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Indústria de relógios de luxo suíços tem melhor ano da história

Com destaque para modelos de ouro e em aço, as exportações das manufaturas suíças atingiram US$ 23,8 bilhões em 2021, o melhor resultado de todos os tempos

Watches & Wonders, salão de alta relojoaria, de Xangai: consumo alto nos países asiáticos (Watches & Wonders/Divulgação)

Watches & Wonders, salão de alta relojoaria, de Xangai: consumo alto nos países asiáticos (Watches & Wonders/Divulgação)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 27 de janeiro de 2022 às 12h59.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2022 às 09h03.

Os números falam melhor que as palavras. As exportações de relógios de luxo da Suíça atingiram no ano passado 22,3 bilhões de francos, equivalentes a US$ 23,8 bilhões, segundo relatório publicado hoje pela Fédération de l’industrie Horlogère Suisse.

O que isso significa? Principalmente um crescimento de 2,7% em relação a 2019, ano anterior à pandemia 2020 registrou queda, como esperado, um total de 17 bilhões de francos em exportações. O dado mais impressionante, porém, foi o crescimento de 0,2% em relação a 2014, até então o melhor ano da história desse mercado.

Relógios de ouro e de aço

Agora, usemos as palavras para explicar os números. Dois fatores pontuais ajudam a explicar o resultado comemorado pelo mercado. O primeiro é que o número de peças vendidas caiu mas o valor total cresceu, como já apontamos aqui.

Foram exportados cerca de 15,7 milhões de relógios suíços em 2021, uma queda abrupta de 23% em relação a 2019. Isso significa, portanto, que aumentou o valor médio dos relógios exportados. O destaque fica por conta de peças com metais preciosos como ouro (crescimento de 12,4%) e em aço (7,5%).

A procura por relógios com pedras valiosas se explica pela concentração de riqueza nesses dois anos de pandemia, segundo Carlos Ferreirinha, fundador da MCF Consultoria e um dos maiores especialistas do mercado de luxo. “São os mesmos resultados vistos no mercado de alto consumo em geral, carros, hotelaria, arte”, afirma.

Com consumidores de alto poder discricionário sem viajar e sem frequentar restaurantes, diz Ferreirinha, o dinheiro excedente acaba indo para bens de consumo, principalmente aqueles com chance de valorização. Isso acontece no Brasil e no mundo. Por aqui, uma dessas marcas suíças de relojoaria registou um crescimento de mais de 200% em relação a 2019.

O crescimento da procura por modelos em aço também se explica pela pandemia. Com os consumidores em casa (ou em suas propriedades na praia, ou na montanha), e na ausência de festas e eventos, diminuiu o interesse por modelos sociais e aumentou a procura por relógios esportivos em aço.

Uma consulta a uma butique Rolex confirma o fenômeno dos relógios esportivos em aço. Modelos como Submariner ou Daytona não estão disponíveis e a compra passa por amargar a vez em uma fila considerável de interessados. O preço desses modelos no mercado secundário, aliás, supera o da venda direta sinal tanto da falta de oferta como da valorização desses relógios.

Retomada do mercado americano

O segundo motivo do recorde registrado no mercado de relojoaria foi o alto crescimento do consumo nos Estados Unidos. Por lá, as compras subiram espantosos 44,2%. A razão é bem simples: o país registrou o maior crescimento da economia desde 1984. No último trimestre o aumento da atividade econômica americana foi de 6,9%. As razões são o aumento da vacinação contra a covid, reabertura do comércio e a poupança nesse período de maiores restrições.

O mercado americano de relojoaria é o campeão em market share, com 14,5%. Porém, os três principais mercados asiáticos, China, Hong Kong e Singapura, respondem no total por 31,1%. Por lá, o crescimento também foi alto em relação a 2019 (9,1% na China, 15,5% em Hong Kong e 6,5% em Singapura).

Não é de hoje que o mercado asiático vem ditando os rumos do mercado de luxo em geral. Na relojoaria, isso se reflete na preferência por relógios com caixas menores e uso de materiais mais nobres. As manufaturas, portanto, vem reduzindo o tamanho de seus relógios como forma de se adequar ao gosto dos consumidores orientais.

No ano passado, a Rolex lançou um de seus modelos mais clássicos, o Explorer, no tamanho original de 36 milímetros das décadas passadas desde 2010 o modelo era oferecido apenas na versão de 39 milímetros.

Mesmo manufaturas conhecidas pela robustez de seus modelos estão oferecendo versões mais delicadas de suas criações, de olho em novos consumidores, ainda que desagradando seu público mais fiel. A Panerai, que tem modelos em 50 milímetros em seu portfólio, oferece cada vez opções em 38 milímetros. A IWC lançou nos últimos dois anos versões reduzidas dos modelos Portugieser, Portofino e mesmo do imponente Big Pilot.

Estranho e fascinante esse mercado da alta relojoaria.

 

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