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Rio recebe maior exposição de Salvador Dalí já vista na AL

Mostra exibe toda a carreira do mestre do surrealismo por meio de 150 peças, incluindo 30 pinturas, 80 desenhos, documentos, fotografias e filmes


	Salvador Dalí: "A ideia é mostrar o Dalí como um artista total", diz curadora
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Salvador Dalí: "A ideia é mostrar o Dalí como um artista total", diz curadora (AFP)

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Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2014 às 09h49.

Rio de Janeiro .- Foram 16 anos até que os cariocas pudessem ver novamente uma mostra do pintor espanhol Salvador Dalí, mas a espera valeu a pena: a partir desta sexta-feira (30), o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio de Janeiro, recebe a maior retrospectiva da obra do pintor já vista na América Latina.

A partir de 150 peças, incluindo 30 pinturas, 80 desenhos, documentos, fotografias e filmes, a curadoria da espanhola Montse Aguer, diretora do Centro de Estudos Dalinianos da Fundação Gala-Salvador Dalí, perpassa toda a carreira do mestre do surrealismo.

De semelhança com a mostra "Dalí Monumental", no Museu Nacional de Belas Artes, em 1998, a mostra "Salvador Dalí" só tem o tema, avisa em entrevista à Agência Efe o gerente-geral do CCBB, Marcelo Mendonça.

"A diferença é total. Aquela exposição (que teve 34 obras) era do acervo privado de um colecionador. Aqui, estamos expondo o acervo das três principais instituições colecionadoras de Dalí: o Museu Rainha Sofia, de Madri, o Museu Salvador Dalí de St. Petersburg, na Flórida (Estados Unidos) e a Fundação Gala-Salvador Dalí, de Figueres (Espanha)", dimensiona Marcelo.

"A ideia é mostrar o Dalí como um artista total", esclarece Montse Aguer, e Marcelo acrescenta: "Que é como ele se pensava, enquanto artista".

Do amplo recorte, quase todas as obras são inéditas no Brasil: "apenas uma, "As sombras da noite que cai" (1931), já havia sido vista por aqui. Além de inédito, esse acervo é raro, precioso, da coleção particular dele".

Dois marcos influenciaram a escolha deste mês para a megaexposição: além de o CCBB estar comemorando 25 anos, os espanhóis viram na Copa do Mundo, que começa em 15 dias, uma grande oportunidade para atrair o público do mundo inteiro para a obra do gênio catalão.

"A Copa nos ajudou a trazer essa exposição. Existe uma grande demanda no mundo por exposições do Dalí, mas os espanhóis quiseram estar aqui durante o Mundial, que é uma vitrine para todos, e para Dalí também", conta o gerente do CCBB, que diz estar curioso sobre a receptividade do público esportivo.

"Estou na expectativa para saber se o turista da Copa é o mesmo que vai ao museu. A gente espera que sim, e vamos nos esforçar para que as pessoas, quando não estiverem no estádio, deem uma passadinha aqui e vejam a exposição", conta.

Quando o assunto é expectativa de público, a mostra, que fica em cartaz até 22 de setembro, quando vai para São Paulo, também é ambiciosa: "Não gosto de falar em números, mas espero que supere a marca de uma exposição quase idêntica em 2012 no Centro Georges Pompidou, em Paris. E foram 700 mil visitantes", revela Marcelo, que não descarta retomar os "viradões", com portas abertas até a madrugada, se for preciso.

A retrospectiva ocupa 12 salas do primeiro andar do prédio, área equivalente a mil metros quadrados, além de uma instalação no térreo - que só não ocupou a famosa cúpula do centro cultural "para não interferir em outra exposição", explica Marcelo.

Toda essa imponência exigiu anos de trabalho: desde 2009, o Instituto Tomie Ohtake, de São Paulo, negocia a vinda da exposição, mas foi mesmo a entrada do CCBB, recentemente, que garantiu sua realização.

O transporte das obras também exigiu cuidados especiais. Tanto da Espanha quanto dos Estados Unidos, os acervos vieram sempre distribuídos em ao menos dois aviões, cujos voos tiveram horários e destino guardados a sete chaves, e em caixas climatizadas.

A organização não revela o valor do seguro, mas o investimento total no evento ficou em torno de R$ 9 milhões - captados pelo Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet, e com patrocinadores privados.

No percurso do Dalí adolescente (a primeira obra é de quando contava 16 anos), provando estilos e técnicas como um adolescente comum prova bebidas, até o Dalí surrealista e midiático, o público verá ângulos menos conhecidos do pintor.

"As pessoas vão ver muito surrealismo, claro. Mas a ideia foi mostrar o artista em sua totalidade", lembra Marcelo. "Ele foi muito além da pintura: trabalhava com desenho, gravura, fotografia, cinema, era um pensador, ilustrador. E também flertou com ouros estilos, como o cubismo".

Entre as obras de maior importância artística, estão "El sentimento de velocidad" (1931), "Monumento imperial a la mujer-niña" (1929), "Figura y drapeado em um paisaje" (1935) e "Paisaje pagano medio" (1937).

O cuidado na apresentação vai além da ordem cronológica e da cenografia. No clímax da exposição, que é mesmo a fase surrealista, tudo foi pensado para criar um ambiente mágico, sem cair em exageros. É o que conta a curadora Montse Aguer.

"A mostra tem certo formato labiríntico", explica Montse. A sensação de estar levemente perdido foi materializada com paredes que surgem de repente - que não estão na planta original do CCBB: "Ao entrar em uma sala, o espectador não vê sua totalidade e, à medida que vai caminhando, descobre novas obras", descreveu a especialista.

Mas o ponto alto da cenografia ficou a cargo da iluminação, fortemente dramática a partir da sexta sala, quando a luz do espaço cai e os spots iluminam rigorosamente apenas as telas, gerando um intrigante efeito 3D: as telas parecem saltar dos quadros.

Não por acaso. Nas palavras da curadora Aguer, "a intenção é criar o ambiente que há em sua obra. Queremos ajudar as pessoas a entrarem no mundo imaginário de Dalí, com essa atmosfera de enigma e mistério".

Além das salas dedicadas à subversão do realismo, recheadas de elementos da iconografia de Dalí, como relógios, sapatos, muletas, a paisagem desértica da Catalunha e a onipresente musa e alma-gêmea Gala, o público verá fotografias do dia a dia do autor e capas de revistas.

O conteúdo multimídia tem trechos dos filmes "O cão andaluz" (1929) e "A idade do ouro" (1930), que co-dirigiu com Luis Buñuel; o curta "Destino", criado em parceria com Walt Disney, e uma cena-quadro de valor inestimável em "Quando fala o coração", de Alfred Hitchcock, na qual o surrealista descreve (com imagens, claro), um sonho ao analista.

Mas são as gravuras que mostram um Dalí mais introspectivo, lírico, profundo, a maior surpresa para o grande público. As obras ilustraram edições de gigantes da literatura mundial, como "O velho e o mar", de Ernest Hemingway, "Alice no país das maravilhas", de Lewis Carroll, "Fausto", de Goethe e, como não poderia deixar de ser, "Dom Quixote de La Mancha", do conterrâneo Miguel de Cervantes.

Ao fim da exposição, a instalação "Rosto de Mae West utilizado como apartamento", uma réplica penetrável do famoso quadro, convida o público a sacar o celular e fazer selfies, o que não deixa de lembrar uma das principais características de Salvador Dalí: a adoração pela própria imagem traduzidas em caras e bocas. Mais atual, impossível.

Atualizada às 08h49

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