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"Saint Laurent" não se aprofunda no retrato do estilista

Com Gaspard Ulliel no papel-título, filme foi o escolhido pela França para representar o país no Oscar

Ator Gaspard Ulliel em cena do filme "Saint Laurent", Bertrand Bonello (Reprodução/Trailer)

Ator Gaspard Ulliel em cena do filme "Saint Laurent", Bertrand Bonello (Reprodução/Trailer)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2014 às 16h24.

São Paulo - Segundo filme sobre o famoso estilista francês lançado no Brasil neste ano, "Saint Laurent", de Bertrand Bonello, é um pouco melhor do que a outra cinebiografia, de Jalil Lespert, mas não muito.

Com Gaspard Ulliel ("Hannibal – A Origem do Mal") no papel-título, este novo filme foi o escolhido pela França para representar o país no Oscar, além de ter sido exibido em competição no Festival de Cannes.

Na primeira cena, vemos o estilista se registrando num hotel em Paris sob o pseudônimo de Swann (uma referência a Proust), e concordando em dar uma entrevista a uma publicação.

O filme, então volta no tempo em sete anos, para 1967, quando ele e sua equipe estão no seu ateliê, onde todos vestem jalecos brancos e se comportam como cirurgiões de cuja precisão vidas dependem. Saint Laurent está não apenas entediado, mas também sem inspiração.

Seria esse um reflexo do diretor (que assina o roteiro com Thomas Bidegain)? Indo e vindo no tempo, a narrativa avança em alguns momentos até o fim dos anos de 1980 – nessas cenas o protagonista, morto em 2008, é interpretado pelo veterano ator austríaco Helmut Berger.

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A contraposição do filme está na solidão melancólica do estilista com seu passado esfuziante, quando sua entourage incluía além de seu parceiro, Pierre Bergé (Jérémie Renier), também responsável pela administração do ateliê, uma modelo (Aymeline Valade), e uma espécie de melhor amiga e agregada, Loulou (Léa Seydoux).

"Saint Laurent" acompanha o grupo entre uma loucura boêmia e outra – e depois da terceira ou quarta noitada numa boate com álcool e drogas, fica bem claro que Bonello ("L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância") não tem muita noção do que quer fazer de seu filme.

Biografia é um gênero complicado: conta-se a vida toda do biografado? Concentra-se apenas num momento? Na ascensão? No declínio? Bonello não se decide, talvez porque fora as roupas que criou não exista muito de peculiar na vida de Saint Laurent.

O filme dá meros lampejos de como ele revolucionou a moda (isso, aliás, parece uma verdade absoluta, mas nunca muito explicada) ou o que isso significa para o mundo.

Num raro momento, quando o diretor coloca (literalmente) lado a lado, numa tela dividida, o conturbado final dos anos de 1960 e as criações de YSL, a moda sai perdendo ao se mostrar tremendamente alienada diante dos incendiários movimentos nas ruas do mundo todo.

Todo o esforço de um estilista – e, nesse caso, não apenas Saint Laurent – está em apagar o trabalho que existe por trás da roupa: desde muito antes de se tornar uma peça caríssima e exclusiva.

Bonello pode se identificar com esse papel: afinal, o trabalho de um cineasta não está tão distante desse preceito – quantos diretores são exatamente uma grife? Nesse sentido, aqui o cineasta está tão apaixonado pelo material que parece ter dificuldade em abandoná-lo.

O filme parece ter acabado uma boa meia-hora antes de finalmente terminar. As cenas com um dos amantes do estilista – interpretado pelo queridinho do cinema francês, Louis Garrel – parecem desnecessárias em sua duração, por exemplo.

Sem ter muito a acrescentar ou algo a iluminar, falta ao filme de Bonello um distanciamento crítico, em relação ao personagem, à moda, aos tempos que pretende retratar. O que sobra são personagens vazios de vida, de intenções, incapazes de despertar muito interesse.

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