Identificar e correlacionar os sintomas é uma tarefa para especialistas (Westend61/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2022 às 10h11.
Por Theo Webert*
O burnout tornou-se um tema do qual muito se fala, pois reflete uma realidade bastante atual. Descrito nos anos 1980 por um psicólogo estadunidense, foi observado em atividades profissionais que se desenvolvem sob pressão, como em profissionais da área da saúde como médicos, enfermeiros e socorristas.
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Esse grupo se expandiu para vários outros setores de atividade e podem também ser decorrentes das condições de trabalho altamente competitivas, e do uso da tecnologia que acarreta novas demandas, e nos deixa acessíveis constantemente por estarmos sempre conectados e acessíveis.
Também chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional, o termo burnout deve ser utilizado para descrever apenas as experiências profissionais relacionadas com o ambiente de trabalho, conforme alerta a OMS. É uma resposta constante de estresse, decorrente dessa relação e das condições de trabalho, que leva à exaustão física, mental e emocional.
Clinicamente, é considerado uma síndrome, um conjunto de sinais e sintomas que um indivíduo apresenta, associada à atividade profissional e ao ambiente de trabalho. Os sintomas não são exclusivos do burnout e podem ser vistos em outras situações; por isso, é essencial que se faça um diagnóstico diferencial, por profissionais habilitados como psicólogos e psiquiatras, para que seja determinada essa correlação.
A OMS, em sua revisão de 2019, alterou a classificação de burnout para fenômeno ocupacional; isto é, ligado ao desempenho da atividade profissional e não como uma doença ou distúrbio. Alterou também sua definição, que agora diz que é uma "síndrome resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho cujo controle não foi bem sucedido".
A nova definição do burnout é importante por validar os sintomas e o sofrimento das pessoas, aumentando a conscientização e a procura por tratamento. Lança ainda um olhar e um alerta sobre o ambiente de trabalho e como ele é estruturado, torna o burnout visível e o suporte ocupacional uma realidade necessária.
Quando pensamos que estar continuamente sob estresse é parte inerente à vida moderna, nos tornamos reféns de uma reação que é normal ao nosso organismo, que nos prepara para reagir rapidamente frente a situações de perigo que exigem soluções rápidas, mas que deve ser uma resposta pontual, e que passado aquele momento, deve desaparecer.
Ao normatizar o estresse contínuo, podemos deixar que se torne um problema cada vez maior e mais difícil de ser atacado. No caso do burnout, essa resposta passa a ser constante e provoca cada vez menos reação da pessoa, como se nada pudesse fazer para controlá-lo e que nem mesmo exista motivo para tal.
Os sinais e sintomas principais do burnout são exaustão, ansiedade e depressão, manifestações psicossomáticas como enxaqueca, taquicardia, aumento da pressão arterial e alterações gastrintestinais, além de isolamento, distanciamento mental do trabalho e sentimentos negativos ou pessimistas, redução da eficácia profissional e ausências ao trabalho.
Um profissional especializado analisa o indivíduo e seus sintomas, a história desse paciente e sua relação com o trabalho e as condições em que esse se desenvolve, podendo assim determinar o diagnóstico diferencial correto, já que nem toda depressão, nem todo o estresse é burnout.
E quando se deve pedir ajuda? Se identificar e correlacionar os sintomas é uma tarefa para especialistas, podemos imaginar quão difícil se torna para o próprio indivíduo reconhecê-los e buscar ajuda. Por isso, o papel da família, dos amigos e colegas de trabalho é bastante importante pois podem observar as mudanças de atitude que ocorrem com a pessoa, sua eventuais alterações emocionais e as faltas ao trabalho.
A pessoa tende a minimizar os sintomas, seja por autoproteção, para não demonstrar fraqueza ao lidar com suas dificuldades, seja pelo receio de sofrer punições ou reações negativas no trabalho, o que contribui para que os sintomas e o sofrimento continuem presentes. Validar os sintomas e o sofrimento de um profissional é fundamental na busca da consciência pessoal por ajuda e pelo suporte ocupacional. E quando mais precocemente, melhor.
Em uma situação ideal, o ambiente de trabalho também deve se modificar, reconhecendo que gera condições negativas e sofrimento aos seus trabalhadores, causando inclusive perdas decorrentes das ausências e dos afastamentos. Porém, até que isso ocorra, a pessoa que busca ajuda e suporte terapêutico deverá encontrar mecanismos que permitirão que o trabalho seja encarado por ele com menos sobrecarga e mais saúde. Os sintomas do burnout são reversíveis e, quanto mais cedo for diagnosticado, mais eficiente será o processo de recuperação.
A psicoterapia é indicada para a identificação dos processos envolvidos na síndrome e o desenvolvimento de mecanismos que permitam lidar com eles e controlá-los. A terapia cognitivo comportamental é frequentemente utilizada e tem como objetivo modificar a reação do indivíduo aos comportamentos e pensamentos negativos que desenvolveu e a encontrar soluções para modificá-los, usando seus próprios pontos fortes e habilidades.
O uso de medicamentos para o controle dos sintomas de ansiedade e depressão pode ser necessário e deverá ser feito sob orientação médica.
Praticar exercícios regularmente, escolhendo preferencialmente aqueles não competitivos ajuda a reduzir o estresse, aumenta a sensação de bem-estar e a concentração de neurotransmissores naturais que atuam no cérebro de forma positiva.
Yoga, exercícios de relaxamento e meditação por exemplo, são atividades que, praticadas com regularidade, também potencializam o bem-estar físico e emocional, melhoram a concentração e reduzem os pensamentos negativos.
Essas práticas podem ser associadas aos tratamentos convencionais ou podem fazer parte de uma escolha individual por outras linhas de tratamento como a medicina chinesa ou a ayurvédica, que têm seus próprios diagnósticos e tratamentos. Estes podem incluir a acupuntura, massagens manuais, dietoterapia, exercícios respiratórios, uso de chás e terapêuticas específicas.
Os tratamentos podem ser encontradas na clínica particular e no sistema público de saúde. O SUS disponibiliza tratamento integral e gratuito do burnout. Através do primeiro atendimento em UBS, a pessoa é encaminhada aos centros especializados de tratamento psicoterápico e clínico, se confirmado o diagnóstico.
O SUS disponibiliza também os recursos terapêuticos que buscam a prevenção de doenças e a recuperação da saúde, através do PICS - Práticas Integrativas e Complementares, institucionalizados pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, que envolve medicina chinesa e acupuntura, medicina antroposófica, homeopatia, entre muitas outras, podendo estar presente em todos os pontos da Rede de Atenção à Saúde.
É importante saber que o trabalhador tem seus direitos trabalhistas e previdenciários garantidos pela legislação que inseriu a síndrome no regulamento da Previdência Social. Tem direito às faltas ao trabalho com atestado médico, ao afastamento por licença médica, ao auxílio-doença e à estabilidade por 12 meses, após o afastamento para tratamento do burnout.
Até aqui falamos da saúde do profissional, como melhorar seus sintomas e a forma como encara o estresse no trabalho, como aumentar sua resiliência e a resposta aos estímulos estressantes usando estratégias de recuperação eficazes.
Deve-se ter em mente que se o burnout resulta da relação do profissional com o trabalho, deve-se procurar estratégias que modifiquem o outro componente dessa relação. O ambiente de trabalho e sua organização, os programas de reconhecimento profissional, a adaptação de cargos e da carga de trabalho são questões a serem também avaliadas e eventualmente modificadas, por poderem contribuir de forma preventiva,evitando o desenvolvimento dos sinais e sintomas apresentados por profissionais sob estresse constante.
*Médico formado pela Universidade Potiguar, Natal/RN, aprofundou-se nos estudos de áreas da medicina voltadas à visão do ser humano de maneira integral, baseadas na medicina tradicional chinesa e com o entendimento de que a alimentação muitas vezes está intrinsicamente relacionada com a saúde ou a falta dela. Realizou diversas especializações, inclusive internacionais, especialmente nos EUA (A4M, IFM ), sendo membro de sociedades voltadas ao estudo com esse foco.