A cada mês, o local recebe dezenas de visitas guiadas que duram cerca de 1h30 e são voltadas ao público em geral (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2012 às 19h30.
Viena - O único museu do mundo dedicado à história do aborto e da anticoncepção celebra nesta semana em Viena seu quinto aniversário, tendo recebido, desde 2007, mais de 20 mil visitantes.
''Contamos a história do difícil aprendizado humano sobre como separar sexualidade de fertilidade'', disse à Agência Efe o diretor e fundador do museu, Christian Fiala.
A ''fertilidade natural'' possibilita à mulher ter cerca de 15 gestações ao longo da vida, com cerca de até 10 partos, lembra o médico. Por gerações, tentou-se evitar a gravidez indesejada a todo custo, com métodos que hoje parecem ingênuos e até absurdos.
Intestino de cabra e bexiga de peixe como preservativos primitivos, excrementos de crocodilo para determinar se uma mulher engravidou, pedaços de limão introduzidos no colo do útero para evitar o acesso de espermatozóides são alguns dos métodos anticoncepcionais expostos ou relatados em uma das duas salas do museu e usados por mulheres e homens durante séculos até a segunda metade do século XX.
Só após a Segunda Guerra Mundial a ciência conseguiu tornar realidade o que o pai da psicanálise, Sigmund Freud, qualificou há cerca de 100 anos como ''o sonho da humanidade'': poder separar a sexualidade da fertilidade.
''Alcançamos esse sonho, mas só quando usamos anticoncepcionais confiáveis em todos os atos sexuais. Isso é o que devemos ensinar aos jovens para que aprendam a se proteger'', explicou Fiala sobre o objetivo do museu.
Localizada no primeiro andar de uma casa que fica em um bairro operário de Viena, a entidade foi agraciada em 2010 pelo ''Fórum Europeu de Museus'' por seu êxito em transmitir ''os conteúdos e valores de um museu à cidadania''.
A cada mês, o local recebe dezenas de visitas guiadas que duram cerca de 1h30 e são voltadas ao público em geral, mas especialmente a estudantes, médicos e profissionais da saúde.
No entanto, o pequeno espaço - de apenas 100 metros quadrados - enfrenta críticas fortes e frequentes por parte dos setores mais conservadores da Áustria, conta o diretor.
O motivo: a segunda sala aborda as diferentes técnicas usadas quando a interrupção do parto era ilegal no país (hoje é permitida até 12 semanas de gestação e, após 12 semanas, em alguns casos), como as agulhas de tricô e outros artefatos, usados até hoje em grande parte do mundo onde o aborto continua sendo ilegal.
Além de expor os utensílios e explicar as técnicas usadas nas intervenções, o museu pretende informar e conscientizar o público, especialmente os jovens, sobre os riscos dos abortos clandestinos.
Promover o aborto como um método anticoncepcional está longe de ser o objetivo do museu, embora o órgão o considere ''uma última saída'', disse Fiala, para quem hoje há ''métodos muito seguros para interromper uma gravidez''.
O médico é especialmente crítico ao papel assumido pela Igreja Católica, pelas monarquias e ditaduras, que durante séculos impuseram restrições à anticoncepção e ao aborto por razões morais ou simplesmente para aumentar a população.
Fiala, que dirige uma clínica de aborto, destaca a influência que tiveram, nesse contexto, potências coloniais como a Espanha e o Reino Unido na América Latina, na África e na Ásia, onde até hoje há leis muito rígidas sobre o tema.
''Trata-se de leis que têm origem no passado feudal da Europa. Mas há 50 anos a maioria dos países europeus legalizou o aborto porque quer salvar as vidas de sua população feminina'', disse o diretor do museu.
Na maior parte da América Latina, o aborto é proibido, inclusive no caso de estupro e incesto, o que obriga milhões de mulheres, a cada ano, a interromper gestações indesejadas de forma clandestina, reforçando graves riscos.
Por isso, Fiala faz um apelo aos países latino-americanos a ''abandonarem essas leis arcaicas se quiserem que suas mulheres sobrevivam com boa saúde''.
''O nível de vida na Europa e a autonomia que homens e mulheres têm em suas vidas só foram possíveis porque existem métodos anticoncepcionais confiáveis e porque há um acesso legal ao aborto'', conclui o médico austríaco.
O Museu de Técnicas Anticoncepcionais e Aborto de Viena pode ser conhecido pelo site ''www.muvs.org'', que relata em alemão e em inglês o passado e o presente desse aspecto tão íntimo de nossas vidas.