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SPFW N51: com edição digital estilistas exploram narrativas pessoais

Com um line up de 43 marcas, o evento foi marcado pela estreia do projeto Sankofa e apresentações com sob o tema Regeneração

Coleção Boleia, por Airon Martin, da Misci. (Patrick Rodriguez e Tainá Bernard/Divulgação)

Coleção Boleia, por Airon Martin, da Misci. (Patrick Rodriguez e Tainá Bernard/Divulgação)

JS

Julia Storch

Publicado em 29 de junho de 2021 às 11h31.

Última atualização em 29 de junho de 2021 às 11h50.

Após mais uma edição digital, a São Paulo Fashion Week encerrou a 51ª temporada com 43 marcas apresentando seus fashion films. Sob o tema Regeneração, a programação uniu moda, arte, sustentabilidade e inovação e contou diversas histórias sobre o país. 

Com enfoque na sustentabilidade, marcas apresentaram coleções feitas a partir da preservação de recursos natural. A Ponto Firme trouxe uma coleção que propõe o reaproveitamento, com peças de crochê confeccionadas a partir do descarte têxtil. Já Flavia Aranha, apresentou suas roupas vivas, com tingimentos naturais sob a narrativa da força feminina.

Por um evento mais igualitário, foi ao ar o projeto Sankofa, trazendo oito estilistas não brancos ao line up: Az Marias, Silvério, Mile Lab, Ateliê Mão de Mãe, Meninos Rei, Naya Violeta, Santa Resistência e Ta Studio.

Obscura, coleção de Silvério, trouxe à luz a escuridão. Após um ano pandêmico, o estilista paulistano Rafael Silvério focou na introspecção para produzir suas peças. “Fiz um uma brincadeira com capas terno, com uma construção das ausências e trabalhando com camadas pretas. Então, a ideia é fazer com que seja pensado de uma maneira positiva, você tem que ter o seu momento de conexão com a sua religiosidade, com a sua intuição. Gilberto Gil diz que ‘para falar com Deus, tem que apagar a luz’, é sobre encontrar um lugar bonito dentro da escuridão e trazer esperança com a escuridão”, disse.

Silvério também criticou a atual administração política, “que o otimiza para uma crise sanitária, que afeta diretamente tantas outras jurisdições, que não permite que tenhamos um vislumbre de futuro, então nos pareceu oportuno estudar o que está diante de nós”.

Coleção Obscura, por Silvério. (Fernando Tomaz/Divulgação)

A marca não foi a única a denunciar falhas na política nacional. No sábado (26), a Misci, comandada por Airon Martin comentou que sua apresentação faz uma leitura do nacional e de uma indústria decadente de governos que não reconhecem o potencial da indústria criativa brasileira. Que exporta a matéria prima e não o produto de design. “Exportar o design é exportar toda a cadeia que faz parte desse processo", comentou o estilista. Com isso, matérias primas como o algodão orgânico da Paraíba, que é exportado, foram utilizadas na coleção Boleia. 

Com a coleção, Airon trouxe referências familiares com releitura através da alfaiataria, como um bolso na frente do top, “resgatando uma memória afetiva ao lembrar das nossas mães e avós, que guardavam o dinheiro no sutiã”, comentou. A coleção trouxe ainda acessórios, como a bolsa de couro e o chinelo sustentável feito em parceria com a indústria química Therpol.

A exaltação de culturas também foi apresentada pelo baiano Isaac Silva. “A coleção Axé Boca da Mata veio de caminhadas que eu faço em sítios e fazendas e quando me deparo com a grande mata. É um local muito presente na cultura afroindígena e que, quando entramos, nos conectamos com nós mesmos e com lembranças. A coleção fala sobre natureza e pessoas e reflete sobre o momento da solitude que estamos vivendo”, disse.

Desde 2019 no line up do evento, Isaac Silva teve o papel de “amadrinhar” a marca AZ Marias, através do projeto Sankofa. Liderado pelos coletivos Pretos na Moda e VAMO (Vetor Afroindígena na Moda), o projeto incluiu oito marcas comandadas por não brancos no line up e um casting com no mínimo 50% de pessoas negras, asiáticas e indígenas nas passarelas. Marcas consolidadas foram convidadas a “amadrinhar” as estreantes no evento. 

Com a coleção que celebrou a rainha angolana Nzinga da Matamba, Cintia Félix trouxe tanto peças justas corpo, quanto uma contraposição com peças oversized, criando uma relação de contradição e às vezes harmonia entre o feminino e o masculino, o fashion e o street style. Com estamparia autoral, Félix trouxe referências à rainha angolana.

Peças de Isaac Silva para a 51ª edição da SPFW. (Flora Negri e Juh Almeida/Divulgação)

Dentre as novidades da semana de moda, a estreia da primeira marca de joias, Esfér. Com peças sem gênero, foram exibidos anéis, brincos, colares, pulseiras e ear cuffs, desenvolvidos pela dupla João Viegas e Aldo Miranda. A apresentação contou com uma performance de dança, espetáculo de circo, contracenado por artistas de roda cyr e tecido acrobático, além da participação de um robô, que contracenou com a modelo Bruna Di.

O evento trouxe ainda estilistas de edições passadas, como Wilson Ranieri. Com uma apresentação crua, Ranieri, trouxe as coleções em 360º, sem um storytelling e superprodução. Um diferencial que trouxe à atenção. 

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