Première de "Terraferma" no Festival de Veneza (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 29 de agosto de 2012 às 20h14.
Veneza - O Festival de Cinema de Veneza mostrou neste domingo, quinto dia de competição, sua faceta mais séria com dois filmes sobre o drama da imigração ilegal em "Terraferma" ("Terra Firme", na tradução livre) e sobre a dependência de sexo em "Shame" ("Vergonha", na tradução livre).
Este último ratifica o britânico Steve McQueen como o excelente diretor que ficou conhecido em 2008 com "Hunger" e que repete a parceira com o alemão Michael Fassbender, que dá vida a Brandon, um viciado em sexo que procura relações esporádicas com prostitutas, mulheres que conhece em bares ou através de internet.
"'Hunger' era um filme político, e 'Shame' também é (....). Conta a história de um homem livre e de como o excesso de liberdade pode te deixar encarcerado no final", declarou o diretor.
Neste caso a prisão é o sexo, mas é algo que pode ser aplicado a qualquer outra dependência, como drogas ou o jogo, explicou McQueen na entrevista coletiva de apresentação do filme que concorre ao Leão de Ouro.
Um filme que não teria saído do papel sem Fassbender, como reconheceu o diretor, que qualificou sua colaboração de "incrível".
Sobre seu trabalho, o ator alemão - que no sábado apresentou também "A Dangerous Method", de David Cronenberg - quis minimizar a importância das várias cenas de sexo do filme. "O mais importante é que todo mundo envolvido se sinta bem, de modo que não tenhamos que fazer muitas tomadas", considerou.
E frente à frieza de "Shame", há o drama e a paixão italiana de "Terraferma", de Emanuele Crialese. Uma história sobre a hipocrisia com a qual todos enfrentamos o problema da imigração ilegal.
Em uma pequena ilha da Sicília, onde seus habitantes sobrevivem a duras penas com a pesca e a visita de turistas, a chegada de imigrantes ilegais em uma balsa representa um dilema moral entre a necessidade de ocultá-los dos turistas e a de ajudá-los, como manda a lei do mar.
Um filme que o diretor começou a pensar quando em 2009 leu uma notícia sobre uma balsa que passou três semanas à deriva sem que nenhum navio ajudasse as 79 pessoas que estavam a bordo e das quais 73 morreram.
Uma das sobreviventes, Timnit T. representa no filme a uma dessas pessoas que se lança em uma viagem com poucas possibilidades de sucesso para poder conseguir uma vida melhor.
"Vi sua foto no jornal, com um montão de gente a seu redor. Tinha atravessado um inferno. E tinha um olhar, um sorriso, de uma pessoa que parecia ter chegado ao paraíso", disse Crialese.
O diretor conseguiu localizá-la meses depois e inventaram juntos uma história que funcionasse no cinema. Um filme que tenta lançar um raio de esperança sobre o tema, mas que não cai na complacência.