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Uva passa, azeite, vinho: descubra de onde vêm alguns dos produtos importados pelo Brasil

A busca por sabores e ingredientes impulsiona a importação de produtos, deixando mais fácil temperar um prato ou sanar uma fissura por algum ingrediente originário de outro país

 (Royalty-free/Getty Images)

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Carolina Gehlen
Carolina Gehlen

Head of Design

Publicado em 4 de fevereiro de 2024 às 09h27.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2024 às 10h14.

A humanidade desbravou o mundo em busca de temperos. O crítico de gastronomia Jeffrey Steingarten no seu livro, O Homem que comeu de tudo (Companhia das Letras), fala que “é provável que sejamos a primeira geração desde o início do mundo a manifestar paranoia acerca do sal.” Hoje, é muito mais fácil temperar um prato ou sanar uma fissura por algum ingrediente originário de outro país. Descubra de onde vêm, e como chegam, três produtos importados pelo Brasil.  

Passaporte estrangeiro

A busca por sabores e ingredientes diferentes faz com que países importem produtos que não são encontrados no seu território, como é o caso da uva passa. Segundo Matheus Fedrich, Coordenador de Importação da Selecionados Uniagro, empresa gaúcha com mais de 30 anos de atuação no mercado de alimentos, as passas de uva consumidas no Brasil são praticamente 100% oriundas do mercado internacional. Embora o Brasil cultive uvas, falta a tecnologia necessária para a sua desidratação, seja pelo método de secagem natural, comum em países desérticos, seja por meio de fornos, um processo mais demorado e custoso que a importação.

A maioria das uvas passas consumidas nas mesas brasileiras vem da Argentina e do Chile. Além disso, há importações provenientes da Turquia, Irã e África do Sul, com destaque para passas de uvas claras nesses dois últimos países. 

As passas da América Latina chegam ao Brasil por via rodoviária, e de locais mais distantes, como a Turquia, por via marítima. “Chegando à aduana brasileira, seja fronteira seca ou molhada, o produto passa por um processo de nacionalização. Primeiro acontece o despacho aduaneiro, para depois seguir o caminho até a indústria, onde o produto é fracionado e embalado”, conta Fedrich.

Azeitando a demanda 

Outra necessidade de importação surge quando a produção não atende à demanda, é o caso do azeite de oliva extravirgem. Apenas 1% do consumo brasileiro é produzido internamente, afirma Pedro de Marchi Calazans, diretor comercial da Uniagro. Atualmente, existem mais de 2 mil variedades de azeitonas e quase 60 países são produtores de azeite extravirgem no mundo. 

O Brasil importa azeites de países como Espanha, Portugal, Argentina, Chile, Tunísia, Grécia. Com destaque para a Espanha, que lidera, com quase 50% da produção mundial de azeite e detém 25% da área global de olivais.  

Pedro de Marchi Calazans, da Uniagro: "O Brasil importa azeites de países como Espanha, Portugal, Argentina, Chile, Tunísia, Grécia" (Divulgação) (Divulgação/Divulgação)

Para chegar ao Brasil, o pedido é feito ao produtor, que envasa e rotula de acordo com os padrões brasileiros. Assim como as passas, os produtos chegam por estrada ou por mar e são nacionalizados, conta Matheus, para depois ser distribuídos aos pontos de venda.  

Sabor além da fronteira

As características do solo, as influências climáticas, a diversidade geográfica fazem parte do sedutor universo do vinho, e revelam os desafios e as possibilidade de importação. “Quando temos produtores muito pequenos e cargas muito menores, você une quatro ou cinco pequenos produtores italianos, por exemplo, de regiões diferentes. O despacho é feito de todos juntos, mas cada um deles tem uma demanda, uma necessidade que pode impactar o restante da carga. Inclusive quando chega na alfândega, se um deles errou uma documentação ou os rótulos, pode travar toda a carga”, explica Bernardo Pinto, diretor técnico e comercial, da importadora Zahil, que desde 1986 importa e distribui mais de 400 vinhos de 70 produtores de 14 países.  

Na prática, cada embarque traz muitas possibilidades até o destino da taça. O vinho Château Kefraya, que vem do Líbano, faz um transbordo na Europa antes de seguir rumo para o Brasil, por exemplo. Chegando em Marselha, na França, ainda passa por um transporte terrestre antes de reembarcar e vir para cá. Cada rota tem suas peculiaridades, e são essas escolhas que influenciam nos custos, na segurança e no tempo de entrega.  

Bernardo Pinto, da Zahil: “Nunca é só um fator na importação de vinhos, sempre existem variáveis que podem impactar.” (Bronko Jr./Divulgação) (Bronko Jr./Divulgação)

Países muito distantes, como Nova Zelândia ou Austrália, implicam em fazer um transporte duplo. Quanto mais longe, maior é a aventura, explica Bernardo. Não só pelo tempo, mas porque é preciso conectar lugares intermediários. Mesmo em distâncias mais curtas, como na Argentina, a maior parte da produção, situada no oeste do país, enfrenta um transporte interno, de Mendoza a Buenos Aires, antes de chegar até aqui. Esse percurso pode ser negociado com o produtor, com o transportador ou cuidado pelo próprio importador.  

À medida que o número de fatores aumenta, surgem várias situações que não foram planejadas, Bernardo Pinto conta que já chegou a receber um container totalmente alagado da Europa. A refrigeração foi desligada e com a diferença de temperatura vários rótulos descolaram e estragaram. “Nunca é só um fator na importação de vinhos, sempre existem variáveis que podem impactar.” 

Esses fatores trazem em cada taça de vinho, fatia de panetone (com uva-passa) ou pãozinho com azeite, uma coleção de histórias. Unir os sabores do mundo aos locais acrescenta uma pitada especial a cada prato ou bebida, enriquecendo a experiência gastronômica, os paladares e as tradições.

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