Art Basel: algumas das salas estão escondidas acima dos corredores do centro de convenções (Harold Cunningham/Getty Images)
Marília Almeida
Publicado em 10 de junho de 2019 às 05h00.
Última atualização em 10 de junho de 2019 às 05h00.
São Paulo - Quando milhares de colecionadores ricos desembarcarem na Suíça para visitar a feira Art Basel nessa semana, obras de alguns dos artistas mais cobiçados não serão exibidas ao público. O privilégio será oferecido para clientes selecionados, que terão acesso individual a salas de visualização privadas.
Algumas das salas estão escondidas acima dos corredores do centro de convenções, onde 290 galerias de 34 países vão montar estandes na maior feira de arte moderna e contemporânea do mundo. Outras salas secretas serão instaladas em depósitos de alta segurança em uma área industrial a 15 minutos de carro.
"Chamo isso de transação ’off-the-floor’", disse Larry Wasser, colecionador de Toronto e ex-gestor de fortunas. “Essas transações acontecem todos os dias durante a feira. Basicamente tem a ver com reunir compradores e vendedores durante a semana do Super Bowl dos negócios de arte.”
A 50ª edição da Art Basel terá estimados 3,5 bilhões de euros (US$ 4 bilhões) em obras de arte em exibição, segundo a seguradora AXA. As galerias enviam dezenas de obras, mas seus estandes cuidadosamente organizados podem acomodar apenas uma fração do estoque. Salas privadas de visualização, que a Art Basel aluga aos expositores por uma taxa adicional, oferecem flexibilidade às galerias e discrição aos compradores e vendedores.
A demanda por salas privadas tem aumentado, segundo os organizadores da feira, que atraiu quase 100 mil pessoas no ano passado. Os 12 showrooms do evento deste ano podem ser reservados por hora, diariamente ou durante toda a semana. Quem chegar primeiro leva: o aluguel por duas horas custa US$ 3 mil.
“Oferecemos os showrooms como outra oportunidade para que nossas galerias apresentem grandes obras de arte em seus estoques para clientes em um ambiente tranquilo”, disse Dorothee Dines, porta-voz da feira, em comunicado.
As obras costumam ser exibidas em salas privadas porque os proprietários não querem que todos saibam que estão levando um Warhol ou Rothko. E alguns clientes não querem ser vistos esbanjando em obras de arte de alto valor.
A feira deste ano inclui uma escultura de coração de 3,6 metros de altura de Jeff Koons, um quadro conceitual de John Baldessari avaliado em US$ 8 milhões, e um Picasso com o retrato de seu filho, que já pertenceu a Gianni Versace, por US$ 7 milhões.
"Alguns colecionadores ficam apenas um dia", disse Todd Levin, consultor de arte. “As galerias fazem qualquer coisa que eles quiserem para vender.”
Esse tipo de comércio de obras de arte é muitas vezes feito em sigilo porque quem vende às vezes não quer mencionar sequer o nome do artista. As empresas locais de transporte e depósito também trabalham de boca fechada.
"O chão é tão limpo que você pode comer nele", disse Levin, que viu obras de Rene Magritte, Cy Twombly e Jean-Michel Basquiat no depósito da Kraft. “É muito discreto. Existem diferentes rotas para acessar as salas de visualização. Você pode esbarrar em alguém na área de espera, mas nunca sabe ao certo o que vão olhar."