Quentin Tarantino: "Sempre fiz meus filmes para mim. As demais pessoas são convidadas. Tenho certeza que eu gostaria muito (Pulp Fiction) se assistisse agora pela primeira vez", comentou o diretor (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2014 às 18h34.
Cannes (França) - O americano Quentin Tarantino é um dos cineastas vivos mais premiados e autor de inúmeros clássicos, como "Pulp Fiction: Tempo de Violência", "Cães de Aluguel" e "Bastardos Inglórios"", mas, sobretudo, é um obcecado pelo cinema - se possível rodado em 35 milímetros e tendo a música como protagonista.
"Sempre fiz meus filmes para mim. As demais pessoas são convidadas. Tenho certeza que eu gostaria muito (Pulp Fiction) se assistisse agora pela primeira vez", comentou Tarantino em uma - atípica - entrevista coletiva durante a 67º edição do Festival de Cannes, onde apresentará o filme de encerramento: "Por um Punhado de Dólares", de Sergio Leone (1964), em 35 milímetros.
Depois de 50 anos da estreia do filme, protagonizado por Clint Eastwood e que iluminou o gênero do "western espaguete", Cannes optou por prestar uma homenagem ao filme com a presença de Tarantino, referência do cinema de ação e premiado com a Palma de Ouro há 20 anos.
"Também (é o aniversário) dos filmes de ação como os que conhecemos agora, por exemplo, pondo a música em destaque, não só como fundo, mas quando a montagem é realizada em função da música", resumiu o cineasta diante de uma lotada sala de imprensa.
Filho de uma assistente social adolescente e de um estudante de direito, que se divorciaram pouco depois do casamento, Tarantino se apaixonou pelo cinema graças a sua avó, que, aos quatro anos, lhe levou para ver um filme de John Wayne em que ela tinha um pequeno papel.
Assim surgiu essa obsessão pelo cinema que lhe levou a trabalhar como "lanterninha" em um cinema pornô em Los Angeles, o Puschy Cat Theatre, e em uma videolocadora antes de começar a escrever ou rodar os filmes que, atualmente, aparecem como verdadeiras obras-primas.
"Só não faço uma trilha sonora original porque não quero contratar um compositor que nunca conheci e lhe dar a música do meu filme. Não confio tanto assim em ninguém", destacou entre risos o americano.
Tarantino falava a uma velocidade vertiginosa, tirava brincadeiras da cartola, era expressivo e amável e respondia com profusão sobre qualquer filme que perguntavam, ou seja, estava em um terreno que conhece muito bem.
"Nunca contei quantas filmes em 35 milímetros e 16 milímetros tenho, não quis pôr minha obsessão sob o microscópio", brincou o diretor que, quase todos os dias, se fecha em sua sala de cinema privada para ver algumas desses filmes.
E é que o cinema tem que ser filmado em filme, taxou o diretor, que, por sua vez, diz preferir deixar o formato digital para os diretores estreantes dar os primeiros passos na indústria. No entanto, segundo ele, até um telefone celular pode conseguir um resultado interessante com uma boa história.
"Depois, por que um cineasta estabelecido gravaria em digital? Não tenho a mínima ideia, simplesmente não compreendo", ressaltou o diretor, que considera que "o fato da maioria dos filmes não serem projetados em 35 mm torna essa guerra perdida".
"Projeção digital é ver televisão em público", afirmou Tarantino, que acredita que "não há esperança para esta geração, mas talvez para as próximas, exigir um cinema verdadeiro". "Talvez sejam mais inteligentes", completou.
Questionado sobre seus próximos projetos, Tarantino disse que desejaria terminar um roteiro que poderia ser transformado em filme, livro ou peça de teatro ou produzir uma minissérie a partir do material completo de "Django Livre", seu último filme.
"Tenho 90 minutos de "Django" que não foram exibidos e minha ideia é fazer uma edição de quatro horas, mas não como um filme, mas em capítulos de uma hora", apontou Tarantino, que considera curioso o fato do público ser reticente a ver um filme de quatro horas, mas consumir quatro capítulos de uma hora sem interrupção.