Netflix: série documental "Carlos Alcaraz: Do Meu Jeito" (Divulgação/Divulgação)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 25 de abril de 2025 às 10h18.
Os dentes imperfeitos de Carlos Alcaraz vêm de família. Estão na boca do pai e dos irmãos, Alvaro, Sergio e Jaime. Quem acompanha tênis consegue lembrar, de olhos fechados, dos incisivos, caninos e molares do jovem tenista espanhol.
Esses dentes de cor natural, um contraste com as lentes de porcelana tão brancas das estrelas de futebol do momento, estão na memória dos torcedores porque o jovem tenista espanhol está sempre, ou quase sempre, sorrindo na quadra.
A importância da alegria de jogar é o ponto central da série Carlos Alcaraz: do Meu Jeito, que acaba de estrear na Netflix.
Os dentes abundantes, em uma boca que precisou crescer para acomodar as arcadas, são uma metáfora do jeito tão particular que o tenista nascido em Múrcia tem encontrado para realizar seu sonho, repetido por ele com bastante frequência ao longo dos três capítulos do documentário: terminar a carreira como o melhor tenista da história.
Para conseguir esse feito, para ser o melhor jogador de tênis de todos os tempos, Alcaraz precisa estar feliz. Não pode renunciar às alegrias comezinhas de ir à casa de um amigo ou de frequentar as mesmas festas de qualquer jovem de sua idade, diz ele, diz seu entorno.
Como fizeram, por exemplo, Rafael Nadal e Novak Djokovic, exemplos de abnegação por um objetivo maior no esporte. É disso, do começo da busca por esse feito gigantesco, que trata uma série que não tem plot twist, não tem tragédias, a não ser algumas derrotas um pouco mais doloridas, como sói acontecer com qualquer atleta, de qualquer modalidade.
O maior drama na carreira incipiente de Alcaraz são ataques de raiva que podem ser contadas nos dedos de uma mão, com um momento de fúria em particular que termina com uma raquete Babolat Pure Aero 98 destroçada na quadra dura do ATP de Cincinnati, alguns games antes de consumida a derrota ante Gael Monfils.
Ser o maior tenista da história é uma tarefa quase inconcebível para quem chega depois dos Big Three, como comenta John McEnroe na série. Roger Federer, Nadal e Djokovic venceram 66 Grand Slams no total.
Aos 21 anos, Alcaraz tem quatro desses troféus. Quantos torneios mais são precisos para destronar a trinca? É o ex-tenista Juan Carlos Ferrero, técnico de Alcaraz, quem faz essa conta. “Você precisa ganhar dois Grand Slams por ano, durante alguns bons anos. Se em algum ano você só ganhar um, no seguinte vai precisar ganhar três.”
É possível dizer que Carlos Alcaraz, o tenista de dentes esquisitos, mudou o tênis nesses poucos anos de profissional. Pode-se dizer que ele ressuscitou o drop shot, um recurso que andava esquecido em um esporte que vem crescendo de força e intensidade nas últimas décadas.
Mesmo Federer, o mais habilidoso dos Big Three, não dava deixadinhas com frequência. Hoje, é um recurso bastante usado pela nova geração para quebrar o ritmo de jogo e surpreender o adversário. A potência da direita de Alcaraz pode ser comparada à do argentino Juan de Del Potro. Sua extrema mobilidade diminui o tamanho da quadra para os adversários. Sua falta de pudor de comemorar com vontade os pontos decisivos se transformou em carisma.
Carlos Alcaraz tem, sobretudo, uma alegria que contrasta com a seriedade de seu maior rival até agora, o italiano Jannik Sinner. Quando está bem, o espanhol sorri até mesmo quando perde.
Motivado, ele parece uma criança em uma loja de doces, compara Federer em determinado momento. Nos 115 minutos da série, uma coisa fica bastante clara nos depoimentos de Alcaraz: ele vai preferir fazer qualquer outra coisa da vida se perder a capacidade de sorrir com todos os seus dentes.