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Startup cria "máquina de Nespresso" para envelhecer uísques

Sediada no Vale do Silício, a Bespoken Spirits afirma que consegue replicar em dias o mesmo sabor garantido por anos de envelhecimento em barris

Uísque da Bespoken Spirits: seed money de US$ 2,6 milhões (Divulgação/Divulgação)

Uísque da Bespoken Spirits: seed money de US$ 2,6 milhões (Divulgação/Divulgação)

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Daniel Salles

Publicado em 8 de outubro de 2020 às 12h01.

Última atualização em 8 de outubro de 2020 às 22h54.

Produzir uísques, em tese, até que é rápido. O problema é que uísque sem envelhecimento em barris de madeira não é uísque. Demora e não é pouco. Daí que muitas destilarias escocesas passaram a despejar no mercado rótulos que não especificam o tempo de maturação do conteúdo de cada garrafa. Via de regra, os estoques de uísques de 12 anos para cima estão com os dias contados e, faça as contas, repô-los demanda uma porção de anos.

Sediada no Vale do Silício, a startup Bespoken Spirits diz ter a solução. Ela criou uma tecnologia que seria capaz reproduzir o mesmo sabor garantido por anos de envelhecimento em barris. E em apenas três ou cinco dias. Vale para uísque, rum e conhaque (a reportagem não provou nenhuma bebida da nova marca para opinar).

A tecnologia foi apelida de "máquina de Nespresso" para envelhecer uísques e afins. Em resumo, a companhia se vale de pequenos nacos de diferentes tipos de madeira para acelerar o tempo que os destilados levam para adquirir o gosto de carvalho e outras espécies do gênero. Com isso, afirma reduzir o consumo de madeira em 97% e aumentar o rendimento em 20% (seria o fim da famosa parte dos anjos, como é chamado o volume que normalmente evapora dos barris).

Rótulo da marca: US$ 29,90 nos Estados Unidos (Divulgação/Divulgação)

É a reinvenção de um processo que soma perto de 200 anos. Que os fundadores da Bespoken Spirits, o cientista de materiais Martin Janousek e o empresário Stu Aaron, chamam (os escoceses que nos perdoem) de antiquado. Sim, um ou outro destilador de outros tempos deve estar se revirando no túmulo pela audácia americana. E alguns dos vivos podem ter infartado.

“Em vez de despejar o destilado em um barril e esperar passivamente que a natureza siga seu curso ao longo de décadas, nossa tecnologia instila o barril na bebida, entregando um destilado personalizado de qualidade premium em dias, em vez de décadas”, declarou Aaron.

Com a frieza esperada, a Scotch Whisky Association lembrou que muitos mercados exigem que uísque só pode ser chamado de uísque se for maturado em barris. Vale, por exemplo, para o Reino Unido e a União Europeia, nos quais o envelhecimento mínimo de três anos é obrigatório.

“Essas definições de qualidade de uísque protegem a reputação do uísque como um produto tradicionalmente envelhecido, e outras bebidas alcoólicas produzidas com outras técnicas devem ser rotuladas de uma forma que não tire vantagem injusta dessa reputação”, declarou a entidade. “A SWA tomará medidas em todo o mundo para impedir a venda de produtos que buscam competir com o uísque escocês como ‘uísque ’, mas não atendem aos requisitos legais do país de venda.”

Há quem dê de ombros para a tradição e não falamos só de Janousek e Aaron. No dia 3 de outubro, a Bespoken Spirits anunciou ter recebido um investimento semente de 2,6 milhões de dólares. Daria para celebrar a conquista com um bom single malt da Macallan, como o de 25 anos, que custa uns 1700 dólares a garrafa. Mas a dupla, supõe-se, preferiu brindar com um de seus uísques de quase 30 dólares, mais caros que muito bourbon.

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