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Uma tragédia gerou a busca pelo empoderamento feminino

A trajetória de Yayi Bayam Diouf lhe garantiu uma infinidade de prêmios pelo ativismo comunitário; uma foto em sua casa a mostra recebendo uma medalha do presidente do Senegal

Yayi Bayoum Diouf, no Senegal  (Ricci Shryock/The New York Times)

Yayi Bayoum Diouf, no Senegal (Ricci Shryock/The New York Times)

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Daniel Salles

Publicado em 24 de março de 2021 às 10h38.

Thiaroye-Sur-Mer, Senegal – Às vezes, quando está sozinha olhando para o mar, Yayi Bayam Diouf imagina a silhueta de seu filho sobre as águas. Ela não é do tipo sentimental, mas se enternece quando perguntada sobre a tragédia pessoal que a estimulou a desafiar o patriarcado tradicional de sua cidade e a abrir caminhos para o empoderamento feminino. "C'est la vie", disse Diouf, de 62 anos, sobre a tragédia – "é a vida".

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O fato ocorreu na primavera de 2006, quando seu filho, Alioune, pescador de 26 anos, saiu em uma viagem anual rumo às áreas pesqueiras normalmente ricas da Mauritânia com outros de sua cidade de Thiaroye-sur-Mer, subúrbio pobre da capital senegalesa, Dacar. Mas a pesca foi magra, e todos estavam relutantes em voltar para casa com tão pouco.

Em vez disso, ele e cerca de 80 outros em seu barco de pesca decidiram ir para as Ilhas Canárias em uma rota chamada "Barsa wala Barsakh", ou "Barcelona ou morte" na língua local, o wolof. Eles desapareceram ao longo do caminho, e os corpos nunca foram encontrados.

"Eu queria ao menos ter visto seu corpo. Às vezes me pergunto se ele realmente morreu. Um dia, eu estava no mar pescando, e realmente pensei que o tinha visto passar. Dói demais. É muito difícil falar dele", afirmou Diouf.

Esse fato deu início a uma trajetória que lhe garantiu uma infinidade de prêmios pelo ativismo comunitário; uma foto em sua casa a mostra recebendo uma medalha do presidente do Senegal, Macky Sall. Ela encorajou dezenas de mulheres a criar não apenas operações de pesca, mas também salões de cabeleireiro e lojas de roupas, além de empresas produtoras de sabão e maquiagem, todas apoiadas por microfinanciamentos de fontes governamentais e de grupos sem fins lucrativos. Em 2015, usou uma verba do programa Nações Unidas-Mulheres no Senegal para montar uma fazenda de cultivo de mexilhões, criando emprego para cerca de cem senegalesas.

Tudo isso, porém, veio depois. Diouf contou que, depois da morte de Alioune, se sentiu atraída pelo mar e começou a pensar em trocar seu trabalho em um escritório pela pesca. No entanto, enfrentou resistência da cultura patriarcal, que espera que as mulheres fiquem em casa e os homens trabalhem fora.

Yayi Bayoum Diouf limpa pescados no Senegal (Ricci Shryock/The New York Times)

Quando se aproximou de um grupo de líderes comunitários uma noite depois das orações pedindo permissão para pescar, foi-lhe dito que "a água não precisa de mulheres". Explicaram-lhe, além disso, que uma das tradições entre o grupo étnico lebu, comum na área, era que as mulheres não poderiam tocar nos peixes se estivessem menstruadas. "Eu disse a eles: 'Tudo bem – já passei pela menopausa.' Agora estou me sentindo confiante, e quero transmitir isso a outras mulheres", contou Diouf, ela mesma uma lebu.

Diouf tinha mais um argumento. Durante anos, milhares de homens deixaram Thiaroye-sur-Mer em busca de uma vida melhor no exterior, mesmo com a chance de morrer tentando – 374 mortes entre 2003 e 2019, estima um grupo local. Simplesmente não havia homens suficientes, disse ela, alertando que a sobrevivência econômica da cidade dependia da incorporação das mulheres à força de trabalho. Eles por fim cederam. "Tive de conquistá-los. É preciso força de caráter e compromisso para fazer isso."

Seu primeiro nome, Yayi, significa "mãe" em wolof, e ela o acha apropriado, porque não estava satisfeita em viver da pesca sozinha. Queria estender o direito ao trabalho a todas as mulheres.

Mas, primeiro, era preciso começar a pescar. Ela conseguiu uma licença – a primeira mulher a obter uma – e depois pegou emprestado um pouco mais de US$ 100, o suficiente para alugar um barco e comprar gasolina. A arte da pesca veio naturalmente, segundo ela. "Nasci perto da água. Nado melhor que peixe."

Diouf contou que outro incentivo foi a percepção da injustiça enfrentada pelas senegalesas em sua sociedade tradicional. "Cresci vendo minha mãe carregar 30 ou 40 quilos de peixe. Eu ficava triste com a falta de reconhecimento do trabalho feminino. Durante anos, vi mulheres dando duro no processamento dos peixes trazidos pelo marido ou pelos filhos, vendendo o produto no mercado, e sem lucrar com isso."

Para remediar essa situação, Diouf estabeleceu um centro de treinamento de pesca para mulheres, ensinando a lidar com a captura em melhores condições sanitárias e a tratar os estoques de peixes como um recurso importante, e não como algo a ser consumido.

Na mesma época, criou também o Coletivo de Mulheres para a Luta contra a Imigração Ilegal, na tentativa de persuadir os jovens a resistir à perigosa tentação de ir para o alto-mar e, em vez disso, ganhar a vida em casa.

Não é de surpreender que ela esteja constantemente em movimento. Quando não está ocupada no centro de treinamento, está ajudando outras a iniciar pequenas empresas, encontrando fundos para microcréditos ou lutando com autoridades do governo para fortalecer a economia em crise de Thiaroye-sur-Mer.

Em uma manhã de quarta-feira em janeiro, algumas mulheres montaram uma pequena mesa em frente ao centro de treinamento para vender peixes, sucos e itens de café da manhã para as alunas que chegavam e para os pescadores e pescadoras que voltavam do mar, uma das muitas microempresas que ela incentivou.

Pescados preparados por Yayi Bayoum Diouf (Ricci Shryock/The New York Times)

Naquela manhã, Diouf não tinha muito tempo para gentilezas ou conversa fiada. Pegou às pressas um prato das mulheres e correu para o centro de treinamento, que fica do outro lado da baía da ilha de Gorée, que já foi ponto de partida de milhões de africanos escravizados.

Lá dentro, as paredes do escritório de Diouf são decoradas com fotos dela trajando um colete salva-vidas laranja em uma piroga. Em sua agenda, havia uma reunião a ser feita com um representante do Ministério da Pesca, quando completaria a papelada para a doação de equipamentos destinados a melhorar as medidas sanitárias no processamento de peixes.

Ela então se trocou, vestindo roupas de trabalho, saiu para pegar os peixes que estavam sendo assados na grelha e começou a preparar uma refeição para os jornalistas de um canal de TV local.

Diouf nasceu em uma família de pescadores em Thiaroye-sur-Mer. Como era típico na época, seu pai pescava e sua mãe ajudava no processamento. Nessa cultura poligâmica, ela disse não ter certeza do número de irmãos que tem – talvez 15.

Ela vive sozinha, enquanto seu marido, funcionário do governo com quem se casou quando tinha 17 anos, vive com sua segunda esposa. Diouf afirmou estar feliz com a situação. "Percebi que, para ser autônoma, precisava comprar minha casa. Não quero depender do meu marido nem de ninguém." Ela aluga quartos para famílias, e crianças do bairro entram regularmente em sua sala de estar para assistir a vídeos educativos em seu computador.

Uma tarde, depois do trabalho, ela acompanhou um jovem pescador a Dakar para buscar financiamento para seu projeto de restaurar a pesca tradicional e sustentável em face dos empreendimentos de pesca industrial que esgotam gravemente a oferta de peixes.

Diouf também tem outra missão além de seu trabalho comunitário. Na praia, contou que se lembrava da última conversa que teve com seu filho, quando pediu a ele que não fizesse a tolice de tentar a vida como imigrante. Agora, ela frequentemente caminha pela areia cheia de lixo para falar com outros jovens, tentando convencê-los a não enfrentar a perigosa travessia para as Canárias. "Eu os aconselho a nunca entrar nas pirogas, independentemente das dificuldades. Digo a eles: 'Você quer que o que aconteceu comigo aconteça com sua mãe?' Convenci alguns dessa maneira."

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