Galvão Bueno: apresentador também é sócio de uma marca de vinhos (Bueno Wines/Divulgação)
Laura Pancini
Publicado em 24 de março de 2022 às 06h00.
Última atualização em 24 de março de 2022 às 08h42.
O que Galvão Bueno e Sting têm em comum? Se você pensou em dinheiro, está no caminho certo. Mas hoje o assunto é sobre o produto, e não o resultado final: o tema é vinho – mais especificamente, as vinícolas portuguesas e italianas compradas por celebridades e empresários de sucesso, que usufruem da própria fortuna para entrar num mercado competitivo e bastante glamouroso.
O narrador brasileiro é um grande amante dos vinhos e tem uma propriedade em Candiota, na Campanha Gaúcha, desde 2009. Já Sting tem a própria vinícola desde 2011, conhecida como Il Palagio, em Florença, na Toscana.
A primeira safra produzida para a Bueno Wines foi o Bueno Paralelo 31, enquanto o músico inglês tem o Sister Moon 2011 como seu vinho de maior sucesso, com nome inspirado na própria canção. Os títulos não são coincidência.
“Vinhos são conhecidos ou pela qualidade, ou pela marca e imagem que tem”, disse o jornalista Tony Smith em entrevista à EXAME. “Se a embalagem ou a distribuição não estiverem certas, você não vai muito longe. Mesmo se o seu vinho for o melhor do mundo”. Os famosos, portanto, começam com uma vantagem, já que o próprio nome serve de marketing para o produto.
Entram no jogo celebridades como Bon Jovi, Madonna, Jay-Z, Post Malone e o antigo casal Brad Pitt e Angelina Jolie, que brigam na justiça após Jolie ter vendido sua parte (50%) sem avisar o ex-marido, o que aparentemente não era o acordo previamente estabelecido pelos dois. A dupla é dona da vinícola que produz o Château Miraval, um dos cem melhores rosés do mundo, no Sul da França.
Bon Jovi e Madonna se juntaram aos familiares para produzir vinhos. Ele, com o filho, e ela, com os pais, investiram no bem-conceituado rosé Hampton Water e num vinhedo em Michigan, respectivamente. Até Ronaldo Fenômeno já apostou nos vinhos, mas sem comprar a própria vinícola. Ao invés disso, o ex-jogador entrou na sociedade da espanhola Bodega Cepa 21 em 2020.
“O negócio tem um quê de glamour, então as pessoas gostam da ideia de investir. Mas o resto é duro, com grandes montantes de investimento e períodos de retorno bastante compridos”, analisa o jornalista. “Não é só comprar [a vinícola], é a manutenção dela também.”
Smith entende do negócio porque ele mesmo comprou uma vinícola em Portugal há cerca de dez anos atrás. Com Marcelo Faria de Lima, empresário e fundador do grupo de investimento Artesia, a dupla investiu na Quinta da Covela, na região de Vinhos Verdes.
A vinícola existe há cerca de 200 anos e já foi casa para Manoel de Oliveira, grande nome do cinema português. Ela também pertenceu ao empresário Nuno de Araújo entre 1980 e 2000, que lançou os primeiros vinhos da marca, mas a empresa faliu e a região ficou abandonada.
“Ninguém pensava que teriam dois estrangeiros malucos que comprariam aquilo tudo”, relembra Smith, que é britânico, mas já trabalhou no Brasil e foi ex-correspondente de guerra na Associated Press.
Assim, nasceu (mais uma vez) a Quinta de Covela. “Tivemos que replantar muita coisa. Do dia em que você planta uma vinha até o dia em que você consegue realmente um retorno decente, são quatro anos. Imagina fazer isso em centenas de hectares. Você tem o gasto de fazer a plantação, e depois tem que ter a paciência e a capacidade financeira para ter a primeira colheita só daqui quatro anos.”
De lá para cá, Lima e Smith compraram novas propriedades na região, como a Quinta da Boavista que, sozinha, conta com 39 hectares. O vinho mais caro custa 1.200 reais no Brasil, enquanto o mais barato custa 120 reais.
Dados da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) mostram que, em 2021, o consumidor brasileiro optou mais pelo espumante. Foram 30,3 milhões de litros da bebida, ante 27 milhões de litros de vinho produzidos por vinícolas brasileiras.
O desempenho foi maior que o do ano anterior, com um aumento de 11,43%, e a associação acredita que o mercado interno irá continuar crescendo em 2022, o que pode significar mais competição para os produtores de Portugal no futuro.
Semelhante a história da Covela é a Menin Douro Estates, vinícola na Região Demarcada do Douro, em Portugal, e comandada pelo bilionário brasileiro Rubens Menin. O empresário afirmou, em entrevista à EXAME em maio de 2021, que planeja produzir 360 mil litros de vinho, incluindo 88 mil litros de Vinho do Porto, em 2025.
“Acreditamos que Portugal é o novo Eldorado do vinho, por oferecer um produto mais ou menos único no mundo, que combina alta qualidade e bom preço”, disse Menin na época. O empresário conta que a implementação de um programa de mestrado e doutorado em vinho na região de Vila Real fez com que a qualidade da bebida portuguesa evoluísse bastante nos últimos anos. O próprio Menin já investiu ao menos 30 milhões de euros na região desde 2018.
“A vinícola é uma mistura mágica de natureza e homem, com o jardim, a adega e uma história para contar. Isso impressiona as pessoas, porque é como os filmes”, disse Smith. “Mas as pessoas muitas vezes esquecem que é um negócio. É um mercado mundial muito duro em termos de concorrência”.