Speakeasy, ainda faz sentido? (zxvisual/Getty Images)
Bartender
Publicado em 31 de março de 2023 às 10h51.
O ano era 1920, o primeiro dos 13 anos de vigência da Lei Seca nos EUA, com Al Capone e outras figuras faturando centenas de milhões de dólares na ilegalidade.
A lei seca foi criada por princípios morais, mas que, além da criação dos speakeasies, serviu para o desenvolvimento de uma rede de distribuição de ilícitos. Como consequência, houve a fundação de toda a base da máfia nos EUA, com produção clandestina e de qualidade duvidosa de bebidas alcoólicas, além da transformação de Cuba em quintal de diversão dos norte americanos e uma migração de bartenders para outros cantos do mundo, principalmente Europa, levando para lá a cultura da coquetelaria.
Os speakeasies surgiram dentro da máxima obscuridade, como um lugar que secreta e discretamente vendia bebida alcoólica durante o período em que a lei vigorou. Simples assim: um bar escondido.
E encontrar um speakeasy não era algo fácil. Afinal, beber era imoral e ilegal, então precisava de muito conhecimento - e alguma influência - para se chegar na porta de um deles. E, ainda assim, não havia a certeza de nada, pois era necessário senha para entrar.
Eventualmente sou impactado por alguma publicação ou matéria sobre speakeasies. Penso que não faz muito sentido um post patrocinado me contando sobre um lugar supostamente secreto. Enfim, mas porque ainda abrem bares com esse conceito? Simples, existe uma aura em cima dessa história.
Aqui no Brasil, há uns 15 anos, quando os primeiros speakeasies surgiram, o conceito que se manteve igual ao original foi o de serem lugares que vendem coquetéis. Não havia algo que fosse assim, suuuuper escondido. Tentou-se uma ou outra maneira de divulgação mais secreta, com aquele charme nova-iorquino.
- Mas, Alê, deve ter algum motivo para chamarem de speakeasy, certo?
Em parte sim.
Por aqui, um speakeasy acabou se tornando um bar dentro de um restaurante, ou um espaço vizinho de algum lugar bombado, como um anexo, mas que para trazer essa chancela de coquetelaria usam o nome. Isso foi o mais importante! A coquetelaria começou a ser o centro de atenção. Mesmo que pareça contraintuitivo.
Foi um resgate de um termo para dar a impressão de algo que não é, na prática, mas que na teoria funciona muito bem para os clientes, pois tem um fator importante na hora de criar um negócio: a tal história da ideia, do conceito, o mistério. Aquele pezinho na ilegalidade que torna a vida mais excitante. E, também, quem não gosta de contar vantagem sobre a descoberta de um bar super descolado que serve ótimos drinks e que ainda ninguém conhece?
Entendo que, para ter sucesso, nem todos os lugares precisam de uma historinha descolada por trás, evidente. Mas isso ajuda, e muito! E os “speakeasies” (entre aspas mesmo) foram um importante fator para o desenvolvimento da coquetelaria por aqui também.
Se quiser saber quais os lugares que eu gosto e que têm uma história bacana, me escreva no Instagram que o meu espaço aqui já acabou.
E respondendo a pergunta do título: acho que os speakeasies não fazem sentido pela ideia e conceito esquecidos, mas gosto de qualquer forma por termos mais um lugar para beber. Ainda bem!
*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião de Exame.