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Um aumento de 400 por cento no aluguel pode ser o futuro de Coney Island

Os aumentos de aluguel propostos reacenderam uma disputa de anos pela alma de Coney Island

Dianna Carlin, dona do Lola Star: futuro de Coney Island entre aluguéis e reformas (Calla Kessler/The New York Times)

Dianna Carlin, dona do Lola Star: futuro de Coney Island entre aluguéis e reformas (Calla Kessler/The New York Times)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 25 de janeiro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 25 de janeiro de 2020 às 07h00.

Nova York – Dianna Carlin está para terminar o livro que escreve sobre as alegrias de possuir a butique Lola Star, uma "loja pequena e mágica" no calçadão de Coney Island, nos últimos 19 anos.

Em vez disso, Carlin está temerosa e ansiosa desde que seu senhorio recentemente lhe propôs um novo contrato de aluguel – com um aumento de 400 por cento. "Estou pensando se devo encomendar placas anunciando o fechamento", disse ela.

No verão, Coney Island, no Brooklyn, é tomada por banhistas e caçadores de diversão, mas tende a ser silenciosa no inverno.

Há mais de uma década, a cidade de Nova York prometia um destino durante todo o ano com um parque aquático, uma arena, uma pista de patinação no gelo e milhões de dólares em investimentos residenciais e comerciais.

Ao mesmo tempo, disse o então prefeito Michael Bloomberg, restaurantes simples e lojinhas familiares seriam protegidos. O presidente do distrito do Brooklyn na época, Marty Markowitz, disse em 2005 que o plano preservaria "a famosa estranheza de Coney e seu espírito divertido".

Mas, como muitos grandes planos para Nova York, esse não foi completamente materializado. Coney Island estava deserta em uma tarde recente, muito longe da atração movimentada durante o ano inteiro que prometiam que seria. Ventos fortes sopram por montanhas-russas famosas como a Cyclone e a Luna Park's Steeplechase, mas não pela pista de patinação no gelo ou pelo parque aquático. Essas atrações nunca foram construídas.

E agora, enfrentando o rolo compressor da gentrificação, até mesmo o peculiar espetáculo do circo de Coney Island pode ser forçado a enfrentar um futuro incerto. "Eles estão tentando transformar o Parque Popular em playground para os ricos", disse Carlin.

Carlin e os proprietários de cinco outras pequenas empresas em Coney Island – Nathan's Famous, Ruby's Bar & Grill, Paul's Daughter, Tom's Restaurant e Coney |Island Beach Shop – estão negociando novos contratos de aluguel de dez anos com a Zamperla, a fabricante italiana de parques de diversão que foi contratada pela cidade há uma década para construir e gerenciar a área de diversões Luna Park de Coney Island, da qual as empresas fazem parte.

Os novos termos da Zamperla: um aumento de 50 por cento a 400 por cento no aluguel de cada um dos negócios. "Amo Coney Island. Ter esta loja no calçadão é uma das coisas que mais amo na vida. Mas não tenho como pagar por isso", disse Carlin.

Equipamentos de construção no Luna Park de Coney Island, Nova York

Equipamentos de construção no Luna Park de Coney Island, Nova York (Calla Kessler/The New York Times)

Em um comunicado, Alessandro Zamperla, presidente da Zamperla, disse: "Nós nos preocupamos com Coney Island e seu futuro, e estamos nos dedicando a transformá-la na comunidade mais forte possível. É por isso que temos trabalhado com nossos inquilinos para garantir seu sucesso e preservar seu caráter."

Zamperla, que estava em viagem na Itália, não quis responder a perguntas específicas, mas acrescentou que pelo menos três das seis empresas tinham concordado e assinado seus novos contratos de aluguel e outras estavam fazendo "progressos significativos".

Os aumentos de aluguel propostos para as seis pequenas empresas reacenderam uma disputa de anos pela alma de Coney Island.

Em 2009, após um impasse de quatro anos sobre o melhor plano para um renascimento, a administração Bloomberg comprou sete hectares no decadente distrito de diversões do desenvolvedor Joseph J. Sitt por US$ 95,6 milhões.

Bloomberg queria restaurar o auge do distrito, que começou a declinar na década de 1960, promovendo o desenvolvimento de lojas e apartamentos ao longo da Surf Avenue. As empresas que ficavam abertas apenas no verão passariam a funcionar durante todo o ano, ajudando a reforçar o que Bloomberg imaginou como o maior parque de diversões urbano do país.

A cidade alugou a terra para a Zamperla, permitindo-lhe abrir o Luna Park em 2010, ditar seus próprios contratos de aluguel com proprietários de pequenas empresas e até mesmo exigir que essas empresas entregassem parte de seus lucros.

As empresas do calçadão que não se encaixavam na visão da Zamperla foram fechadas. Outras, como a butique de Carlin, que havia sido despejada por Sitt, voltaram.

Em 2012, o renascimento estava em andamento, e multidões e receitas estavam crescendo. Carlin disse que seus lucros aumentaram quase 50 por cento depois que a Zamperla assumiu o controle.

"A maioria das pessoas acredita que o desenvolvimento foi consistente com a história de Coney Island", disse sobre a área Seth W. Pinsky, ex-presidente da Economic Development Corp.

Mesmo assim, o distrito de diversões não opera durante todo o ano. Mark Treyger, o vereador que representa a parte do Brooklyn que inclui Coney Island, disse acreditar que isso foi o resultado de uma escassez de investimentos da cidade e do prefeito Bill de Blasio nos objetivos de 2009.

"As empresas simplesmente não sabem aonde a administração de Blasio está levando Coney Island. Há uma falta de visão ou plano holístico para melhorar a área", disse Treyger.

As promessas não cumpridas, disse ele, deram à Zamperla a oportunidade de colocar o ônus da recuperação dos lucros perdidos sobre os inquilinos, que "acreditaram que esse seria um destino ao longo do ano inteiro, com tráfego de pedestres durante todo o ano, em oposição a três ou quatro meses. Você não pode permitir que a terra pública seja usada como uma arma em nome da ganância para prejudicar as pequenas empresas", acrescentou Treyger.

Praia vazia em Coney Island, Nova York

Praia vazia em Coney Island, Nova York (Calla Kessler/The New York Times)

Carlin e dezenas de outros trabalhadores de Coney Island protestaram contra os aumentos de aluguel em frente à Prefeitura no início de dezembro.

Em uma entrevista, um advogado de direitos civis, Norman Siegel, chamou o aumento de aluguel da Zamperla de "inconcebível". Ele disse que de Blasio deveria intervir.

Segundo Siegel, a administração de Blasio deve pedir que a Zamperla apresente termos mais razoáveis. "Se isso não acontecer, a cidade deveria considerar seriamente o fim do contrato de arrendamento", afirmou.

Na Prefeitura, não houve indicações públicas de planos para retirar o contrato de arrendamento da Zamperla ou para intervir; os aumentos de aluguel não violam o acordo entre a cidade e a empresa.

Jane Meyer, porta-voz de de Blasio, negou as alegações de que a administração não tem visão ou plano para a região. Ela disse que a cidade gastou US$ 180 milhões atualizando a infraestrutura de Coney Island na última década e planeja expandir o sistema de balsas entre a cidade de Nova York e Coney Island até 2021. "Esta administração está empenhada em manter o caráter de Coney Island, garantindo que seja equitativo e preparado para o futuro", afirmou Meyer.

Siegel se perguntava de quem é esse futuro.

Nativo do Brooklyn que cresceu passando verões no calçadão, ele se lembra com carinho de gastar um dólar para andar no Cyclone e voltar para casa sem fome para o jantar depois de se empanturrar com o cachorro-quente e as batatas fritas do Nathan's Famous.

"Temos de lutar para salvar Coney Island", concluiu ele.

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