Bernie Ecclestone, promotor da Fórmula 1: "O traçado é um dos melhores do mundo, com certeza. Mas a estrutura à disposição do público e das equipes é a pior do calendário", disse sobre Interlagos (Clive Mason/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2013 às 10h06.
Xangai - São Paulo está próximo de ficar fora do calendário da Fórmula 1 em 2014. E dependendo da evolução dos fatos, o Brasil também ficará.
É o que afirmou Bernie Ecclestone, promotor do Mundial, ao jornal O Estado de S. Paulo, no último domingo, em Xangai, em entrevista exclusiva. "As promessas de reforma de Interlagos não foram cumpridas. Agora, chega. Não fosse a relação antiga e os sentimentos que me ligam ao Brasil, a Fórmula 1 já não estava mais lá."
Há muito Ecclestone vem exigindo da Prefeitura de São Paulo a adequação do autódromo às necessidades atuais da Fórmula 1.
"O traçado é um dos melhores do mundo, com certeza. Mas a estrutura à disposição do público e das equipes é a pior do calendário. Não é preciso ser como isto aqui (o circuito chinês de Xangai, que recebeu o GP da China no último domingo), mas deve atender às nossas necessidades operacionais."
O dirigente inglês, que levou a Fórmula 1 para o Brasil em 1972, disse que se colocou numa situação difícil com sua condescendência em relação à prova de São Paulo. "Não podemos mais cobrar nada dos outros autódromos com Interlagos ano após ano mantendo-se como está. Os demais administradores sabem o que é Interlagos, isso nos desmoraliza."
Segundo Ecclestone, os representantes das equipes dizem que não há espaço para guardar as panelas e os alimentos, e que as reuniões têm de ser feitas dentro dos boxes por causa da ausência de salas, dentre outros constrangimentos. "Nem em pistas de rua, como Mônaco, Melbourne e Montreal, enfrentamos essas dificuldades."
A equipe do ex-prefeito Gilberto Kassab realizou um projeto, definido junto com integrantes da FIA, para reestruturar o autódromo com a criação de nova área de boxes, salas, banheiros e paddock no início da Reta Oposta. Tudo segue o padrão de exigência da entidade. E incluiu o valor da obra, estimado em R$ 120 milhões, no orçamento da Prefeitura deste ano.
O atual prefeito, Fernando Haddad, contudo, não iniciou os trabalhos. "Este ano não espero mudanças. Mas se o autódromo não estiver na condição que a Fórmula 1 necessita em 2014 não iremos a São Paulo", garante Ecclestone.
O Brasil está fora, então, do calendário? "Se até antes da definição do calendário não tivermos garantias de o autódromo estar como exige a Fórmula 1, sim. Não vamos sequer usar o tradicional asterisco de sujeito a melhorias no autódromo. Temos de saber já antes, de São Paulo ou outra cidade do Brasil."
SANTA CATARINA DE OLHO - A primeira versão do calendário é distribuída, em geral, no fim de julho, e Ecclestone diz ter alternativas a São Paulo.
"Estive antes do Natal em Santa Catarina e confesso ter ficado impressionado com a disposição daquela gente em levar adiante o projeto de nos receber lá." A convite do governador do Estado, Raimundo Colombo, e um grupo de empresários, o dirigente viu de perto o que seria feito caso aprovasse a mudança do local do GP do Brasil.
"Acredito que se der o sinal verde eles iniciam imediatamente as obras. E o Rio de Janeiro também me procurou, mas lá seria um pouco mais difícil."
No caso de Santa Catarina, seria construído um autódromo concebido pelo arquiteto de quase todos os circuitos mais recentes do calendário, o alemão Herman Tilke, na cidade de Penha, no litoral Norte, integrado ao Parque Beto Carrero.
Essa mesma disposição de criar as condições para receber a Fórmula 1 Ecclestone disse não sentir nas autoridades de São Paulo. "Cansei das promessas. Fui informado de que a cidade não vai fazer parte da Copa das Confederações porque o estádio não estará pronto. Com a Fórmula 1 acontecerá o mesmo."