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Risoto em risco: seca histórica ameaça um dos patrimônios gastronômicos da Itália

Ao longo dos anos, produtores passaram a utilizar uma técnica que usa menos água de irrigação e mão de obra

A Itália é o maior produtor de arroz da Europa, cultivando cerca de 50% do montante (Serafina/Divulgação)

A Itália é o maior produtor de arroz da Europa, cultivando cerca de 50% do montante (Serafina/Divulgação)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 29 de fevereiro de 2024 às 09h20.

Um dos maiores patrimônios gastronômicos da Itália e muito apreciado no mundo corre sérios riscos. Por causa da crise climática, a produção e a colheita do arroz especial para essa iguaria estão ameaçadas.

A Itália é o maior produtor de arroz da Europa, cultivando cerca de 50% do montante da UE. A maioria de seus campos de arroz está no vale do rio Pó, que se estende por grande parte do norte do país. É nesses campos que as variedades exclusivas de arroz para risoto, como o carnaroli e o arborio, são cultivadas.

De acordo com reportagem do The Guardian, o volume de chuva caiu 40% nos primeiros seis meses do ano na Itália, provocando uma queda de 88% na quantidade de água que chega ao rio Pó, o maior do país.

Já em 2022, o mesmo rio teve sua pior seca dos últimos 200 anos. Naquele ano, a Itália perdeu 26.000 hectares (26 mil campos de futebol) de plantações de arroz, de acordo com a Ente Nazionale Risi, a autoridade nacional de arroz. A produção Caiu mais de 30%. No ano passado, a seca persistiu e a safra de outros 7.500 hectares foi perdida.

Filip Haxhari, pesquisador do Ente Nazionale Risi, disse ao jornal britânico que, devido à seca prolongada, a produção do arroz tipo carnaroli caiu 50% em 2022. "Somente o carnaroli e outras variedades semelhantes têm uma característica genética que lhes permite absorver temperos, aromas e condimentos e criar o risoto tradicional", explicou. "É diferente de todas as outras variedades de arroz do mundo."

Francesco Avanzi, hidrólogo da fundação de pesquisa Centro Internacional de Monitoramento Ambiental explicou ao The Guardian que a seca do Pó de 2022 foi causada principalmente por altas temperaturas e baixa queda de neve nos Alpes. Quase dois terços de toda a água que flui para o rio Pó ao longo do ano vêm do derretimento da neve dos Alpes.

Em 2022, os recursos hídricos vindos da neve nos Alpes caíram cerca de 60% em relação à média da década anterior. "O inverno de 2021-2022 foi o pior, mas o de 2023 foi semelhante", disse Avanzi. De acordo com os dados mais recentes, em fevereiro os recursos hídricos da neve caíram 63%.

Enquanto isso, produtores de arroz seguem lutando para se recuperar do impacto da seca. Nos últimos anos, um número cada vez maior de produtores de arroz no norte da Itália adotou a "semeadura a seco", técnica que usa menos água de irrigação e mão de obra, mas que também contribui para um solo cada vez mais seco, de acordo com alguns especialistas. 
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