro, disse Azzaretto.