Para o consumidor brasileiro de jeans, o tecido é um dos mais versáteis do guarda-roupa pois pode ser usado em diversos ambientes e ocasiões. (d3sign/Getty Images)
Julia Storch
Publicado em 9 de agosto de 2021 às 16h16.
Última atualização em 9 de agosto de 2021 às 16h39.
Para todos os corpos e quase todas as ocasiões, o jeans se faz presente. No varejo nacional, as peças feitas do tecido representam 11,3% do consumo de roupas, e no ano passado, movimentaram 22 bilhões de reais, mesmo com o mercado de moda sob os efeitos da pandemia.
No país, são gerados mais de 100 mil empregos com a produção do tecido no Brasil. Com mais de 30% de participação no mercado nacional e latino-americano, a Vicunha, multinacional brasileira em soluções jeanswear, juntamente com a Tecnoblu, fabricante de etiquetas para a moda, encomendou ao IEMI Inteligência de Mercado, uma pesquisa para entender o mercado consumidor de jeanswear no país.
Ainda que com grande presença no mercado, houve uma retração em vendas com a pandemia. No ano passado, a Vicunha perdeu por volta de 20% do faturamento ante 2019. Porém, para este ano, a expectativa de crescimento está entre 20% a 25% em relação ao ano passado.
Isso se deve não apenas ao reaquecimento do mercado como à versatilidade do jeans. “Trata-se de uma peça híbrida, tanto pode ser sofisticada, com uso formal para uma festa, quanto para ser usada em casa. A história da velha calça jeans que compete lado a lado com moletom”, diz Marcelo Prado, sócio-diretor do IEMI.
Para entender melhor o mercado consumidor, a pesquisa ouviu dois grupos: os “amantes da moda”, que atuam como os grandes propagadores de tendências de consumo desse produto; e os jovens da geração Z, acima de 16 anos, que irão compor a grande massa de consumidores nos próximos dez anos.
A seguir trechos da entrevista com Marcelo Prado.
Vimos no ano passado, com a pandemia, mudanças nas tendências no consumo de roupas, com o crescimento em vendas de roupas confortáveis. Como ficou o mercado de jeans?
Falando especificamente de 2020, o setor têxtil foi muito mal. Na relação de bens de consumo, vestuário e calçados disputaram com o automóvel o pior desempenho em 2020. Nós fechamos o ano passado com a queda de 17,8%, sobre o mesmo período do ano anterior. Porém, o desempenho anual do jeans, dentro desse contexto, ficou perto dos 13%, foi o segmento que melhor performou.
Vislumbrando o possível fim da pandemia, quais são as previsões para o mercado têxtil e de jeans?
Temos uma cadeia completa de fabricação de jeans no Brasil. Desde o início da produção, com o fio do algodão à confecção, somos um dos maiores produtores do mundo. Sobre a previsão para este ano, os setores foram muito mal no ano passado, mas comparando o mercado de jeans ao do vestuário, o primeiro tem ido melhor do que o esperado. Isso porque o primeiro semestre é muito importante, embora não seja a época que mais vende no ano, há datas importantes como o Dia das Mães, dos Namorados e dos Pais, e a coleção outono inverno.
Estamos estimando para esse segmento de 16% a 17% de crescimento referente a maio. Esse número ainda está abaixo dos níveis de 2019, entre ainda 4% a 5%. Então é um movimento importante que vai ajudar muito na recuperação tanto do varejo quanto da indústria de moda no país, que depende tanto do mercado interno.
Interessante comentar sobre as datas comemorativas. Segundo a pesquisa, o jeanswear não costuma ser um produto para se dar de presente. Mas em 92% dos casos, a peça é adquirida para uso do próprio consumidor. O que caracteriza o jeans como não presenteável?
Na verdade isso é um hábito das roupas em geral, as roupas são bastante presenteáveis no Natal, mas a roupa tem uma característica que é a questão da alfaiataria, em que o consumidor deseja experimentar, e sentir se a peça veste bem. Não se dá tanto de presente porque o produto é pessoal. Na verdade, as pessoas adoram dar de presente, mas para si mesmo.
Sobre a universalidade do jeans, como a indústria se comporta para atrair diferentes gerações?
Há algumas décadas atrás, o jeans mudava ano a ano. A moda podia lançar peças lavadas, e no ano seguinte tecidos mais escuros, no outro, mais claros. Trata-se de um mercado de diversidade de ofertas. Hoje em dia, há jeans para todos os gostos, momentos e ocasiões. Por exemplo, as calças skinny cabem para alguns grupos e perfis consumidores, e não cabem para outros.
Todo mundo usa jeans, independente das faixas etárias, das regiões e do poder de compras. O que muda é que não é o mesmo jeans. São muitos estilos e eles estão cada vez mais convivendo entre si. A moda tem vários tipos de produto para vários públicos diferentes, que é fruto dessa miscigenação que nós temos com a globalização.