Shiv, Roman e Kendall Roy estão de volta na temporada final de "Succession" (HBO / Warner/Divulgação)
Repórter
Publicado em 27 de março de 2023 às 12h20.
Última atualização em 27 de março de 2023 às 12h24.
*Este texto contém spoilers da 4ª temporada de Succession
“Succession” está — finalmente — de volta. Não tão animador, já que será sua última temporada. A série multipremiada da HBO teve o primeiro episódio lançado neste domingo, 26, e será exibida semanalmente até o final de maio.
Desta vez, os irmãos Roy enfrentam o mundo dos negócios como adversários do pai, Logan. Sem esperanças de que um dia vão assumir o controle da Waystar Royco, Kendall, Shiv e Roman investem seu tempo e dinheiro na criação de uma startup de mídia “do século 21”, chamada “The 100”.
Como descreve Kendall Roy: a ideia parece revolucionária, mas tem a cara dos principais competidores. A missão do “The 100” é como de uma ONG, mas com o faturamento de uma grande mídia. Estes pequenos detalhes no roteiro servem para lembrar que, no fundo, os irmãos Roy não aprenderam nada de concreto com o império de mídia sob o qual viveram. São verdadeiros “nepo babies” ou, na tradução livre ao português, “filhinhos de papai”.
A ideia zomba das startups que prometem tudo e entregam pouco, e foi logo deixada de lado após o trio descobrir que o novo grande passo de Logan seria comprar o “The Pierce”.
O conglomerado de mídia é como a “ATN News”, só que da esquerda americana – na última temporada, Kendall namorou Naomi Pierce, a neta da CEO –, mas a família dona do império rival não é fã do trabalho de Logan Roy, o que é uma vantagem para os irmãos.
O episódio mostra os irmãos Roy em uma batalha – por meio de ligações telefônicas – para comprar o Pierce antes de seu pai. No meio da situação, a família Pierce acaba tomando proveito do atrito familiar para vender a empresa por bem mais do que ela vale.
Kendall, Shiv e Roman começaram a oferta em 8 bilhões de dólares, enquanto Logan começou na casa dos US$ 6 bilhões. A venda, portanto, já estava garantida para os filhos do bilionário, mas o medo do pai ter aumentado a oferta faz com que os irmãos comprem o “The Pierce” por US$ 10 bilhões de dólares. Tudo para irritar Logan e competir ao mesmo nível que a ATN News.
Vale ressaltar o papel de Roman no meio disso tudo. Diferente dos irmãos, ele assume o papel de filho mais novo e mostra que não quer ver a família brigar. Enquanto Shiv e Kendall estão com sangue nos olhos, Roman é aquele que pergunta duas vezes antes de tomar qualquer decisão e que lembra os irmãos que 10 bilhões é muito diferente dos 100 milhões que eles investiram na própria startup.
Conseguir US$ 10 bilhões não é fácil nem para os Roy e, como eles dependem da venda da GoJo para conseguir o dinheiro — trama explorada no final da terceira temporada —, tudo indica que Logan ainda tem a chance de dar o troco nos filhos. Isso, claro, significaria que o bilionário deixaria de ganhar dinheiro só para irritá-los.
A primeira cena do episódio acontece durante o aniversário de Logan, e o magnata está há dois dias de concluir a venda de partes do conglomerado da Waystar, mas ele não poderia estar mais entediado. Ninguém consegue acompanhar Logan Roy tal como Shiv, Roman e Kendall, e ele percebe isso.
Na companhia de Tom, Greg e os diretores da Waystar, o bilionário não vê graça em uma festa de elogios e simpatias, e sente falta da conversa ácida que só seus filhos podem proporcioná-lo.
Em um momento, Logan chega a obrigar os convidados a serem desprezíveis com ele. Só quem tem coragem é Greg, que se aproveita do título de “sobrinho-neto” para jogar uma verdade dura na cara do avô: “Cadê a p* dos seus filhos?”.
Apesar da tensão na sala, é liberador ver Greg ser o único que tem a coragem – e talvez a chance – de falar com Logan deste jeito. Família, no final, é família, e a frase “quem quer cheirar os dedos de Greg?” deve entrar para uma das mais memoráveis da série.
Se no começo da série Greg Hirsch era apenas um garoto vomitando numa fantasia em um dos parques de diversão da WaystaR, hoje, ele está totalmente inserido no ciclo social bilionário de sua família e mais inconveniente do que nunca.
O trajeto de Greg é muito similar ao de Willa, noiva de Connor Roy. O primeiro filho de Logan é a “terceira via” das eleições americanas, com cerca de 1% dos votos, e quer transformar o casamento em um circo midiático para não chegar ao temido “menos de 1%”. Só para não sair do patamar dos “um porcento”, Connor estaria disposto a gastar um adicional de 100 milhões de dólares — sem contar o que já tinha torrado até ali.
Willa, que antes aspirava ser roteirista e até resistia à ideia de receber muita ajuda financeira de Connor, hoje perde o pouco de humanidade que lhe resta aceitando as propostas megalomaníacas do noivo. Ela desiste do sonho do casamento perfeito para agradar Connor e, de certa forma, manter o status e dinheiro que agora parecem ser intrínsecos à sua personalidade.
Após Tom trair os irmãos Roy e se aliar a Logan no final da última temporada, o casal está oficialmente no processo de se divorciar.
Shiv e Tom, apesar de se machucarem, se amam, e são mais parecidos do que pensam. Shiv é completamente incapaz de ter uma conversa que mostre qualquer pingo de vulnerabilidade – mesmo o rosto mostrando toda dor que ela estava sentindo naquele momento, ela opta por não falar nada “porque é mais fácil” — e a falta de diálogo sempre foi o forte do casal.
Shiv e Tom mostrando vulnerabilidade ao mesmo tempo. Como a TV é boa, como Succession é boa! pic.twitter.com/HxUwMUH6zx
— Oxente, Pipoca? (@oxentepipoca) March 27, 2023
Colocando a sede por poder (e vingança) em primeiro lugar, Shiv escolhe pelo fim do relacionamento, já que este seria um empecilho para os novos negócios com a Pierce — lembrando que Tom é diretor da ATN. Não só por isso, mas também pela traição, não no sentido amoroso, de Tom no último episódio da terceira temporada. Vale lembrar que ele contou para Logan sobre os planos dos irmãos Roy, apunhalando Shiv pelas costas.
É simbólico ver um dos únicos relacionamentos românticos da série — que parecia sobreviver em meio aos negócios — ruir. Tom percebe que chegou em um patamar de lealdade com Logan que o casamento — e toda dor que sentia — não era mais necessário para que tivesse poder e dinheiro.
A cena acaba com os dois na cama, em uma atmosfera clássica de final de relacionamento. Não teve choro: foi no estilo Roy. Agora é aguardar o futuro de Tom, que tenta se manter na família e na fila para o legado da Waystar.